Entre os principais fatores de risco para a retomada e de freio para o PIB, estão o agravamento da crise hídrica, as preocupações com a trajetória das contas públicas (risco fiscal), a maior tensão política e antecipação da disputa eleitoral, a trajetória de alta da taxa básica de juros, o desemprego elevado e, principalmente, a inflação nas alturas.
“Mais de 60% do PIB do lado da demanda é consumo das famílias. Então, num cenário inflacionário e de baixo emprego, e com cobertor curto para as políticas redistributivas, o espaço para o aumento do consumo das famílias é muito baixo”, avalia Matos.
Nesta semana, deputados e senadores aprovaram um projeto que permite ao governo federal abrir espaço no orçamento para bancar o Auxílio Brasil, programa social que o presidente Jair Bolsonaro pretende lançar para substituir o Bolsa Família. O texto autoriza o governo a contar com projetos ainda não aprovados para compensar gastos.
“Os desafios orçamentários para 2022 continuam substanciais, elevando a probabilidade de que o governo recorra a malabarismos fiscais – o que poderia continuar a deteriorar a percepção de risco soberano brasileiro, retardando a descompressão cambial e ampliando os riscos inflacionários”, alertou, em nota, a equipe da LCA Consultores.
Para piorar, a atividade econômica chinesa vem mostrando sinais de forte esfriamento, o que além de prejudicar as exportações brasileiras de países emergentes como o Brasil também contribui para manter o câmbio pressionado.
Desemprego alto e renda em queda
O desemprego no país também continua muito distante da registrada em 2013 e em 2014, quando a taxa média chegou a recuar a 6,8%, o que faz com que o rendimento do trabalho ainda continue em queda no país.
Segundo dados do IBGE, o desempregou recuou para 13,7% no trimestre encerrado em julho, mas o rendimento real habitual do trabalhador ficou em R$ 2.508 o que representa uma queda de 8,8% na comparação com julho de 2020.
Na visão da economista, a incerteza deverá permanecer elevada pelo menos até as eleições presidenciais do ano que vem, e até que haja maior clareza sobre a perspectiva para trajetória e sustentabilidade das contas públicas.
“Num cenário de um governo com menos tensão política e uma agenda reformas, pode haver espaço para uma valorização cambial, o que ajudaria a segurar a inflação e a deslanchar investimentos. Isso poderia permitir até mesmo uma redução de juros em 2023”, avalia.