BIOTÔNICO FONTOURA –
Quando pequena fui muito chata para comer. Mamãe sofreu tentando me fazer aceitar “comida de panela”. Não gostava de jeito nenhum. Gostava mesmo de Danoninho, Biscoito São Luiz (hoje conhecido como Biscoito Bono), Sucrilho e estas bobagens.
Era magra demais, enjoada demais.
Então, já um pouco maior, lembro de mamãe dando um líquido estranho ao meu irmão do meio. Era Biotônico Fontoura! Para abrir o apetite. Provavelmente, recebi minha dose de Biotônico. Talvez escondida de alguma forma. Mas, tenho certeza que sim, pois meu apetite abriu.
Não quando eu tinha cinco ou dez anos. Nem aos quinze ou dezenove.
Foi depois dos vinte e dois. Quando descobri o prazer de um bom prato. De comidas coloridas (não só os Confetti ou os M&M!) e variadas (não só as caixas de chocolate Nestle). Aprendi a comer e a amar comer e, assim ganhei uns quilinhos.
Aliás, como filha de bom paraibano, respeito minhas origens. Gosto de forró, xote e quadrilha. por isso, tenho funcionado como uma sanfona no peso. Dois pra lá. Dois pra cá. Algumas vezes mais de dois, poucas vezes menos que dois.
Hoje, tenho me cobrado menos os números na balança e continuo amando comer bem. Como sempre disse aos alunos que passaram por minhas aulas:
– Tudo vão culpar as mães. Cárie de mamadeira? Culpa da mãe. Gengiva sangrou? Culpa da mãe, que não obrigou o menino a escova.
Assim, hoje vou culpar minha mãe pelo Biotônico Fontoura. Nem sei se tomei mesmo, mas tenho certeza que ela rezou tanto para eu comer direitinho que a oração fez efeito.
Sempre a culpa é da mãe…
Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista, professora universitária e escritora