Adauto José de Carvalho Filho
Os envolvidos nos escândalos do mensalão, petróleo e os próximos que estão por vir, e já são esperados, banalizou mais um termo que tinha uma conotação respeitável: biografia. A maioria dos réus e agora condenados ou indiciados invocou, em suas defesas e nos desabafos após a condenação, o orgulho de sua biografia.
Biografias?
Sim amigos. Eles, no insano devaneio dos que foram pegos com a boca na botija e sujaram de lama a cidadania brasileira e as próprias biografias, apelam para um recurso que, com suas posturas criminosas no exercício de cargos públicos ou mandatos políticos, já não faz sentido, invocar.
Biografias e que biografias!
Fazendo uma reflexão séria e com a boa vontade comum ao cidadão brasileiro, procuro, nas alegadas biografias, o que há de tão nobre a ponto de superar condutas sujas praticadas nos tais escândalos. O que esses brasileiros deixaram de si senão o rastro de lama e de uma falsa democracia, enquanto tramavam a continuidade do poder e, para tanto, faziam caixa 2 com o meu e o seu dinheiro. Sem citar o fato que bandidos também tem biografias.
Já assistimos a banalização das palavras ética, cidadania, Constituição Federal, sociedade, povo e, agora, biografia. O que mais admiro “neles” é a fantástica capacidade de dissimularem os fatos e apelarem para o abstrato na justificativa de fatos concretos. A condenação pelo STF e as quye se ensaiam são fatos concretos e respeitáveis e apenas tornou público uma parte das biografias desses Macunaímas que era mantida sob o manto da falsa moralidade e da falsa simbologia de heróis.
O mais grave: tratam uma investigação federal e decisões do Supremo Tribunal Federal (STF), com desdém. Eu vou respeitar a decisão… Eu vou respeitar? Ele é obrigado a respeitar e cumprir. O enorme tapete vermelho com que imaginavam serem recebidos para um falso julgamento transformou-se no vermelho da vergonha nacional. Homens até então com estatura política não passavam de meros cupins democráticos. Um STF que imaginavam manobrar mostrou que a principal característica de um Estado democrático é a separação dos poderes. Apesar das derrapadas de alguns juízes, com visível passionalidade, a maioria dos magistrados mostrou que a justiça brasileira não está definitivamente morta e começou uma nova história.
Voltemos as biografias.
Um ex-presidente afirmou, no alto da arrogância dos falsos democratas, que não permitiria que o STF escrevesse o último capítulo de sua biografia… O Secretário-Geral da Presidência da República se emocionou e até chorou ao comentar a condenação de tão “ilustres” autoridades… Alguns réus invocaram suas biografias e até uma tal de Araguaia veio à tona. Após a queda do véu da dissimulação e dos exemplos de roubo à rês pública, uma pergunta fica no ar. O que realmente aconteceu nessa tal Araguaia?
A idéia guardada na memória de um adolescente de 14 anos de idade era a de pessoas heroicamente lutando contra o poder de chumbo e em prol da libertação. Aqueles heróis venceram e assumiram o poder e como dizem que o poder corrompe a realidade conhecida, por enquanto, é a falta de posturas éticas, de atentados contra a democracia e a liberdade de imprensa e expressão e a criação de um fundo, um verdadeiro fundão, para patrocinar a permanência no poder de muitos que nasceram déspotas e que se mostravam democratas com o machado e a foice escondidos nas gavetas de suas importantes mesas de trabalho.
As biografias dos republicanos da Araguaia eu não sei como ficarão ou se, sequer, tem biografias. Agora, o poder judiciário começou a escrever uma nova página da história do Brasil, na qual a justiça não é cega, embora imparcial, não é surda, embora atenta, e manca. Os passos trilhados mostram isso. Que não acreditar que se apresente. A novidade nessa nova página da história é que homem público desonesto é um paradoxo. Os homens, a partir desse novo momento histórico, terão de optar por serem públicos ou desonestos. Para os primeiros, o reconhecimento social. Para os segundos, cadeia.
Acho que escrevi demais. Minha netinha me chama para niná-la e, como prometi, contar uma bela história, que persiste nas lembranças de minha meninice e no colorido mundo dos sonhos e fantasias de uma criança: ALI BABÁ E OS QUARENTA LADRÕES.
E onde estará Ali Babá?
Nem olhe pra mim. Eu escrevinho artigos e crônicas. Não escrevo histórias infantis. Apenas mantenho a tradição de pai para filho de contar histórias de ninar, como uma forma de proporcionar à minha neta a ideia de um país honrado pelos seus filhos que, em vez de invocarem duvidosas biografias, humildemente escrevem a história, como a história deve ser escrita.
Por fim, deixar claro que político em busca do poder pelo poder é um animal feroz, perigoso e predador… aconselho a sair da frente
Calma Isadora, vovô já vai!
Adauto José de Carvalho Filho, Auditor-Fiscal aposentado, Bacharel em Direito, pedagogo, contabilista, escritor e poeta.
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