Carlos Alberto Josuá Costa
“As crianças são os apóstolos de Deus, enviadas, dia a dia, para pregar o amor, a esperança e a paz.” (James R Lowell)
Guardo alguns brinquedos que fizeram a alegria de meus filhos, há pelo menos 30 anos: um carro de Bombeiro, bate-e-volta, luz pisca-pisca no teto, movido à pilha, da Estrela; um vídeo game System, Atari 2600 VCS da Gemine, além do famoso e eterno Banco Imobiliário.
Já dos meus brinquedos, que eram encantadores, resta apenas a lembrança e a certeza de uma infância feliz: espada feita de cabo de vassoura, carro feito de lata de óleo de cozinha, patinete com rodas de rolimã, revólver feito de madeira (ao estilo Rock Lane), perna de pau, telefone feito com cordão e lata de leite condensado, jogo de castanha, bola de gude, coruja (pipa) com palitos de coqueiro, roda guiada com arame, cinema feito com caixa de sapato e tiras de revistas, e outras maravilhas da época criativa.
Hoje, quanto brinquedo!
Fui visitar um casal amigo cujo filhinho de apenas três aninhos, tinha o seu quarto repleto de prateleiras cheinhas de brinquedos, muitos deles ainda nem abertos. Você visualizou apenas as prateleiras, não foi? Mas o chão também abrigava tantos e tantos brinquedos empilhados, que o próprio pai da criança, denominava-o de “depósito”.
As crianças estão ganhando presentes demais?
Os brinquedos têm sua importância no processo de aprendizagem da criança, pois através do brincar, contribuem no desenvolvimento e formação da personalidade, pelo fato de experimentar situações, emoções e informações até então, novas.
Interessante é que o brinquedo é puramente democrático e ausente de qualquer ação discriminatória: ele atende a todos os credos, raças, classes sociais e são utilizados igualmente por crianças que sejam ou não portadoras de alguma deficiência.
O brincar é um direito de toda a criança. Porém pais e professores e até profissionais que participam do desenvolvimento cognitivo e motor da criança, devem ter consciência de quanto é importante propor certo brinquedo ou brincadeira a uma criança, pois dependendo da complexidade que ambos possam apresentar, poderá influir no interesse da criança em explorá-los.
Como vão sendo acumulados tantos brinquedos?
Pais, tios, avós, primos, padrinhos, amigos, são os abastecedores naturais. Somem-se a eles, as datas comemorativas: Aniversário, Dia da Criança, Natal, Dia do Amiguinho, e tal e tal.
Tem até aquele presenteado voluntariamente, quando ao passar por uma vitrine, e “contaminado” pelo vírus da comparação, identifica características afins com a criança: “é a cara dele”!
O brinquedo tem uma característica importante, que é a de sociabilizar a criança. Ela se associa imediatamente a outra criança para brincarem juntas e até discutirem sobre como funciona, suas regras, qual a ordem, distinguindo cores e formas.
O ser criativo da criança, no entanto, precisa ser incentivado para que ela mesma crie seus brinquedos a partir dos objetos que permeiam o seu cotidiano.
Para brincar e se divertir não é preciso ter esse ou aquele brinquedo que “estampa” na tela da TV ou ainda aquele que o amiguinho sempre tem por ser o brinquedo da moda. Daí a responsabilidade do educador (pais, principalmente) despertar a imaginação da criança, participando e “inventando” conjuntamente com ela, brinquedos não comerciais.
Lucas, vamos fazer “pés de lata”?
“Como é isso vovô?!”
Duas latas vazias de leite em pó, dois pedaços de barbante, e lá estávamos brincando de “pés de lata”.
De tudo isso, o mais importante é passar para a criança os valores que podemos obter com brinquedos e brincadeiras, mostrando que a alegria, o respeito, os princípios éticos, a hierarquia, o espírito participativo, devem vir de dentro de nós, e que os objetos são meros meios e nunca o principal da nossa formação.
E sobre o excesso de brinquedos “entulhados” pelos cantos?
Que tal fazer uma limpa selecionando os que despertam, ainda, o interesse da criança, e juntamente com ela, separar alguns para doá-los a outras crianças? Ao fazer isso, tenha em mente, e converse com sua criança que o ato de doar não é simplesmente se livrar, desocupar espaço, mas compartilhar, ser solidário, ser agente de um sorriso instantâneo, no outro.
“O excesso de brinquedos não permite que a criança sonhe com outras formas e tipos de brincadeiras” (Socorro Praxedes).
“Essa geração de crianças ligadas na net, estão fazendo os brinquedos perderem seus encantos. Devemos nos adaptar a essa nova geração, mas não podemos deixá-las que percam a essência dos valores antigos” (Cristiane Neves).
Ei! Você aí! Não sufoque a criança que em você, um dia, foi tão linda, tão sublime e tão feliz.
Brinque!
Afinal, brincar é uma maneira de lidar de forma lúdica com a vida.
Carlos Alberto Josuá Costa, Engenheiro Civil e Consultor ([email protected])