ATALAIA PARA O PATROPI –
“Na vida é preciso ter raiz, não âncora. A raiz te alimenta, a âncora te imobiliza. ” (Mário Sérgio Cortella, filósofo brasileiro)
Esta conversa foi difícil de nascer frente à avalanche de informações que a realidade nos presenteou nos últimos dias. Soterrado pela montanha de notícias, este escrevinhador sofreu diante da tela em branco.
Encontrei a saída numa comparação entre dois mundos, aparentemente, diferentes: França e Brasil.
Apesar da distância no nível de riqueza e cultura, França e Brasil têm muitas semelhanças. A República Francesa convive com um gigantesco setor público que drena quase sessenta por cento da riqueza nacional, o mais caro entre as nações desenvolvidas. O corporativismo também é marcante na economia francesa. Cerca de dez por cento da população local é composta por funcionários públicos.
O programa de governo de Macron começa pela redução da gordura do Estado. Inclui reforma trabalhista, manutenção de idade mínima para obtenção de aposentadoria, desburocratização de negócios privados e maior integração comercial com o resto do mundo.
Tudo muito similar ao que o Brasil precisa fazer.
Em termos mais objetivos, a proposta que elegeu Macron contempla corte de 120 mil cargos públicos, um copo d’água no oceano dos quase 6 milhões de servidores que o Estado francês mantém. E também a redução de impostos e encargos sobre salários, além de prever a possibilidade de flexibilizar a jornada de 35 horas semanais de trabalho para estimular a geração de emprego e brecar os dez por cento de desemprego.
Macron foi eleito com sessenta e seis por cento dos votos válidos (lá o voto não é obrigatório) defendendo abertamente ajuste nas contas públicas, cortes de gastos, enxugamento da máquina. Levará adiante uma reforma para moralizar a política. E temperou sua proposta de programa de governo com a defesa de direitos e liberdades individuais, bem como medidas ambientais em favor de uma matriz energética mais limpa em toda a Europa.
Lá como cá, as reações eram previsíveis. No primeiro dia após a vitória de Macron, já aconteceram os primeiros protestos antirreforma. Nenhuma surpresa: mobilizam-se os sindicatos, sempre eles, contrários ao que consideram “perda de direitos”.
Qualquer semelhança com os sindicatos brasileiros não é mera coincidência…
As reações são prova do êxito de Macron. Ele venceu porque teve lado. Foi direto e firme ao defender suas propostas.
Venceu porque peitou de frente com o populismo, tanto de extrema direita quanto de extrema esquerda, cujos partidários preferiram ficar em casa a votar no domingo. Macron triunfou por resistir a políticas protecionistas e antiglobalização. Sagrou-se vitorioso sem prometer o inexequível, sem usar a mentira para conquistar votos. Sem bolsas nem cotas.
Seu desafio agora é transformar o apoio que obteve nas urnas no domingo em suporte parlamentar, em eleição marcada para junho, e conquistar os reticentes que preferiram se abster ou votar branco e nulo.
A vitória de Emmanuel Macron na França tem muito a ensinar à situação política brasileira. Mais novo presidente da história francesa, ele elegeu-se surfando numa agenda de reformas, com viés liberal, e resistindo aos extremos populistas e estatizantes das propostas de seus adversários.
A França talvez esteja nos ensinando que uma agenda claramente liberal e reformista tem grandes chances de êxito em economias engessadas por corporativismos, direitos considerados arraigados e intocáveis e privilégios deploráveis em nações vergadas pelo peso do Estado.
Um belo farol para o Brasil.
Oxalá, aponte caminho para o patropi que irá às urnas em 2018.
Rinaldo Barros é professor – rb@opiniaopolitica.com
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