BELEZA –
Temos gostos musicais diferentes. Enquanto continuo escutando rock nacional dos anos 1980 e MPB, nosso caçula entra no carro e cuida da playlist em nosso caminho diário de ida e volta da escola. Ele escuta funk japonês, músicas temas de jogos e alguns cantores que eu citaria como “inusitados”, os quais inundaram minha retrospectiva do Spotify. Atualmente, falamos sobre as letras nem sempre atraentes para mim e sobre as capas dos álbuns, muitas delas verdadeiras obras de arte. Uma delas, hoje observamos, parecia conter uma bola de prata – ou de mercúrio – numa trilha de traços coloridos. Pensei no mercúrio do amálgama de prata, tão usado num passado próximo da odontologia.
Lembrei também de um termômetro que quebrei enquanto, nervosa, averiguava a temperatura de nosso filho mais velho quando bebê. A bolinha de mercúrio passeando pelo chão do quarto. Eu assustada com a febre, com os pequenos estilhaços vítreos, com o mercúrio trilhando seu caminho em nosso piso.
Tão belo, tão autônomo, tão preocupante.
Nem sempre o belo é bom, reflito em voz alta e nosso filho balança a cabeça, compreendendo o que eu quis dizer.
Isto serve para tantas coisas, como a letra da música que ouvíamos e o mercúrio difícil de se conter…
Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista e Escritora