AVIÕES –

Fugimos em lua-de-mel em julho. Fomos conhecer Curitiba e desligar um pouco da correria contínua. Uma semana de folga, sem horários, sem preocupações. Sem preocupações? Isso lá existe na vida adulta? Melhor dizer que foi sem rotina, sem a responsabilidade de cuidar da casa, responder e-mails de trabalho, essas coisas.

Pegamos dois vôos e, em poucas horas, estávamos do outro lado do país. Eu, envolvida pelo romance de Marian Keyes no meu Kindle. Flávio assistindo séries pelo celular. Entre uma coisa e outra, olhávamos para o avião e pensávamos como tudo mudou.

Lembro de, na infância, mamãe me arrumar para pegarmos o avião em direção ao Rio de Janeiro, para visitar a família. Sim, ia arrumada! Hoje, os chinelões e bermudinhas tomam conta da paisagem avionesca! Entramos no avião com certa dificuldade. Não pelo horário ou pelas malas, mas pela dimensão imposta. Flavinho tem mais de 1,80m e, de verdade, mal cabe naquela cadeirinha. Ir ao banheiro é um suplício. Larguei o Kindle e comecei a recitar meu terço. Enquanto eu me perdia achando-me nas orações, vejo Flavinho sorrindo. Paro em meio a uma Ave Maria e questiono o motivo da risada:

– O que mais vão nos tirar?

– Como assim?

– Não tem mais espaço para sentar! Não tem mais revista de bordo!

– Não tem mais saquinho para vomitar! – respondo. – Nem as marmitinhas das comidas para crianças.

Recebemos para um vôo de 3h de duração um pacote com 1 cookie (UM!) e olhei para minha bolsa feliz, pois nunca viajo sem balas, chicletes e chocolates. E, juro, senti um certo constrangimento por parte da aeromoça ao entregar aquele pacotinho minguado e me dizer que se eu quisesse mais um poderia pedir. Tadinha!

Lembrei da alegria de ir ao aeroporto buscar papai nas suas infinitas viagens a trabalho. Olhar o avião aterrissando e posicionarem a escada, com chuva ou sol.

– Vamos ver quem vê seu pai primeiro!

Mamãe dizia para acalmar o coração da filha que esperava ansiosamente pela marmitinha do vôo e os presentes comprados na cidade onde ele estava.

Hoje, com o aeroporto distante e de acesso duvidoso, pedimos sempre Uber para não dar trabalho a ninguém ao nos buscar. Até isso nos foi tirado.

É! Acho que não falta tirar mais nada…

 

 

 

 

 

 

Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista e Escritora

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