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“SAPATEIRO, NÃO VÁS ALÉM DE TUAS SANDÁLIAS!” –

APELES, célebre pintor da Grécia antiga (século IV A.C), destacava-se pelo seu grande senso de humor e presença de espírito. Segundo a História, partiu dele o inteligente provérbio: “SAPATEIRO, NÃO VÁS ALÉM DE TUAS SANDÁLIAS”.

Após terminar a pintura de um belo quadro, o famoso pintor APELES, desejoso de conhecer a opinião do homem da rua sobre a sua obra, colocou-a exposta num lugar público, onde os transeuntes pudessem apreciá-la à vontade. Procurou, então, esconder-se atrás do quadro, de forma que lhe fosse possível ouvir os eventuais comentários.

Um sapateiro, que passava pelo local, parou para observar a pintura, e fez uma crítica em voz alta, a um possível erro cometido pelo pintor, com relação às sandálias de uma das personagens. A crítica chegou aos ouvidos do artista, que a considerou construtiva, ao saber que aquele homem era um sapateiro profissional.

APELES saiu do esconderijo, agradeceu a observação do sapateiro e ali mesmo procurou corrigir o seu erro. Modificou, então, as sandálias da personagem.

O sapateiro, lisonjeado com o resultado da sua crítica, procurou voltar ao local no dia seguinte, e depois de observar novamente o quadro, fez outro comentário, que, dessa vez, nada tinha a ver com o seu ofício de sapateiro. O homem fez, então, uma crítica às pernas da personagem.

Diante do incabível comentário, APELES ficou indignado, irritou-se profundamente, e gritou em alto e bom som:

“SAPATEIRO, NÃO VÁS ALÉM DE TUAS SANDÁLIAS”!

O grande artista APELES repreendeu, então, o sapateiro, aconselhando-o a somente emitir opinião sobre assuntos da sua competência. O sapateiro retirou-se contrariado, e nunca mais teve a ousadia de opinar em assuntos dos quais não entendesse.

Essa história tem atravessado séculos e continua se propagando até os dias atuais.

A célebre frase de APELES ainda hoje é empregada, quando alguém, que se considera a pessoa mais inteligente do mundo, insiste em emitir opinião sobre temas que fogem à sua capacidade intelectual. Esse é o tipo de pessoa que se acha capaz de ensinar, até, o “Pai-Nosso” ao Vigário.

Como acontece com várias outras figuras de destaque dessa época remota, poucas informações sobre Apeles chegaram até os dias atuais. Não se sabe o nome exato da sua terra natal, nem suas datas de nascimento e morte. Além disso, nenhuma de suas pinturas sobreviveu.

Apesar de todas essas lacunas em sua biografia, sabe-se que Apeles se tornou um célebre discípulo do pintor Pânfilo, na escola dórica de Sicion, no sul da Grécia. Seus trabalhos são descritos como uma combinação da precisão dórica com a elegância jônica. Foi pintor na corte de Filipe da Macedônia e depois na de seu filho, Alexandre o Grande, executando diversos retratos deste, com o intuito de perpetuar sua imagem.

Plínio, o Velho (em sua História Natural), Estrabão, Luciano de Samósata, Ovídio, Petrônio e outros autores deixaram informações suficientes sobre sua vida, todos considerando-o o mais importante pintor da antiguidade.

Tais descrições permitiram ainda que Apeles exercesse uma influência de modo indireto nos pintores da Renascença, pois é graças a esses textos que temos uma ideia, ao menos bem construída, sobre suas principais obras: foi, por exemplo, através de uma descrição detalhada feita por Luciano de Samósata, que Sandro Botticelli, quase 1800 anos depois, buscou recriar uma das pinturas do mestre grego, na sua obra intitulada “Calúnia de Apeles”.

Além dessa recriação, acredita-se, hoje em dia, que duas obras escavadas em Pompeia, a Afrodite Anadyomene (Afrodite emergindo do mar) e o mosaico retratando Alexandre, investindo contra as tropas de Dario I, sejam réplicas de obras suas, famosas em todo o mundo antigo. A pintura decora uma parede de uma das casas e o mosaico estava na soleira de outra casa. Atualmente, encontra-se em um museu).

Segundo Plínio, o Velho, Apeles era bastante receptivo às críticas, desde que fossem feitas por alguém capacitado para isso. Daí, a sua célebre frase, que se tornou um provérbio, e que, já tendo atravessado séculos, continua sendo muito verdadeira.

“Ne supra crepidam sutor judicare”, ou seja:

“SAPATEIRO, NÃO VÁS ALÉM DE TUAS SANDÁLIAS”!

 

 Violante PimentelEscritora

 

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