BOI-DE-MAMÃO –
Boi-de-mamão é festa folclórica trazida pelos açorianos, quando da colonização de Santa Catarina, cuja capital Florianópolis, antigamente denominada Desterro, recebeu os portugueses, que fincaram suas raízes culturais em terras tupiniquins.
Não se pode esquecer, todavia, que a celebração de outra festividade similar começou no Piauí, denominada Bumba Meu Boi, vindo a espalhar-se pelo norte e nordeste do país, recebendo no Maranhão o galardão da UNESCO, como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade.
As estórias do Boi Voador permearam o embasamento civilizatório de uma época colonial, fixando este animal um novo ideário de progresso do mundo rural e extrativista, durante as invasões holandesas, quando Caspar Barlaeus, responsável por escrever as memórias do Príncipe Maurício de Nassau, registrou que não há pecado abaixo da linha do Equador (ultra aequinoxialem non peccari).
O boi – dito bos taurus-, foi trazido da Ilha da Madeira por Martim Afonso de Souza, por volta de 1531, dando início ao ciclo canavieiro brasileiro, elemento responsável pela configuração desenvolvimentista atual.
Sem dúvida, este animal lento e vigoroso sempre simbolizou a força, a virilidade e a fecundidade, desde os tempos mitológicos de Mênfis, no Egito, época em que o Touro Ápis, considerado animal sagrado, representava a intermediação da deificação humana.
O touro e o homem, desde os primórdios civilizacionais, guardam uma forma identitária a miscigenar o sagrado no universo dos deuses e semideuses.
Assim, o boi-de-mamão e o bumba meu boi, com suas cantorias e danças, espraiaram-se pelas margens litorâneas do Brasil, trazendo alegria e felicidade aos formadores de uma nação transatlântica, meio ao banzo negreiro e o multifário ameríndio, miscigenando costumes e gentios.
Além, boi-de-mamão e bumba meu boi, o primeiro hifenizado ainda e, o segundo, que perdeu o hífen a partir do questionável acordo ortográfico (AO90), exemplificam a incongruência da irracionalidade linguística dos idiomas francês e português, únicos a gerar o sinal gráfico do hífen, como elemento de união semântica.
Verdadeira barafunda de regramentos esdrúxulos, buscados através dos tempos por literatos de plantão na consecução de gramáticas, enunciadas como modernas, novas, novíssimas, a mais nova e atualizada, preocupados tão somente com a natureza mercadológica e a vaidade humana.
Exceções às regras escancaram este destempero, inexistentes nos demais idiomas, devendo-se enobrecer os trabalhos da Real Academia Espanhola no trato da união semântica.
A propósito, ao autor lhe foi outorgado o Prêmio Nacional Antenor Nascentes pela Academia Brasileira de Filologia, quando trouxe a lume o livro A INFERNIZAÇÃO DO HÍFEN, alusivo à hifenização na Língua Portuguesa, procedimento inexistente nos pródomos do idioma, a feitio do inglês e demais línguas existentes no mundo.
Uma obra considerada gigantesca na perquirição histórica do idioma, ora referência historiográfica mundial entre a Comunidade dos Países da Língua Portuguesa – CPLP.
José Carlos Gentilli – Escritor, membro da Academia de Ciências de Lisboa e Presidente Perpétuo da Academia de Letras de Brasília
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