BELEZA E DESTINO –
A beleza é relativa. E é um tema caro e delicado para a sociedade. Para o homem, a beleza é parâmetro importante na definição de critérios sociais e para avaliação das possibilidades de felicidade. Para casar, procura-se a pessoa mais bonita, mais atraente; para um emprego, escolhem-se aqueles de melhor aparência; para destaque na mídia, os mais bem dotados; enfim, para a exposição pública ou particular, preferem-se os mais belos.
Mas o que é a beleza humana? Quais as características, os padrões, os modelos de beleza?
Tenho uma irmã que tem um ostensivo comportamento racista. O seu preconceito, entretanto, não é por maldade. É mais ingenuidade e histórica desinformação. Ao vermos certo dia na TV um desses atores negros, alguém falou que era um homem bonito. Ela não concordou. Disse que, se era negro, não podia ser bonito; que um negro nunca é bonito. Ou seja, por essa característica racial excluiu a pessoa dos padrões aceitos e festejados.
Mas quem, em que tempo ou momento, decretou essa hegemonia dos mais belos ou brancos sobre as demais etnias? Qualquer raça – negra, oriental, indígena, branca – tem o mesmo valor, o mesmo peso no equilíbrio natural, antropológico. E o seu comportamento no contato com a natureza, para o bem ou para o mal, é perfeitamente igual. Imagina se algum eugenista iria aceitar ou concordar se alguém dissesse que a etnia negra é a mais pura; que as outras seriam degenerações dessas primeiras manifestações do homo sapiens?
Além do que, homem como gênero animal é um dos mais feios e fisicamente desprotegidos do reino. Não possui pelos que o protejam do frio, asas para voar, garras para ataque e defesa, ou a velocidade dos grandes predadores para caçar ou conseguir alimentos. A sua única vantagem é o cérebro, que artificializou as formas de sobrevivência, fez com que sair das cavernas, descesse das árvores, edificasse suas moradias, seus utensílios, suas roupas para proteção, e criasse armas para atacar e defender. Foi o que resultou do acesso ao “fruto da árvore da ciência do bem e do mal”, a “desobediência” que os afastou da sua origem edênica e pura.
Consideramos evolução esse distanciamento que gerou, paradoxalmente, uma depravação como gênero integrante do teatro da natureza. O homem é consumidor e predador, usufrui e destrói, ama e odeia, usa e abusa, eterna tese e antítese de si mesmo. Seria o nosso destino cósmico, nosso papel no Universo? Acho, porém, que, em meio a bilhões de galáxias na eternidade do espaço, nada ou ninguém toma conhecimento ou tem algum interesse no minúsculo e pretensioso grão de poeira que somos nós.
Parece desprezo pelo gênero humano. Não é. Tenho provas suficientes para acreditar não na raça como um todo, porém nas pessoas em particular. Conheço, convivo e admiro muita gente – amigos ou não – que têm renovado a minha esperança em um melhor porvir. Entre essas, vejo poucos religiosos e muito menos homens públicos. Porque, para estes, que detêm delegada ou auto assumida liderança sobre os outros, só interessam, em última análise, as suas ambições pessoais, os seus projetos de domínio e poder. O homem civilizado gerou doenças, demônios e parece impossível deter-lhes os passos ou exterminá-los de vez. E, lamentavelmente assistimos, impotentes e atônitos, ao processo de gestação dos cada vez mais numerosos “ovos de serpente”, esses que farão nascer novos sorrateiros, venenosos e constritores tiranos no futuro.
Resta-nos o consolo das artes, a bênção dos poetas, dos criadores musicais, e daqueles que nos conduzem, entre letras e pensamentos, à análise e compreensão do significado do nosso real e verdadeiro destino.
Alberto da Hora – escritor, cordelista, músico, cantor e regente de corais
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