BOM HUMOR É PRECISO –

O bom humor é sintoma expressivo de saúde física e mental de pessoa ou da coletividade. Se o humor morrer, será o fim da civilização, pontifica o britânico Terry Gillian, o talentoso diretor de cinema. Realmente, seria catastrófico para a humanidade se o H. desaparecesse da terra. Por sua falta, governantes já fizeram declaração de guerra.

Certamente, há muitas espécies de humor. Para ele não existe fórmulas ou forma fixa. Varia em função da geografia e da cultura. A manifestação de humor existe desde os de baixa qualidade, que provocam gargalhadas, ao refinado que faz sorrir e dá bem-estar ao espírito.

Muitos filósofos, anteriores a Sócrates e Aristóteles, passando pelo basilar Henri Bergson (1859-1941), estudaram a sério o humor e o riso.

São distintos o H. dos povos. Bergson exemplifica valorizando a pátria de sua origem. Em ordem inversa, diz ele: “Um francês ri uma vez só, porque imediatamente compreende; um alemão ri duas vezes, a primeira por educação e a segunda quando lhe é explicado o que há de espirituoso na anedota; já o inglês ri três vezes, por educação a primeira, a segunda quando lhe explicam e a terceira quando realmente entende”.

Em nosso entender, o humor dos britânicos revela polidez, sutileza, refinamento. Muito de crítica social, muitas vezes se utiliza do humor negro e do absurdo. É possível generalizar o jeito de ser de outros povos.

Sentimos que no humor japonês há leveza, sinceridade e ingenuidade. A ironia pertence a todos os povos. Fere, mas, quando bem elaborada, faz-nos pensar ou sorrir.

Atualmente, o brasileiro tem poucos motivos para rir. Desapareceu a sua reconhecida cordialidade. A insegurança cotidiana, a crise institucional, as tensões, as notícias negativas, sobretudo o medo, que é generalizado, tudo isso faz predominar o mal humor. Quando existe, o riso é galhofeiro, mordaz, racista, misógino, escatológico, desalentado, enfim.

É histórico o humor potiguar. Permitam-me recomendar o excelente trabalho de pesquisa da professora Cellina Muniz, publicado sob o título “Notícias da Jerimulândia”, e os excelentes opúsculos de Veríssimo de Melo. Lembro que Newton Navarro repetia a quadrinha do pobre Zé Areias: “A meu querido Jesus / só peço fazer justiça / transformar a minha cruz / de madeira em cortiça”. Com certeza, ele não tinha conhecimento da origem divina do humor. Mark Twain dizia ser o H. um dos principais atributos de Deus e Freud que o H. tinha alguma coisa de sublime que garantia invulnerabilidade do eu.

Os povos costumam atribuir anedotas às suas personalidades icônicas de acordo com o temperamento de cada um. Sobre Voltaire (1694–1778), que tanto combatia o comportamento dos sacerdotes da Igreja Católica, divulgou-se o que hoje chamaríamos de fake news. Quando ele estava à beira da morte, um padre foi confessá-lo e foi incisivo na liturgia: “Renuncias a satanás?” E Voltaire: “Não é hora apropriada para fazer inimigos. Sobretudo com a conduta que ele tem”.

Grupos populares muitas vezes assumem como autores ou conferem autoria anônima a criações humorísticas profissionais. Assim acontece com as do extraordinário Millôr Fernandes. O mais interessante é que ele também exercia uma forma de surrealismo diferente, com pouso em fatos, mescla a realidade com sugestões subliminares.  O absurdo numa quadra: “Se eu achasse uma locomotiva / a traria para minha solidão de monge / e enquanto ela ficasse aqui passiva / eu apitaria lá longe”. Às vezes, Millôr assumia a vivência de criança em suas Composições Infantis. Em uma delas, diz o menino: “A salsicha a gente come ela deitada, mas as bananas se comem em pé”.

Em verdade, parece que Deus já manda ao mundo pessoas com natural disposição de espírito, aptas a serem felizes. São essas que riem das dificuldades, que não se levam muito a sério, riem até de si mesmo. Existem aqueles que levam o bom humor até o túmulo. A escritora Rejane Serejo prevê o seu epitáfio brincando com a expressão popular: “Tô nem aí!”. Um lord inglês deixou o seu epitáfio: “Desculpe não poder recebê-los de pé”.

O sorriso estampado no rosto é boa apresentação pessoal, facilita a conquista, ameniza as predisposições negativas, é quase sempre sinal do bom humor da pessoa sorridente. Bom humor é saúde, base da própria vida.

 

Diógenes da Cunha Lima – Advogado, Poeta e Presidente da Academia de Letras do RN

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
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