Nas décadas de 60 e 70 era comum ouvirmos música romântica francesa em discos, filmes ou em programas de emissoras de rádio pelo Brasil. Algo raro atualmente. Daí a razão das vozes de Edith Piaf, Maurice Chevalier, Yves Montand, Silvie Vartan, Johnny Hollyday, Mireille Mathieu e Gilbert Bécaud me soarem familiares.
Edith Piaf é a representante feminina que melhor traduz a música da França, todavia, a divulgação do cancioneiro francês, numa amplitude global, foi obra de um protegido seu. Refiro-me ao cantor e compositor Charles Aznavour.
Convidado por Piaf para acompanhá-la em turnê pela França e Estados Unidos, o jovem Aznavour viu sua carreira decolar. E como decolou! Ele compôs próximo de 850 canções e, poliglota, gravou músicas em inglês, italiano, espanhol e alemão. Já superou os 100 milhões de discos vendidos compilados em mais de 100 álbuns.
Como se não bastasse, Aznavour teve uma longa carreira paralela como ator, participando de mais de 60 filmes. Considerado o Frank Sinatra da França, ele também exaltou o amor. Com a morte de Sinatra tornou-se o último dos crooners ao velho estilo, e um dos mitos da canção e do cinema franceses.
Em 1988 Charles Aznavour foi eleito o artista do século pela CNN e pelos usuários da Time Online espalhados pelo mundo. No início do outono de 2006, iniciou a sua turnê de despedida apresentando-se nos Estados Unidos e no Canadá.
Em 2007, excursionou pelo Japão e resto da Ásia. Em 30 de setembro de 2006, Aznavour participou de um grande concerto em Erevan, capital da Armênia, terra natal de seus pais.
O cantor veio ao Brasil em quatro oportunidades: em abril e setembro de 2008; em maio de 2013; e, em março deste ano. A crítica especializada elogiou a sua recente turnê pelo Brasil com ele beirando os 93 anos de idade. A baixa estatura (1,60m) e a idade avançada em nada atrapalham o seu domínio de palco e, pelo visto, somente a morte afastará o cantor das luzes da ribalta.
Assisti à segunda apresentação de Aznavour no Recife, numa sexta-feira, dia 12 de setembro de 2008, no Chevrolet Hall. Na época, Aznavour estava com 84 anos, e contava com o magnetismo vocal de sempre. Um espetáculo acalentador para fãs e admiradores do trabalho do cantor-ator.
Viajamos para Recife, eu, minha esposa Edilza e um casal amigo (Fernando e Marinez), e nos hospedamos no Dorisol Recife Grand Hotel (hoje Wyndham Garden Recife), em Piedade, para o pernoite.
Dia seguinte ao show, durante o café da manhã, nos deparamos com músicos integrantes da banda do cantor. Nada de anormal! Certamente, não seria ali onde encontraríamos o badalado Charles Aznavour. Imaginá-lo hospedado junto à sua equipe como um simples e humilde mortal? Jamais! Aconteceu de ele estar lá, sim!
As mulheres descobriram sua boa vontade para com os fãs, e ficaram alvoroçadas à espreita do astro para obterem autógrafos. E nós, os maridos, fingindo certa relutância, torcendo para que ele aparecesse. Perdeu-se uma parte da manhã até a celebridade surgir. Gentil e pacientemente ele distribuiu autógrafos e posou para as fotografias solicitadas.
Quanto a mim, satisfiz-me clicando a lenda viva da história da música francesa. Após a sessão fotográfica, num atrevido sotaque franco-tupiniquim, tasquei-lhe um Merci, monsieur Aznavour!… Nadica de nada incomodou-me ficar sem resposta para aquele cumprimento abobalhado.
José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro civil e escritor – [email protected]