O mercado editorial pode ter quase naufragado com o fechamento do comércio para conter a pandemia do novo coronavírus no Brasil, mas os boxes de livro emergiram durante os meses de quarentena.
Em março, abril e maio, dez boxes ficaram entre os 20 livros mais vendidos no país, segundo levantamento feito com 20 livrarias e pontos de venda pelas consultorias Nielsen e PublishNews.
Para editoras ouvidas três fatores explicam o boom das caixas de livro:
- Preço mais baixo que o de livros individuais;
- Pessoas passando mais tempo em casa e com mais tempo livre;
- Aumento das vendas on-line, onde os boxes encontram mais saída.
O custo-benefício é o maior trunfo dos boxes. “É uma oportunidade de levar mais livros de uma forma mais barata”, diz Daniela Kfuri, diretora de marketing e vendas da HarperCollins.
Os leitores quase sempre esperam promoções para comprar livros e deixam isso bem claro para as editoras e livrarias nas redes sociais e outros canais de comunicação, conta Juliana Santoros, editora da Pandorga. Segundo ela, os boxes são o melhor produto para oferecer promoção e não perder muito no preço.
O tempo encontrado dentro de casa, que antes se perdia no trânsito ou em saidinhas diluídas, é propício para leituras mais longas, concordam os editores. “As pessoas se viram com mais tempo disponível. Por isso, livros em série, que geralmente são vendidos em box, ou livros do mesmo autor passaram a ser uma leitura viável, e não uma leitura que poderia demorar muitos e muitos meses”, diz Mayara Zucheli, editora da Martin Claret.
Por fim, o aumento das vendas em lojas on-line também influencia esse comportamento. “Essas caixas costumam ter aceitação melhor nas livrarias on-line, são elas que promovem esse formato. Como esse é um momento da presença mais forte de vendas pela internet, isso se reflete nos números gerais”, diz Marcelo Levy, diretor comercial da editora Todavia.
O que faz um box dar certo
Segundo Mayara Zucheli, os boxes de obras clássicas e bem aceitas no mundo todo costumam ter sucesso. É difícil que um livro novo no mercado funcione em caixa porque as pessoas não se sentem seguras para investir tanto em um autor que não conhecem.
Acabamentos bonitos costumam fisgar os leitores, explica Zucheli. A editora da Pandorga, Juliana Santoros, também diz que a qualidade estética é um dos pontos-chave na hora de editar uma caixa. “Buscamos um trabalho gráfico e visual que materialize a obra original, de preferência incluindo ilustrações originais, como fizemos com ‘Alice no país das maravilhas’ e ‘O mágico de Oz’.”
Mas um pouco de modernidade é preciso, com a incorporação de design de capa e texto que estejam em alta no momento.
Guardar surpresas para os leitores pode ser um detalhe de sucesso, segundo Santoros. A editora costuma rechear os boxes com pôsteres e marcadores dos autores ou das histórias. “O que mais atrai o leitor é esse conjunto, que traz uma experiência completa à leitura.”
As editoras já tinham percebido uma ascensão das vendas de boxes antes da pandemia. Mas com o boom da quarentena, elas aumentaram os projetos de lançamentos de caixas e já estudam potenciais junções de temas e gêneros para os próximos meses, inclusive de livros de não-ficção.
Amor, terror e fantasia
A lista dos boxes mais vendidos de março a maio foi dominada por romance, terror, fantasia e investigação:
- Box Jane Austen, com “Orgulho e preconceito”, “Persuasão” e “Razão e sensibilidade” (Martin Claret)
- “Box nórdicos” (Pandorga)
- “Caixa Bone – Série completa” (Todavia)
- Box Edgar Allan Poe, com “O corvo e outros contos”, “O gato e outras histórias extraordinárias” e “O escaravelho de ouro” (Pandorga)
- Box Lewis Carroll (Pandorga)
- Box “As grandes histórias de Sherlock Holmes” (Pandorga)
- “O essencial Sherlock Holmes” (Aeroplano)
- Trilogia “O senhor dos anéis” (HarperCollins)
- Box “Harry Potter” (Rocco)
- Coleção Jojo Moyers, com “Como eu era antes de você”, “Depois de você” e “Ainda sou eu” (Intrínseca)
- Box “Terríveis mestres” (Novo século).
Fonte: G1