BODAS DE TITÂNIO
Dia desses assisti, num programa noturno de televisão, entrevista com um casal de velhinhos beirando uma centena de anos vividos. Comemoravam suas oitenta primaveras de convívio. Alcançavam o estágio das Bodas de Titânio – essa denominação foi criada por este articulista, pois o marketing sem conceber um casamento com tamanha duração desprezou a denominação para tais bodas.
Certamente, os velhinhos acumularam um invejável cabedal de informações e de experiências que os levaram às comemorações do aniversário daquela penca de anos de suas núpcias. O fato me chamou a atenção, primeiro, pela longevidade dos participantes do evento e, segundo, pelo exemplo de tolerância e entendimento por tanto tempo num relacionamento a dois.
Certa feita, emprestando o ouvido para o tiroteio de lamúrias de um amigo em processo de separação, comentei: Meu caro, viver é muito difícil. E ele me rebateu: Discordo! Viver é fácil, o difícil é conviver. Nunca me esqueci dessa observação e ao longo da vida pude, por diversas vezes, constatar essa afirmativa. Se a convivência esporádica ele acha difícil imaginemos o que seja conviver por 80 anos ao lado de uma única pessoa.
Com tantos títulos de livros de autoajuda em circulação no mercado, os velhinhos das Bodas de Titânio prestariam um excelente serviço aos casais em crise, se descrevessem a sua história de vida em publicações do tipo: “Noções de Boa Convivência Aplicáveis em Matrimónios” ou “Regras Básicas para um Casamento Duradouro” ou ainda “Como Chegar às Bodas de Titânio”. O sucesso seria estrondoso!
Diz o entendimento popular que o casamento passa por diversas crises em diferentes bodas ou estágios do relacionamento. Tem a crise das Bodas de Lã – quando atinge os sete anos de duração; a crise dos quinze anos do sim – ou das Bodas de Cristal; ou ainda, as perigosas crises das Bodas de Porcelana e das Bodas de Prata, quando se chega, respectivamente, aos 20 ou aos 25 anos de vida em comum.
Vencidas essas fases o casamento tende à estabilidade. Alguns atribuem a consistência do enlace, depois desse período, ao fato de caso se separarem, tanto o marido quanto a esposa, dificilmente conseguirão um outro relacionamento seguro. É quando vem a lembrança a máxima que diz: por que deixar o certo pelo duvidoso? Outros atribuem a decisão extrema da separação à garantia do dito popular: antes só que mal acompanhado.
No fundo, todas as tentativas de justificar um relacionamento desfeito não passam de meras especulações. Cada caso é um caso. Todos entendem possuir as suas razões para a separação e a elas se apegam com unhas e dentes.
Mesmo que sejam as mais absurdas possíveis e imagináveis. Alguns, com menos de um ano das núpcias – Boda de Algodão – descobrem a burrada que cometeram. Outros, com 30 – Bodas de Pérola -, 40 – Bodas de Esmeralda – ou 50 anos de casados – Bodas de Ouro -, decidem por fim trocar de parceiro.
O segredo do casamento duradouro não deixa de ser um exaustivo, paciente e inteligente exercício de convivência temperado com pitadas de compreensão, tolerância, respeito, dedicação, humor, renúncia, admiração, camaradagem, cumplicidade e, certamente, determinada dosagem de amor.
Em tempo: o titânio é um metal dúctil, ou seja, de fácil manipulação que não se oxida quando exposto às intempéries; adequado, portanto, para qualificar um casamento com 80 anos de duração.
José Narcelio Marques Sousa é engenheiro civil
Meus cuidados são redobrados tenho muito medo já tive Covid 19 em maio depois da segunda dose que tomei!
Boa reflexão.