AS LIÇÕES DE 2020 –

Viramos a página. Já estamos em 2021.

O ano que passou deixou todos aprisionados, distantes, cansados de higienizar as mãos e cumprimentar pelos cotovelos. Terá sido o pior de todos na história da humanidade? Ou, aconteceu algo de positivo?

Toynbee, historiador britânico, tinha razão ao afirmar que a história caminha em ciclos, não em uma linha reta.

Olhadela no passado mostra, que já ocorreram momentos tão difíceis, quanto os atuais.

A pandemia, embora inegavelmente gravíssima, não foi a pior catástrofe enfrentada pelo mundo. Passamos o ano em casa, distante da família.

Mas, no ano 536, grande parte do planeta não conseguiu nem ver o céu. Uma névoa misteriosa espalhou a escuridão, por 18 meses. Foi “um dos piores períodos, senão o pior ano para se viver”, diz Michael McCormick, da Universidade de Harvard. Safras foram perdidas, as pessoas morreram de fome.

Todos lastimam não terem podido viajar em 2020.

Mas há 195 mil anos, o homo sapiens enfrentou rígidas restrições de viagem, em função de um período frio e seco, com duração de dezenas de milhares de anos. A calamidade quase acabou a espécie humana, que foi salva pela descoberta de uma faixa de terra na costa sul da África (“o Jardim do Éden”), onde a alimentação era à base de frutos do mar.

Em 1346, a peste negra eliminou cerca de 200 milhões de pessoas.

A varíola chegou às Américas em 1520 e exterminou entre 60% e 90% dos nativos no continente.

A gripe espanhola em 1918 matou 50 milhões de pessoas, o que equivale a 3% ou 5% da população mundial, à época.

A Aids levou à óbito mais de 32 milhões de pessoas, desde a década de 80.

Em setembro de 1923, terremotos causaram tempestades de fogo, entre Tóquio e Yokohama, no Japão, com mais de 140 mil mortes.

A grande depressão (1929 a 1933) atingiu índice de desemprego superior a 30%.

Na Alemanha, uma em cada três pessoas perderam emprego, o que fez surgir o líder populista e autoritário Adolph Hitler, pregando a moralidade dos costumes e a erradicação da corrupção.

Como se não bastasse a virulência da Covid19, em agosto de 2020 o mundo foi sacudido pela detonação acidental de aproximadamente 2,75 mil toneladas de nitrato de amônio, armazenado incorretamente no porto de Beirute, causando mortes e feridos. A explosão equivaleu a um vigésimo do tamanho da bomba de Hiroshima.

Catástrofe semelhante ocorrera, em dezembro de 1984, quando milhares de pessoas na cidade indiana de Bhopal foram mortas por vazamento de fábrica de produtos químicos, um dos piores desastres industriais da história moderna. Os efeitos da névoa mortal perduram até hoje.

Ainda em 2020, quase 3 bilhões de animais morreram nos incêndios da Austrália, iniciados em 2019. Mamíferos, répteis, pássaros e sapos perderam seu habitat natural.

Diante de relato histórico com fatos tão trágicos, vale observar que em 2020 aconteceram coisas boas.

Por exemplo: aumenta a preocupação global com a preservação do meio ambiente e redução das emissões de carbono.  A representação feminina na política aumentou. Segundo ONU a representação das mulheres nos parlamentos, mais do que dobrou em 2020, chegando a 25% de todas as cadeiras.

Kamala Harris a primeira mulher negra, de ascendência sul-asiática, filha de imigrantes foi eleita vice-presidente dos Estados Unidos.

O ponto mais positivo é a abertura do debate sobre as desigualdades sociais e raciais, abrindo esperanças para o futuro.

No Brasil, o SUS tão criticado e até ameaçado de extinção, tornou-se exemplo de sistema de saúde pública para o mundo. O que teria sido do povo brasileiro sem o SUS?

Simultaneamente, 2020 desestabilizou o discurso ultraconservador do “estado mínimo”, que é substituído pelo “estado forte e necessário”, sem o que a instabilidade abalará, inclusive a atividade econômica.

A pandemia trouxe muitas lições, influindo no estilo e hábito de vida das pessoas.

A solidariedade torna as ações coletivas capazes de enfrentarem os problemas juntos.

Serve para confirmar a máxima de Henry Ford, de que “quando tudo parece ser contra, lembre-se que o avião decola contra o vento e não com a ajuda dele”.

 

 

 

 

Ney Lopes – jornalista, ex-deputado federal, professor de direito constitucional da UFRN e advogado – [email protected]

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