A 22 de julho traz-nos à lembrança o aniversário da cidade de Juazeiro do Norte.
Da história e da lenda, diziam na origem ser uma minúscula vila do sertão cearense do Tabuleiro Grande, a cerca de duas léguas do Crato, com apenas algumas choças e poucas casas de taipa, em contorno imperfeito à capela. Em dezembro de 1871 um jovem padre de 27 anos, chegava à vila no lombo de uma burra, com alforjes, com livros e alguns poucos haveres. Era o Padre Cícero Romão, que ao chegar à capelinha de Nossa Senhora das Dores, como era véspera de Natal, decidiu oficiar a missa do Galo.
Assistiram ao ofício os pobres do lugar e alguns condutores de rebanhos de cabras com destino ao Crato com pouso na corrutela. Meses após, em abril de 1872, Padre Cícero decidiu regressar à Vila e se fixar, com sua irmã e um casal de primos.
A extremosa decisão de se dedicar ao povo de uma minúscula vila no esconso sertanejo o Padre revelou que o foi compulsado por um sonho.
Enquanto estava espojado em uma rede, o jovem sacerdote Cícero teve a visão do próprio Senhor Jesus Cristo, tendo próximos os doze apóstolos sentados a uma mesa, e de súbito um aglomerado de peregrinos esfomeados e descalços aproximavam do lugar. Ouviu a voz do Senhor que dizia lamentar-se com a humanidade, mas que iria fazer esforços e sacrifícios para salvar o mundo. Alteou as palavras na direção de Cícero:
“E você, Padre Cícero, tome conta dos pobres do sertão!”.
Seguiu-se a sua memorável história em um périplo humanitário. O Padre tratou de mudar os costumes deturpados da santidade da vila e tornou comum a prática dos sacramentos. Inspirado por Padre Ibiapina, Padre Cícero criou as Casas de Caridade, organizações tocadas por beatas e que visavam a levar educação, saúde e auxílio religioso ao povo.
As Casas de Caridade se espalharam pelo entorno de Juazeiro, sendo a mais famosa delas situada no Sítio Caldeirão sob o comando do beato José Lourenço. Inúmeras oficinas foram criadas, com destaque para as de produção de velas, imagens sacras e calçados. O jeito simples e carismático do padre contagiava a população que cada vez mais se entregava à religião e ao trabalho (Fonte: Milagre em Joaseiro, Della Cava, Ralph).
Foi a 4 de outubro de 1911, que Padre Cícero e outros dezesseis líderes políticos da região firmaram um acordo de cooperação entre si e apoio ao governador Antônio Pinto Nogueira Accioli. Acontecimento que ficou conhecido como pacto dos coronéis e representa um marco na história do coronelismo brasileiro.
Já no ano seguinte, o então presidente da República Hermes da Fonseca depôs o governador Nogueira Accioli e nomeou o coronel Marcos Franco Rabelo como interventor do Ceará.
Houve eleição apenas para vice-governador onde Padre Cícero foi o escolhido. Após assumir o posto, Franco Rabelo rompe com o Partido Republicano Conservador (PRC) e passa a perseguir Padre Cícero, chegando a destituí-lo da prefeitura de Juazeiro e a mandar um batalhão da Polícia estadual prender o padre.
Entrou na cena um personagem vital para Juazeiro do Norte, o médico Floro Bartolomeu (braço direito do padre) que reuniu jagunços e romeiros para proteger Padre Cícero. No breve espaço de uma semana, os romeiros cavaram um valado de nove quilômetros de extensão cercando toda a cidade e ergueram uma muralha de pedra na colina do Horto, a fortificação recebeu o nome de “Círculo da Mãe de Deus”. Registrou-se que o batalhão ao sentir que seria impossível romper o círculo, recuou e pediu reforços.
Por fim vitoriosos, os romeiros retornam a Juazeiro desarmados e desocupam as cidades tomadas durante a sedição.
Hoje Juazeiro é um município de enorme efervescência cultural. Resultado de pesquisas recentes dão conta de que Juazeiro do Norte possui a maior em população envolvida em atividades culturais. Esse polo de cultura tem registrados junto a secretaria de cultura do estado 72 grupos de cultura popular. São variados grupos folclóricos de reisado, maneiro-pau e malhação de Judas, entre outros. A literatura de cordel e a xilografia também são bastante difundidas, especialmente em função da Academia de Cordelistas de Juazeiro do Norte e a Lira Nordestina da Universidade Regional do Cariri.
Logo iremos comemorar a consagração do Beato de Roma Cícero Romão Batista.