A AVENIDA PAULISTA É O BRASIL – Flavio Rezende

A AVENIDA PAULISTA É O BRASIL –
Viajante de promoções se sujeita a intervalos gigantes entre chegadas e partidas. Mas isso nem sempre é algo negativo. Tendo ainda um dia de férias para usufruir, desembarco em São Paulo pela manhã e só parto para Natal às 23h10.
Começo então um tour pela capital econômica e cultural do Brasil.  Primeiro descubro uma linha de ônibus comum, de 6 reais, que me deixa na estação de metrô. Ao pegar o primeiro vagão para a Avenida Paulista, ouço um camarada começar ofertando pen drive por 30, e terminar por 5 reais, dizendo o tempo todo que baixava pois era melhor vender assim que perder o produto para a fiscalização.
Assim, sem mais e nem menos, chego ao Brasil já ouvindo um camelô de metrô ofertando produto provavelmente roubado, ou pirateado, publicamente na maior cara de pau.
Desço e caminho pela Paulista chegando a conclusão que fiz a escolha certa. Numa rua só tenho como ver um retrato da cidade. No MASP, em seu vão aberto, pessoas carentes dormem, enquanto outros consomem drogas diversas. Policiais próximos apenas observam sem interferir.
Nos cruzamentos lotados muitos de paletó e senhoras com roupas pretas e meias cinzas, dão a entender que estão no intervalo dos seus expedientes.
O vai e vem é intenso e em tudo tem fila e muita gente.
Misturados aos executivos ou executivas estão estudantes, pedintes, bêbados, estrangeiros, turistas, desempregados, skatistas, músicos e aposentados puxando animais em sofridos passos em meio ao tsunami de gente indo e vindo.
A avenida Paulista é o Brasil.  Prédios lindos e caros convivem com pessoas dormindo no chão.  Altos salários andando ao lado de sem remuneração certa; homossexuais e judeus dividindo o mesmo banco na praça, enquanto brancos e negros atravessam a rua cada qual com seus destinos e projetos.
Como tinha muito tempo optei por um filme numa elegantíssima sala de um shopping na própria Paulista, e depois fiquei curtindo um trio tocando ao ar livre com dois doidinhos numa felicidade imensa rebolando e sorrindo no maior êxtase naquele recanto.
Vendo a dupla bailar fiquei pensando em como a felicidade não escolhe condição social, gênero, e nem religião para se instalar.
A alegria naquela tarde na Paulista estava com aqueles dois, provavelmente os mais lisos e até lascados daqueles  metros quadrados ali presentes.
Contagiado com o bailar dos doidinhos fui pegar o metrô para Tatuapé, de onde pegaria o ônibus barato para Guarulhos.
Infelizmente toda boa energia dos bailarinos da Paulista se esvaneceu. Primeiro tive que andar muito dentro da estação, sempre apertado para chegar na linha amarela e seguir da estação Luz para a linha vermelha e avançar ao destino.
Cada vagão a pegar era um sufoco. Tanta gente e aperto que vários passavam e nada de entrar, pois poucos saiam abrindo vagas. Enquanto isso a multidão só ampliava.
Aquele aperreio serviu para reforçar dentro do meu ser o quanto é bom morar em Natal, e ter um carro para andar. Mais uma vez me sinto uma pessoa muito felizarda na vida.
Depois de escapar desse verdadeiro gentemoinho que é o metrô paulista, eu peguei o ônibus para o aeroporto, tomei um espresso e cá estou fazendo o que adoro: escrever.
Agora, é voltar ao trabalho, mas estarei revendo fotos dos belos momentos que passei no Chile e ao lembrar da curta passagem por São Paulo vou preferir a memória dos doidinhos dançando. Será a melhor coisa a fazer.

Flávio RezendeJornalista e ativista social

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