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Biden pode pressionar Brasil a adotar políticas mais firmes para proteger a Amazônia, dizem especialistas

O presidente eleito dos Estado Unidos, Joe Biden, deverá fazer pressão política no Brasil para que medidas de preservação da Amazônia, dos povos indígenas e dos direitos humanos sejam implementadas no país, afirmam analistas políticos que conhecem o democrata e a política norte-americana.

“Com o Biden vai haver conversas sobre Amazônia e direitos indígenas porque isso é politicamente importante para ele”, afirma o consultor político e jornalista Thomas Traumann.

A questão ambiental no Brasil, os incêndios na Amazônia, a devastação da floresta e a proteção das culturas indígenas são temas importantes e estão na agenda internacional, diz Roberto Abdenur, membro do conselho curador do Centro Brasileiros de Relações Internacionais (Cebri), embaixador do Brasil nos EUA de 2004 a 2006 e diplomata durante 45 anos.

O embate direto entre Biden e o presidente Jair Bolsonaro já começou, segundo Abdenur: “Bolsonaro reagiu às manifestações do Biden de forma agressiva, dizendo que somos soberanos e não estamos para ser subornados, como se fosse um suborno. Ele coloca a coisa de uma forma negativa, equivocada, agressiva”.

Aproximação com a América Latina

Porta-voz da presidente Dilma Rousseff durante parte do governo dela, Thomas Traumann conhece pessoalmente Biden por um laço familiar: um tio dele, o americano Wesley Barthelmes, foi chefe de gabinete de Biden.

Biden é o político de grande projeção dos EUA que compreende melhor o Brasil, segundo Traumann. O ex-vice-presidente dos EUA foi do comitê de política internacional do Senado durante décadas.

Em um momento do governo Obama, a secretária de Estado, Hillary Clinton, ficou responsável por tratar de temas de Oriente Médio e Europa, e Biden acabou se aproximando dos governos da América Latina.

Obama foi o presidente norte-americano que anunciou o início de uma normalização das relações com Cuba, no fim de 2014. As negociações foram secretas, intermediadas em parte pelo Vaticano. Biden, que é de origem católica (os EUA são de maioria protestante), foi quem articulou com senadores e deputados para que o acordo fosse firmado, diz Traumann.

Biden veio com frequência ao Brasil. Ele chegou até a ver o time dos Estados Unidos jogar contra Gana em Natal na Copa de 2014. Os americanos ganharam a partida por 2 a 1.

O então vice-presidente dos EUA se aproximou da então presidente brasileira, Dilma Rousseff. De acordo com Traumann, Biden era um dos políticos estrangeiros com quem Dilma tinha boas relações. Ela ligava para Biden para entender melhor questões de conjuntura internacional, como a Primavera Árabe.

“No começo das marchas de 2013, ele veio ao Brasil. Pegou avião de Washington, veio para cá e conversou durante duas horas, isolado. Não foi oficial, só estavam ela [Dilma] e o embaixador”, conta Traumann.

Em um jantar com correspondentes estrangeiros em 2014, Dilma chegou a afirmar que Biden é “um sedutor”.

Em diálogos, ele prestava atenção às questões que os dirigentes brasileiros levantavam e, posteriormente, dava uma resposta.

Jantar com Temer

Biden teve pelo menos uma reunião com o ex-presidente Michel Temer em Washington. Sergio Amaral era o embaixador do Brasil nos Estados Unidos e esteve presente.

“Ele tinha uma visão muito positiva da América Latina e disse que nós não podemos deixar de aproveitar uma chance histórica, em que a grande maioria dos países do continente são democracias, tinham feito importantes reformas econômicas e estavam preparados para voltar a crescer mais”, afirma Amaral, que hoje é membro do conselho curador do Cebri.

O democrata é uma pessoa “extremamente atenciosa e reflexiva”, diz Amaral.

Demandas internas

A ala mais à esquerda do Partido Democrata vai pressionar o governo de Biden a exigir mais medidas de proteção da Amazônia, afirma Amaral.

“Ele vai enfrentar pressões de movimentos ambientalistas, de movimentos mais comprometidos com as questões políticas mais progressistas, e não ter a convergência que existe hoje com o Brasil.

Além disso, há as questões econômicas e geopolíticas. O Brasil e os EUA são concorrentes em alguns mercados, especialmente o agrícola, e parceiros comerciais em outros.

“Deve haver uma disputa por influência com a China por mercado em pontos como o 5G, que é simbólico”, afirma Traumann.

Fonte: G1

Ponto de Vista

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