AS PRAGAS –

Décadas atrás, entrando pelo século passado, de uma hora para outra, do telhado de uma casa simples em Nova-Cruz, passou a cair por todos os cantos, uma “peste” de rãs, que não havia vassoura nem inseticida que conseguisse expulsar.

Ali moravam três irmãs, Chanoca, Chiquinha e Doroteia, uma solteira e duas viúvas. As três eram muito religiosas e comungavam diariamente. Mesmo assim, passaram a acreditar que aquela chuva de rãs era coisa do demônio.

A rua tinha diversas casas conjugadas, mas a infestação de rãs ocorreu apenas na casa das três idosas, católicas fervorosas, que acreditavam em Deus.

Desde o primeiro dia da invasão das rãs, as três irmãs passaram a dormir em casa de parentes.

Durante o dia, dentro de casa, rezavam-se terços e rosários e acendiam-se velas, na esperança de que as rãs voltassem ao seu “habitat”, que é a beira do rio ou lagoa.

O fato se tornou público e os curiosos pediam para ver de perto a “peste” de rãs que tirava o sossego das moradoras. Parecia coisa demoníaca, de casa mal- assombrada.

O Padre, ao tomar conhecimento do que estava acontecendo, foi benzer a casa e “exorcizou” as rãs, como se elas tivessem vindo de um lugar amaldiçoado. Mas, de nada adiantou.

Apavoradas, as mulheres se mudaram para outra casa e abandonaram de vez a casa invadida pelas rãs.

Mas o estigma persistiu e a casa continuou sendo vista como “mal-assombrada”.

Esse caso faz parte  do folclore mórbido de Nova-Cruz.

Depois disso, a história das Dez Pragas do Egito passou a fazer parte do sermão do Padre, nas missas dos domingos. Era uma forma de amedrontar as pessoas e induzi-las a praticar o bem.
E as dez pragas do Egito tornaram-se conhecidas em Nova-Cruz, levando medo às pessoas. São elas:

 -Águas que se tornaram sangue; infestação de rãs, piolhos e moscas; peste no gado; úlceras nas pessoas; chuva de pedras; infestação de gafanhotos; escuridão, e a morte dos primogênitos das famílias e animais.

A história das Dez Pragas do Egito é narrada na Bíblia, no livro Êxodo, do Antigo Testamento. A passagem conta que Deus mandou Moisés e Aarão ao encontro do Faraó (rei do Egito) para pedir que os hebreus ficassem livres da escravidão e pudessem realizar um culto. Porém, o Faraó recusou dez vezes os pedidos de Moisés e a cada recusa, Deus enviou uma praga àquela região.

Além de forçar a liberdade do povo hebreu, as pragas também serviram à tentativa de provar que os deuses egípcios não existiam ou eram fracos diante do Deus Cristão.

Deus instruiu Moisés para que fosse junto com seu irmão, Aarão, até ao faraó do Egito, e pedisse pela liberdade do povo hebreu, que era mantido como escravo. Moisés e Aarão assim fizeram.

Após a primeira recusa do faraó ao pedido, Moisés orientou que seu irmão tocasse com uma vara no rio Nilo para que a água se transformasse em sangue.

O Nilo é um rio importante para a região e considerado divino pelos egípcios.

A história conta que durante sete dias o rio e seus afluentes, assim como as fontes e poços, transformaram-se em sangue, fazendo com que os peixes e outros animais morressem.

Após esse período, Moisés e Aarão voltaram ao encontro do faraó para repetir o seu pedido.

“O Senhor disse a Moisés: “Vai procurar o faraó e dize-lhe: eis o que diz o Senhor: deixa ir o meu povo, para que ele me preste um culto. Se recusas, infestarei de rãs todo o teu território.
O Nilo ferverá de rãs que subirão para invadir tua habitação, teu quarto, teu leito, as casas de teu povo, os teus fornos e tuas amassadeiras. As rãs subirão sobre ti, sobre teu povo e sobre todos os teus servos”.

– Êxodo 8:1-4

Após a segunda resposta negativa do faraó, Deus enviou uma infestação de rãs que se espalhou por todo o Egito. Com a região tomada, o faraó recorreu a Moisés e Aarão e prometeu que, se as rãs fossem retiradas, iria libertar o povo hebreu.

Então o Senhor disse a Moisés: “Diga a Arão que estenda a sua vara e fira o pó da terra, e o pó se transformará em piolhos por toda a terra do Egito”.

– Êxodo 8:16

Após a promessa de libertação do povo hebreu com o fim da infestação de rãs ter sido quebrada, Moisés e Aarão pediram novamente pela liberdade dos hebreus, mas o faraó a negou e Deus enviou a terceira praga.

A terceira praga enviada causou grande desconforto em todo o povo egípcio e nos seus animais. Os insetos que surgiam da terra infestavam e picavam as pessoas e o gado, causando coceira.

O Senhor disse a Moisés: “Irás amanhã de manhã apresentar-te diante do faraó, quando ele sair para ir à margem do rio, e dir-lhe-ás: eis o que diz o Senhor: deixa partir o meu povo, para me prestar culto.

Se recusares, mandarei moscas sobre tua pessoa, tua gente, teu povo, tuas casas: as casas dos egípcios serão todas invadidas por elas, bem como a terra em que moram”.

– Êxodo 8:20-21

Novamente, Moisés e seu irmão foram ao encontro do rei do Egito para pedir que os hebreus fossem libertos da escravidão e pudessem realizar um culto em homenagem ao seu Deus. Como o Faraó não permitiu, foi enviada uma infestação de moscas ao Egito.

Porém, o povo de Deus (os hebreus) não foi atingido pela praga. Enquanto os egípcios sofreram com as moscas, os hebreus não foram atacados.

O Faraó chamou Moisés e Aarão e pediu que acabassem com as moscas. Ele propôs que o culto ao Deus fosse realizado no Egito, porém Moisés rejeitou a proposta porque o tipo de culto seria mal visto pelos egípcios, que poderiam apedrejar os hebreus.

O rei do Egito concordou em dar a liberdade, se as moscas desaparecessem. Deus fez as moscas sumirem, mas o faraó não cumpriu a promessa e manteve os hebreus escravizados.

“Se recusas, se persistes em retê-los, a mão do Senhor vai pesar sobre os teus animais que estão nos campos, sobre os cavalos, os jumentos, os camelos, os bois e as ovelhas: haverá uma peste terrível.
Entretanto, o Senhor fará uma distinção entre os animais dos israelitas e os dos egípcios, e nada perecerá de tudo o que pertence aos israelitas”.

– Êxodo 9:2-4

Como o Faraó negou novamente um pedido de libertação do povo hebreu, Deus enviou uma praga que fez todos os animais adoecerem e morrerem. Exceto os animais dos hebreus, que permaneceram saudáveis. O povo hebreu também pode ser chamado de israelitas ou judeus.

“O Senhor disse a Moisés e a Aarão: “Tomai vossas duas mãos cheias de cinza do forno, e Moisés a lance para o céu diante dos olhos do faraó.
Ela tornar-se-á uma poeira que se espalhará por todo o Egito, e haverá em todo o Egito, sobre os homens e sobre os animais, tumores que se arrebatarão em úlceras”.

– Êxodo 9:8-9

Pela sexta vez, Moisés e Aarão foram até o Faraó pedir pelos hebreus. Porém o líder egípcio permanecia inflexível e não libertava efetivamente o povo. Então, Deus enviou a sexta praga, que fez com que todos os egípcios, incluindo o Faraó e sua família, ficassem doentes, com feridas e úlceras pelo corpo.

“O Senhor disse a Moisés: “Tu te apresentarás amanhã cedo diante do faraó, e dir-lhe-ás: eis o que diz o Senhor, Deus dos hebreus: deixa partir meu povo para que me preste um culto, porque desta vez vou descarregar todos os meus flagelos sobre tua pessoa, tua gente e teu povo, a fim de que saibas que não há ninguém semelhante a mim em toda a terra.
Se te obstinas em impedir a partida de meu povo, amanhã, a esta mesma hora, farei cair uma chuva de pedras tão violenta como nunca houve outra igual no Egito, desde sua origem até o dia de hoje”.

– Êxodo 9:13-18

Após a sétima resposta negativa do faraó, Deus enviou uma forte chuva de granizo e fogo ao Egito. Mas antes instruiu, através de Moisés, que quem o temesse deveria se proteger da chuva para não morrer. Portanto, aqueles que temiam a Deus sobreviveram ao granizo, aqueles que não temiam, morreram.

Com a chuva de granizo, o faraó prometeu libertar os hebreus. Porém, após a chuva de pedras ter cessado, não cumpriu a promessa.

“O Senhor disse a Moisés: “Estende tua mão sobre o Egito para que venham gafanhotos sobre ele, e invadam o Egito, e devorem toda a erva da terra, tudo o que o granizo deixou”.

– Êxodo 10:12

Com a oitava recusa do faraó em libertar os hebreus, Deus enviou durante um dia e uma noite uma infestação de gafanhotos que destruiu as plantações egípcias. O faraó pediu desculpas a Moisés e Aarão e ofereceu a liberdade ao povo em troca de que a infestação parasse.

Deus mandou soprar um vento forte que levou os gafanhotos do Egito para o Mar Vermelho. Entretanto, o faraó novamente não cumpriu a promessa e os israelitas permaneceram escravos.

“Moisés estendeu a mão para o céu, e durante três dias espessas trevas cobriram todo o Egito.
Durante esses três dias, não se via um ao outro, e ninguém se levantou do lugar onde estava. Ao passo que todos os israelitas tinham luz nos lugares onde habitavam”.

– Êxodo 10:22-23

Após o nono pedido de Moisés e Aarão negado pelo Faraó, Deus enviou uma escuridão que dominou o Egito durante três dias. Com, a escuridão, o Faraó prometeu dar a liberdade aos hebreus, mas eles deveriam deixar os seus animais.

Moisés explicou ao Faraó que os israelitas precisavam dos animais para fazer os sacrifícios e cultos ao Senhor. O Faraó prometeu novamente deixar que os hebreus partissem, se a escuridão cessasse, porém depois de ter o seu pedido atendido por Deus, não cumpriu a promessa.

“Naquela mesma noite passarei pelo Egito e matarei todos os primogênitos, tanto dos homens como dos animais, e executarei juízo sobre todos os deuses do Egito. Eu sou o Senhor!
O sangue será um sinal para indicar as casas em que vocês estiverem; quando eu vir o sangue, passarei adiante. A praga de destruição não os atingirá quando eu ferir o Egito.”

Êxodo 12:12-13

Depois do último pedido de Moisés e Aarão ser negado, Deus enviou a décima e última praga ao Egito. Esta praga foi a responsável por matar os primogênitos (primeiro filho) de todas as famílias, humanas e de animais. Inclusive a do Faraó, acabando com a sua descendência que iria assumir o reinado do Egito.

Para proteger os hebreus, Deus, por meio de Moisés, instruiu que aqueles que O temessem deveriam passar sangue de cordeiro nas portas de suas casas, assim, quando a morte atingisse os primogênitos egípcios, as famílias que tivessem sangue em sua porta seriam poupadas.

Com a morte do seu primogênito, o Faraó libertou o povo de Israel da escravidão e permitiu que fossem embora prestar culto ao seu Deus. Os hebreus partiram, guiados por Moisés, e deixaram o Egito.

A interpretação do trecho que conta sobre as pragas do Egito no livro Êxodo, da Bíblia, mostra dois objetivos de Deus ao enviar pragas à região. Além da libertação do povo hebreu da escravidão, em algumas passagens é possível notar a tentativa de mostrar que o Deus cristão era mais poderoso que os deuses da mitologia egípcia.

 

 

 

 

Violante Pimentel – Escritora

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores

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