ATÉ QUANDO SEREMOS POBRES? – Tomislav R. Femenick

ATÉ QUANDO SEREMOS POBRES? – 

A história do ser humano está visceralmente ligada ao desenvolvimento das suas várias organizações socioeconômicas. Até chegar à forma atualmente predominante de modo de produção, o capitalismo, houve a comuna primitiva, a escravidão clássica, o feudalismo e outras formações menos predominantes, tais como o modo asiático de produção, a escravidão americana etc. Além do mais, todos esses modelos passaram por etapas de aprimoramento e de desestruturação, adquirindo novas características, conservando algumas e perdendo outras; formando patamares intermediários. O próprio capitalismo se aprimora continuadamente. O capitalismo de hoje é bastante, se não totalmente, diferente do capitalismo selvagem, do início do século passado.

Em todos esses sistemas, tem papel relevante “o como” são usados os elementos necessários para se produzir os bens e serviços essenciais à vida, tais como alimentos, morada, vestuário, meios de transporte etc. Nas Ciências Econômicas, esses elementos são chamados de Fatores de Produção. Entretanto, esse conceito (Fatores de Produção) somente deve ser aplicado para as sociedades organizadas economicamente. Para aquelas que ainda estejam na etapa comunal primitiva, tal como vivem os índios não totalmente aculturados da América do Sul, onde falta a “visão econômica do valor”, dificilmente esse conceito será adequado.

Somente os povos que estejam socialmente organizados, que tenham por objetivo produzir para o consumo dos seus indivíduos, é que têm suas relações econômicas adequadas à concepção de Fatores de Produção, que são: trabalho, recursos da natureza, capital e tecnologia. Quanto mais sofisticada a sociedade, mais ajustados são esse conceito à sua amplitude, isso porque há uma presença indissociável entre os fatores de produção e a vida social. Notadamente os dois últimos, capital e tecnologia.

Entretanto, a maioria das teorias econômicas não destacam a Tecnologia como um fator de produção em si. Algumas a incorporam no fator trabalho, outras no capital produtivo (máquinas, fabricas, escritórios) e, ainda, outras mais, em ambos. Entretanto a tecnologia é algo representativo do estágio de desenvolvimento de uma sociedade e, consequentemente, um dos ingredientes que determina a qualidade da produção final e não simplesmente qualifica a mão de obra ou o capital produtivo,

É a tecnologia que, também, determina o nível quantitativo do aproveitamento dos outros fatores de produção. O “saber fazer” reduz o tempo gasto na execução de uma tarefa e melhora o aproveitamento dos recursos da natureza e do próprio capital. Por essa característica é que a tecnologia é considerada como um meio de produção, com características diferenciadas dos demais fatores.

O estágio tecnológico dos povos forma uma das bases que diferencia os países desenvolvidos dos subdesenvolvidos. A contínua evolução do conhecimento humano, as variadas formas de emprego dessas novas tecnologias, na geração de mais ganhos na exploração dos outros fatores de produção, “definem o próprio conceito atual do crescimento econômico”.

Pode-se dividir a criação tecnológica em três fases distintas: a) o processo de “pesquisa”, com formulação de ideias e de criação de novas maneiras de se fazerem as coisas; b) a “criação” de novas métodos para produzir bens e serviços; c) a “aplicação prática” da nova tecnologia na produção.

O Brasil é bem pobre nas três fases. Os institutos de pesquisas pouco são aparelhados pelo governo e, menos ainda, pela iniciativa privada. O INPI registra primordialmente marcas, o nome que identifica um dado produto ou estabelecimento, e menos, muito menos, a patente de máquinas, equipamentos etc. Isso nos deixa em uma dependência estratégica, em relação aos países mais desenvolvidos. A opção adotada por nossas empresas é importar tecnologia, pagando royalties e know-how. Resultado: temos recursos naturais em abundância, temos mão-de-obra sobrando (embora a maioria não qualificada); temos escassez de capital e de tecnologia. Até quando?

 

 

Publicado originalmente na Tribuna do Norte. Natal, 20 ago. 2021

 

 

 

 

Tomislav R. Femenick – Jornalista, Mestre em economia, pela PUC-SP

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
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