O presidente dos EUA, Joe Biden, fala sobre a segurança na fronteira EUA-México, na Casa Branca em Washington, EUA, em 5 de janeiro de 2023 — Foto: REUTERS/Kevin Lamarque
O presidente dos EUA, Joe Biden, fala sobre a segurança na fronteira EUA-México, na Casa Branca em Washington, EUA, em 5 de janeiro de 2023 — Foto: REUTERS/Kevin Lamarque

A pressão sobre o presidente americano Joe Biden para expulsar o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro dos EUA vem de seu próprio partido e não da oposição. Enquanto alguns congressistas democratas defenderam abertamente a sua deportação, depois que milhares de apoiadores atacaram as sedes do Congresso, da Presidência e do STF em Brasília, seus colegas republicanos providencialmente silenciaram.

Não fossem as imagens estarrecedoras da destruição, que pareciam um remake da invasão do Capitólio há dois anos, a estada de Bolsonaro na Flórida não chamaria a atenção dos americanos. Sua presença em Orlando, desde o penúltimo dia de mandato, era notada apenas por dezenas de conterrâneos, que se aglomeram na porta da casa onde está hospedado.

No último domingo, a situação mudou, e o ex-presidente brasileiro virou persona non grata nas redes sociais. “Os EUA não devem ser um refúgio para este autoritário, que inspirou o terrorismo doméstico no Brasil. Ele deveria ser mandado de volta ao Brasil”, vociferou o congressista democrata Joaquín Castro à CNN. O apelo encontrou eco entre as deputadas Alexandria Ocasio-Cortez e Ilham Omar, que pertencem à ala mais à esquerda do partido de Biden.

Internautas corroboraram, no Twitter, os pedidos de expulsão do ex-presidente brasileiro, que teria entrado nos EUA com o visto A-1, reservado aos chefes de Estado. Ali, Bolsonaro passou a ser retratado como fugitivo, incitador da violência e mentor da tentativa fracassada de golpe.

A chiadeira democrata contrastava com a mudez republicana, a começar pelo ex-presidente Donald Trump. Sempre ativo nas redes sociais, ele manteve o silêncio sobre o aliado brasileiro. Neste campo, apenas os congressistas Rick Scott e George Santos, que está encalacrado na Câmara por ter mentido sobre sua biografia, condenaram a violência em Brasília, mas sem fazer alusões ao ex-presidente.

Filho de brasileiros e eleito em novembro pelo estado de Nova York, Santos enfrenta pedidos de renúncia por ter enfeitado o currículo com invenções. Além disso, está sob investigação sobre a origem de seus recursos. “A violência no Brasil não é o caminho para conseguir nada, condeno veementemente os atos de violência e vandalismo exibidos em Brasília”, postou o legislador republicano, que já exibiu fotos com o deputado Eduardo Bolsonaro.

A apatia republicana sobre Bolsonaro não causa estranheza. Há dois anos, a punição do ex-presidente Donald Trump, por ter instigado seus partidários a invadirem o Capitólio, esbarrou na anuência de seus correligionários no Senado, que rejeitaram o impeachment aprovado anteriormente na Câmara.

Mas, como escreveu o colunista Ja’han Jones, autor do blog ReidOut, da MSNBC, o silêncio sobre a presença de Bolsonaro na Flórida, revela hipocrisia, dado o empenho permanente do partido em instilar nos americanos o medo sobre os perigos que os imigrantes supostamente representam.

“Bolsonaro incorpora tudo o que o Partido Republicano pretende odiar sobre muitos imigrantes nos Estados Unidos: ele alimentou abertamente a violência e suas visões antidemocráticas literalmente contrariam as leis estabelecidas em nossa Constituição”, resumiu.

O presidente Biden, a vice Kamala Harris e os principais funcionários do governo americano não hesitaram em condenar rapidamente os tumultos em Brasília como ataques à democracia brasileira e manifestar apoio ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Daí a expulsar Bolsonaro é outra história. As circunstâncias tornam complexo um processo de deportação ou de extradição do ex-presidente brasileiro. Tanto a Casa Branca quanto o Departamento de Estado até agora se recusaram a comentar especificamente sobre o visto de entrada ou o status de Bolsonaro nos EUA.

 

 

 

 

 

Fonte: G1

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