AS CINCO INDEPENDÊNCIAS DO BRASIL – Diogenes da Cunha Lima
Neste ano em que comemoramos o bicentenário da Independência com o marco do Grito do Ipiranga, devemos lembrar o processo independentista que a história registra. Tivemos cinco independências.
Napoleão Bonaparte, sem querer, foi grande benfeitor do Brasil. Ameaçando invadir Portugal, a corte portuguesa fugiu para sua principal colônia. É estimada a vinda de quinze mil pessoas que transformaram a vida brasileira.
Independência comercial. O Príncipe Regente, em 1808, abriu o comércio brasileiro com as nações amigas. Na prática, somente com a Inglaterra. Assim, foi revogado o monopólio de Portugal.
Independência Política. De fato, em 1815, o Brasil tornou-se independente quando passou a integrar o Reino Unido com Portugal e Algarves. A sede do novo reino foi o Rio de Janeiro. Logo, se houvesse colônia, seriam os dois outros países. O acadêmico Luiz Eduardo Brandão Suassuna, carinhosamente chamado “o Professor Coquinho”, ensinou-me que foi a habilidade de Dom João VI a fim de ter três votos, e não um, na reorganização europeia estabelecida pelo Congresso de Viena.
O Período Joanino (1808-1821) foi transformando o Brasil em nação moderna. Entre tantas criações: a Biblioteca e o Teatro Real, o Jardim Botânico, a Escola de Medicina na Bahia, a Imprensa Régia, um Banco do Brasil.
Independência Heroica Formal. Cinco dias antes do Grito de Dom Pedro, a princesa Leopoldina, à frente do Conselho de Ministro, presidido por José Bonifácio, declarou a nossa separação. E escreveu ao marido dizendo-lhe que deveria assumir o trono porque, com ou sem ele, os brasileiros fariam a libertação. O quadro histórico de Pedro Américo, concluído em Florença, estimula, ainda hoje, a imaginação popular.
A Independência Estética. Devemos comemorar o centenário da Semana de Arte Moderna de 1922. Intelectuais assumiram a ruptura com os padrões importados da Europa. Constituiu-se da motivação e forma de criação autônoma do nosso país. De lá para cá, nenhum artista, escritor deixou de ser influenciado pelos ideais da Semana. Somos uma nação com crença no futuro. Não somos mais brancos, negros e índios.
Independência Negra. O processo de independência dos negros escravizados e discriminados é longo e penoso. A Princesa Isabel, em 1888, sancionou a Lei. Contudo, a discriminação e o preconceito têm atrasado a participação igualitária com a população de origem branca. Continuamos tristemente racistas disfarçados com o manto da cordialidade brasileira.
A formação da Consciência Negra merece o louvor dos brasileiros patriotas.
A Constituição de 1988 veio estabelecer racismo como crime inafiançável e imprescritível, dando maior rigor à legislação ordinária anterior.
Somos brasileiros. Estamos construindo uma meta-raça, que vai iluminar a civilização.
Diogenes da Cunha Lima – Advogado, Poeta e Presidente da Academia de Letras do RN
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