BONITO PRA CHOVER –

 Recentemente ouvi de um repórter de TV numa reportagem sobre o tempo, fazer este comentário: Está bonito pra chover! Lembrei então do quanto escutava tal expressão nas minhas andanças pelos interiores do Rio Grande do Norte e da Paraíba. Tratava-se da manifestação mais autêntica de esperança brotada do âmago do sertanejo, desejoso de afastar o espectro de mais um ano de seca no seu rincão.

Em vez de dizer O tempo está fechado para chover ou Nuvens indicam que teremos chuva! O nordestino simplifica a frase premonitória e benfazeja dizendo: Bonito pra chover! São nessas ocasiões e com ditos dessa natureza que se constata, no fraseado simples, caipira ou matuto, a beleza do falar do nosso povo.

O Brasil possui duas línguas oficiais: Português e Libras – Língua Brasileira de Sinais. Contudo, o Censo de 2010 contabilizou 305 etnias indígenas falando 274 línguas diferentes no país. O linguajar nordestino bem que poderia se enquadrar como dialeto regional, por conta de suas peculiaridades, caso contrário vejamos:

Artigo novo é zerado

Armadilha é arapuca

O doido é abirobado

Invencionice é infuca

O matuto é mucureba

Qualquer ferida é pereba

Falam-se em determinadas regiões do país variados dialetos. Porém, somente o palavreado do nordestino é considerado errado, pobre e até desdenhado, quando, na verdade é apenas diferente e rico.

Briga pequena é arenga

Enganação, esparrela

Toda prostituta é quenga

Rapapé é confusão

De repente é supetão

                                Insistência é lenga-lenga

Ninguém estranha quando o mineiro diz uai, trem, ocê, procê, barango, bobiça e ansdionte (antes de ontem). O gauchês é tão rico em expressões e gírias que nem todo gaúcho entende, mas que todos preservam como parte da tradição e do folclore de um povo miscigenado por várias etnias.

Quem é ruivo é fogoió

O tristonho é distrenado

Tornozelo é mocotó

Cheio de grana, estribado

Jarra de barro é quartinha

O banheiro é a casinha

Sem saída, “tá pebado”

Precisamos, sim, preservar e divulgar a riqueza cultural da nossa gente e região, como o fez o dramaturgo Ariano Suassuna e como se manifesta a cordelista cearense Josenir Amorim Alves de Lacerda, autora dos versos que intercalam este texto.

Se alguém é desligado é chamado de bocó,

Broco, lerdo e abestado, azuado ou brocoió,

Arigó e Zé Mané, sonso, atruado, bilé,

Pomba lesa e zuruó.

 

 

 

José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro e Escritor

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