ARTIGO: Violante Pimentel

CONFÚCIO –

Nascido no ano 551 antes de Cristo, o chinês  Ch’iu K’ung, que se tornou conhecido como Confúcio, ainda hoje, é considerado um dos maiores sábios que existiram no mundo. Foi um mestre eterno do pensamento.

É venerado na China, acima de todos os outros entes da terra. Em todas as cidades chinesas há templos onde é cultuado. Esses templos são sempre localizados em edifícios suntuosos, e as suas paredes são pintadas de vermelho. Em todas as primaveras e outonos, a eles comparecem altos funcionários chineses, para prestar homenagem solene ao pensador, e ao pé dos altares depositam, como oferendas, os frutos da terra, e queimam incenso.

Para venerar Confúcio, o próprio imperador, no tempo em que a China era um Império, ajoelhava-se, no templo, duas vezes e três vezes inclinava a cabeça.

De acordo com os costumes do seu país, Confúcio casou muito novo. Aos vinte anos, já era pai. Começou a vida profissiona dedicando-se ao exército, mas estudando sempre história e filosofia. Logo cedo, revelou o desgosto pelo sistema de vida que levavam os seus compatriotas. Aos trinta anos, já era célebre, e de todo o país iam estudantes ouvir as suas doutrinas. Chegou a ser o Juiz Supremo da Nação, e como tal, segundo os historiadores, quase conseguiu suprimir os crimes.

Em certa ocasião, mandou executar um delinquente. Não obstante, era contrário à pena de morte. Na sua opinião, os criminosos só tinham chegado a sê-lo, porque o Estado não tinha cuidado em educá-los na infância.

Quando um discípulo lhe perguntava como se podia obter um bom governo, dizia Confúcio que os governantes deviam evitar o grave erro de não instruir o povo e castigá-lo depois, o que representava uma cruel tirania.

Porém, como acontece sempre aos grandes homens, Confúcio, apesar de ser tão bom, tão sábio e honrado, teve muitos inimigos, que o obrigaram a pedir a sua demissão como Ministro ou Juiz Supremo. Pôs-se, então, a viajar e, durante muitos anos, andou de uma para outra província, acompanhado de seus discípulos. Mostrava-se sempre disposto a aconselhar os príncipes que encontrava e até lhes oferecia o seu auxílio, para que governassem segundo os seus princípios. Era tão bom e tão sábio, que os príncipes não o compreendiam. Entretanto, teve sempre discípulos fieis, por quem foi amado e a quem amou, consolando-se assim da ingratidão  do seu povo.

Muito tempo depois, quando estava quase com setenta anos, Confúcio regressou ao reino de Lu, onde tinha governado. Ali, permitiram-lhe que voltasse à corte, não como funcionário, mas como particular, a quem todos pediam conselhos nos momentos difíceis.  Nessa condição, passou os últimos cinco anos da sua vida escrevendo, apesar de nenhum dos seus escritos se ter conservado. Temos, então, que dar crédito aos seus discípulos,  a respeito do seu ensino.

A notícia chinesa sobre a morte de Confúcio, aos setenta e três anos, foi assim traduzida:

“Levantou-se muito cedo, e com as mãos atrás das costas, ia passeando, seguido de seus discípulos, por diante da porta de sua casa, ao mesmo tempo que dizia, com voz lacrimosa:

“A grande montanha há de abater-se; a viga mais forte quebrar-se-á; e o homem sábio acabará murchando-se como uma flor.”

Depois, entrou em casa e sentou-se próximo à porta.

O  discípulo Tsze Kung ouvira as palavras do mestre e disse para si mesmo:

“Se a montanha há de abater-se, para onde é que devo olhar? Se a viga mais forte há de quebrar-se, em que é que devo apoiar-me? Se o homem sábio há de murchar-se como uma flor, a quem devo imitar? Temo que o mestre esteja doente.”

E deitou a correr para sua casa. O mestre, ao vê-lo, disse-lhe:

“Que fazes aqui tão tarde? À noite passada sonhei que estava sentado entre as oferendas dedicadas aos mortos. Acabaram-se os reis discretos, e qual das criaturas, que vivem sob a imensa abóbada azul, me aceitaria como mestre? Creio que vou morrer.”

Ao dizer isto, deitou-se na cama. Esteve enfermo durante sete dias, e por fim morreu.

Confúcio morreu triste, porque a desilusão tinha amargurado a sua alma. Os grandes do império não tinham recebido o seu ensino. Ao chegar às portas da morte, considerou que nenhum êxito tinha obtido nos seus esforços e ideais. A história da humanidade está cheia desses casos.

Confúcio não se detinha na religião. Não expressava uma ideia fixa de Deus, nem da outra vida. Nesse sentido, não foi um verdadeiro mestre espiritual. Era um homem prático, muito atento às coisas deste mundo. O confucionismo, portanto, não está no mesmo nível do budismo, que é uma verdadeira religião. Confúcio limitou-se a ensinar aos homens a viver bem a sua vida mortal.  Ensinou que a bondade vale por si mesma, e que constitui também a melhor política. Quanto à vida futura, Confúcio não usou de promessas ou ameaças. Não prometendo nada para outra vida, o confucionismo pede que os homens sejam bons pela única satisfação de o ser. Confúcio elevou-se a esta ideia sublime, de que a moralidade é o primeiro princípio do universo. “O céu e a terra são grandes, sem dúvida,” dizia ele; “no entanto, o homem acha neles também imperfeições.”

Uma das virtudes que ele mais pregou foi a de amar e respeitar os pais, tal como na nossa religião. “Lembrai-vos de um dos nossos mandamentos: “Honrarás a teu pai e a tua mãe.” “Aos pais, dizia Confúcio, só deve ser permitida uma dor: a de ver seus filhos enfermos.”

Algumas sentenças de Confúcio:

-Aquele a quem a calúnia, que penetra lentamente, não consegue ferir, e a quem tão pouco fazem dano as frases insidiosas é um homem inteligente. Com efeito, o homem que permanece impassível, ante a calúnia e a difamação, é um homem que vê a realidade das coisas.

-Não retificar um erro cometido é cometer outro erro.

-Amemos os outros como a nós mesmos; sintamos as suas dores e as suas alegrias, como se fossem as nossas dores e as nossas alegrias. E quando quisermos para eles, o mesmo que queremos para nós; e quando temermos para eles, o mesmo que para nós tememos, – então seguiremos as leis da verdadeira caridade.

Violante Pimentel – Escritora

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