AS AMARRAS DE 2021 –
Acompanhando as mais recentes notícias, comentários de especialistas, participando de conversas informais sobre a situação atual, tenho comigo que este ano não será como esperávamos.
Tenho minha própria visão da situação que, infelizmente, apresenta questões ainda mal resolvidas.
Quero deixar claro que não estou buscando culpados, tampouco colocar minha visão como se especialista fosse, colocando apenas algumas questões em que as respostas ainda não foram satisfatórias.
Em artigos anteriores me posicionei com relação às dificuldades por que passa nossa economia, bem como a questão da pandemia.
Alertei que era de se esperar uma segunda onda de contaminação por conta da falta de distanciamento social.
Como consequência coloquei a provável necessidade de uma prorrogação deste auxílio, quer para pessoas, quer para empresas e teci algumas considerações sobre alternativas, ortodoxas ou não, e a questão do teto de endividamento.
Iniciamos o ano na expectativa das vacinas que, apesar de todo o atraso, já estão disponíveis.
Essa disponibilidade nos trouxe de volta a esperança de conter a pandemia e, em algum momento, voltarmos a uma certa normalidade no cotidiano.
A partir dessas colocações temos novos acontecimentos que prenunciam um ano bastante difícil.
As vacinas disponíveis no momento não permitem a vacinação em massa da população, teremos um longo tempo de convívio com o vírus até que tenhamos boa parte da população imunizada. Isso com certeza se arrastará ao longo desse ano.
Já encontramos novas cepas mais agressivas e, segundo especialistas, cepas que podem reduzir a eficácia dos imunizantes disponíveis, isso demandará e adequação desses fármacos às novas cepas.
Isso não impede que continuemos com o plano definido até então, ainda que tenhamos sérios problemas de logística, teremos que estar atento a essas evoluções do vírus, isso demanda maior sequenciamento genômico que é incipiente diante de tão severa pandemia.
Não investimos em pesquisa, equipamentos e capacitação de mão de obra, o que é fundamental.
Estamos em um voo cego, tateando ainda no entendimento do vírus e sua capacidade de mutação, bem como das eventuais sequelas que podem remanescer.
Ainda nessa questão temos visto transferência de pacientes com as novas cepas sem o devido isolamento. Isso pode causar uma nova onda de contaminação muito mais severa do que a atual. Já temos isso demonstrado tanto aqui quanto no exterior.
Tenho a convicção que conviveremos com o vírus ao longo deste ano, talvez com menos vítimas mas, com certeza, ainda dentro de restrições sanitárias.
Outra questão que está hoje na berlinda é a retomada das aulas, isso em todos os níveis.
Já tivemos um ano praticamente perdido sem que providencias tivessem sido encaminhadas prevendo as dificuldades que por hoje passamos.
Especialmente na escola pública onde o universo de alunos é bem maior.
Os alunos mais afetados são do ensino fundamental e o médio que pode, mais uma vez, ficar sériamente comprometido com relação ao aproveitamento e a evasão escolar.
Esse público não dispõe das mesmas facilidades que têm os alunos de escolas privadas.
Sou da opinião de se manter a escola em funcionamento com protocolos severos, nas salas e intervalos, ainda que tenhamos dificuldades para que isso ocorra.
Passamos o ano de 2020 com aulas à distância, improvisado, mesmo sabendo que a grande maioria não dispunha de recursos para acompanhamento e, a bem da verdade, nenhuma providência para este ano foi efetivamente planejada e colocada em prática.
Não cabe aqui responsabilizar este ou aquele gestor, cabe sim cobrar urgentes providências factíveis para que não percamos mais um ano.
A inação comprometerá seriamente o aprendizado que dificilmente será recuperado.
Temos que tomar medidas concretas para resolver essa questão custando o que custar, a ausência destas trarão consequências nefastas.
Como não poderia ser diferente, acabamos por recair no assunto de sempre, a economia.
Não tenho dúvidas que este ano será um pouco melhor porém, questões que poderiam ter sido resolvidas com a devida antecedência ainda se arrastam.
Perdemos tempo importante aguardando a renovação do comando do congresso aliás, como sempre, somos uma nação sempre numa eterna espera.
Ora esperamos reformas, em outro momento eleições, mais a frente a pacificação desta ou daquela situação, não vejo avanços na velocidade que necessitamos nem tampouco um comprometimento efetivo com as necessidades da população. Esta é a forma que pessoalmente vejo os acontecimentos.
O início deste ano já demonstrou nova queda nos indicadores econômicos por conta do fim do auxílio emergencial, não poderia ser diferente e, apesar de presumível, não houve antecipação de providências e sequer planejamento para tal.
Devido a pressão geral sobre os atores políticos novo período de auxílio está sendo previsto sem ainda valores e amplitude definidas. Gerando ainda discussões e impasses em sua definição e abrangência.
Uma nova PEC de guerra ou outra conotação qualquer deve ser votada para dar amparo jurídico a essa despesa, diga-se de passagem não prevista no orçamento, que sequer foi aprovado.
Não poderia deixar passar em branco fato relacionado ao assunto objeto de votação pelo Supremo no ano que se foi.
O STF julgou inconstitucional a redução da jornada de trabalho com a consequente redução salarial dos funcionários públicos que, na época, dariam um alívio nas contas públicas por conta do auxílio emergencial para pessoas e empresas então em curso.
Pois bem, cabe aqui uma sugestão: porque não votar uma PEC autorizando essa redução envolvendo os três poderes enquanto durar a pandemia ou o auxílio necessário ao invés de uma nova PEC de guerra?
Redução essa nos mesmos moldes do setor privado.
Com certeza a visão corporativa não deixaria passar tamanha afronta, afinal, como já disse em artigos anteriores, é uma casta superior.
Em que pese o meu respeito aos funcionários públicos de toda a administração em suas esferas estamos em uma situação onde não pode haver diferenciação entre pessoas.
Temos uma oportunidade ímpar para, a meu ver, as duas reformas mais importantes para a nação: administrativa e tributária, e devem ser profundas.
No caso da administrativa, em minha opinião que não é única, tem que atingir o quadro atual e não apenas o futuro como feito na previdência, ainda que tenhamos que ter um período, não longo, de transição.
Precisamos hoje de soluções não daqui há 10 anos.
Falamos sempre no mercado, é de suma importância porém, vejo como mais importante a situação da população e não apenas do capital. Algumas questões não podem ser deixadas à própria sorte a mercê deste tão importante mercado.
Encontramos alguns avanços como por exemplo a recém aprovação da independência do Banco Central mas, pautas não menos importantes ficam apenas no discurso como as privatizações.
Sem medidas concretas não sairemos desta crise no curto prazo.
Para o cotidiano a economia só deslanchará com a vacinação em massa de toda a população e, ainda assim, teremos que conviver por mais um longo período com restrições sanitárias, talvez menos severas, e algum afastamento social.
Permanecerão por longo tempo as recomendações atuais de higienização e prevenção.
Ainda temos que soltar essas amarras, grilhões que nos afastam cada vez mais dos objetivos de curto prazo que necessitamos.
Roberto Goyano – Engenheiro