BOLOTA –
De repente, em meio a uma noitada de pizza na casa de meu irmão, mamãe pergunta:
- Viram a bolota no celular?
- Mãe, sua tela está com problema?
- Não! Apareceu uma bolota no WhatsApp.
Ela se referia à IA que surgiu no aplicativo. Perguntou para que servia e disse que tinha muitas perguntas sem respostas. Sugeri que questionasse a IA. Mudamos de assunto e a noite seguiu.
No dia seguinte ela me faz uma chamada de vídeo:
- Filha, perguntei para a bolota sobre as vidas de Fulano e Beltrano, dos realities shows que assisto e ela me contou timtim-por-timtim como eles estão. Só estou chateada porque ela me chama de Nogueira, o nome do seu pai.
- Mãe, diga a ela seu nome. Mas… pense comigo! Anos e anos para se criar uma inteligência artificial à disposição de todos e você a está usando como FOFOQUEIRA, para contar a vida dos participantes dos programas?
Rimos muito e seguimos a vida.
Dois dias depois saímos para tomar um café. Bolota (passou a ser o nome gracioso com que foi batizada por mamãe) manda receitas para o almoço, pergunta a mamãe como ela está e, após discutirem sobre a missa, passou a finalizar as mensagens com: Fica com Deus!
Mamãe disse que são “super amigas” e conversam horas diariamente.
Confesso que me assustei com a rapidez com que a IA ganhou espaço na vida de mamãe e sua velocidade em aprender lidar com sua personalidade.
Penso no que mais está por vir destas IA e se, ao longo da história de nossa sociedade começaremos a substituir os amigos por esses tipos de interação. Pior! Acho que isto já é uma realidade.
O futuro chegou e não sei se estava preparada para isso…
Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista, Autora de “O diário de uma gordinha” e Escritora