A cachaça, ou aguardente de cana de açúcar, está integrada à cultura brasileira, assim como o futebol, o samba, o café e o fumo.
Aparece em músicas, anedotas, textos literários e literatura de cordel.
No começo da colonização do Brasil, a partir de 1530, a produção açucareira apareceu como primeiro grande empreendimento de exploração. Afinal, os portugueses já dominavam o processo de plantio e processamento da cana de açúcar.
A cachaça originou-se da cultura do açúcar. Segundo alguns historiadores, os escravos, no Recôncavo baiano, aproveitavam as sobras da garapa da fabricação do açúcar, e guardavam em potes, até azedar. Era a bebida preferida deles.
O tráfico de escravos impôs a valorização do produto. A cachaça, ou aguardente da terra, era indispensável na compra do negro africano. Uma verdadeira moeda de circulação. Figurava como alimento complementar dos escravos, durante a travessia do Atlântico. Diariamente, eles eram forçados a ingerir doses de aguardente, para suportar a tristeza.
Devido à sua origem, a cachaça, durante anos, foi considerada bebida das camadas simples da sociedade. Não era servida em restaurantes ou bares requintados. Com o progresso tecnológico, surgiram cachaças finas e de alto custo, desaparecendo o tabu de que somente o pobre seria bebedor de cachaça.
A cachaça está para o Brasil, como o Rum está para Cuba.
Em 1996, o então presidente Fernando Henrique Cardoso legitimou a cachaça como produto tipicamente brasileiro, estabelecendo critérios de fabricação e comercialização. Em 2012, uma lei transformou a cachaça em Patrimônio Histórico Cultural do estado do Rio de Janeiro.
Atualmente, essa bebida destilada é exportada para vários lugares do mundo.
A cachaça está presente em histórias e anedotas hilárias.
Antigamente, durante as serenatas ao luar, os seresteiros tomavam uma bebidinha. Certa noite, um conhecido cantor de uma cidade do interior, depois de interpretar músicas de Orlando Silva, acompanhado por um violão plangente, ingeriu muita cachaça e acabou adormecendo na calçada. Os amigos se sentaram ao seu lado, esperando que despertasse. Minutos depois, desorientado, o seresteiro chamou pelo pai:
-Pai, ô pai!!!
Um dos amigos perguntou:
-O que é, Adolfo?
E o cantor espondeu:
– A “bença” !!!
E os rapazes conseguiram acordá-lo, com a marchinha que diz: “Você pensa que cachaça é água…”
Violante Pimentel – Escritora