CADERNOS –
- Filho, precisa comprar um caderno?
- Não, mãe. Estou levando o notebook para a aula.
- Flavinho, precisa comprar um caderno?
- Tem algum sobrando por aqui?
- Tem um, mas não prefere um novo? – Não preciso, ficarei com esse.
- Filho, e você? – pergunto ao caçula. – Quero sim.
Oba! Amo papelarias, e sei que é meio pavoroso dizer isso, mas sou viciada em comprar canetas, post its, caderninhos e afins. Saímos, eu e Felipe, para a compra do caderno. Eu animadíssima, pois para mim papelaria é sinônimo de longos e felizes passeios, cheios de incertezas entre milhões de itens. É como uma livraria boa, que a gente se perde em meio às mil possibilidades de histórias. Na papelaria temos mil possibilidades de CRIAR histórias. Meu coração saltitava pensando nas inúmeras coisas que poderíamos testar e descobrir que sem aquele item específico seria quase impossível viver (post it transparente, por exemplo. Como vivemos tanto tempo sem eles?).
Chegamos ao local das compras e ele, em menos de três minutos, disse que já tinha tudo o que precisava: um caderno com a mesma capa de 2022, 2021, 2020 e 2019.
- Só isso? – perguntei frustrada.
- Só, porque você já comprou canetas. – Escolha mais uma.
Ele pegou duas canetas pretas, as mais próximas dele, nem se dando ao trabalho de procurar opções diferentes. Sem graça!
- E post its? Não precisa?
- Você tem milhares!
- Eu tenho, você não!- queria prolongar meu passeio pelas prateleiras coloridas.
Ele pegou o primeiro bloco que viu e fomos ao caixa. Nem mesmo pensou na cor, tamanho, formato! Como assim? Não se passaram quatro minutos de compras. Volto para casa me sentindo estranha. Entre a felicidade de saber que não criamos consumidores compulsivos e a tristeza de não ter quem compartilhe meu pequeno vício de consumo.
Ele chegou em casa e correu para o computador, esquecendo as compras. Eu cheguei em casa e corri para minha estante, olhando os cinco cadernos que escolhi para minha nova vida de universitária, cada qual com blocos de post its combinando, como também lápis, canetas diversas e marca textos.
Como preciso aprender com meu mundo azul…
Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista e Escritora