A seca e as altas temperaturas prejudicaram a produção de café e estão deixando a bebida cada vez mais cara. O grão moído teve uma alta de quase 33% no acumulado dos 12 meses até novembro, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado nessa terça-feira (10).
Nos supermercados, o pacote de 1 kg está sendo comercializado, em média, a R$ 48,57, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic). Em janeiro, o valor era de R$ 35,09.
De acordo com os especialistas do setor, os preços devem se manter elevados, pelo menos, até 2026, uma vez que as lavouras podem demorar para se recuperar.
Ainda assim, esse cenário vai depender das condições climáticas de 2025.
Confira abaixo alguns fatores que prejudicaram a produção e elevaram os preços do café, segundo os entrevistados pelo g1.
O primeiro semestre de 2024 teve períodos longos de altas temperaturas e secas nas regiões produtoras, como Minas Gerais e São Paulo. O clima acabou debilitando o pé de café. Para sobreviver e economizar energia, a planta precisou perder muitas folhas, explica Cesar Castro Alves, consultor de café no Itaú BBA.
Apesar de ter chovido durante a florada, período fundamental para o desenvolvimento do grão, as árvores ainda precisaram abortar os frutos.
“Era para estar uma condição muito mais saudável, para que a planta tivesse uma boa produção. Provavelmente, as plantas vão gastar energia, agora, fazendo folha, formando galhos, sendo que era o momento de ela cuidar dos grãos”, diz Renato Garcia Ribeiro, pesquisador especializado em café do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
Atualmente, o grão está sendo formado no pé, para a colheita em 2025.
Segundo Alves, consultor do Itaú, mesmo as áreas irrigadas foram prejudicadas.
“Os produtores estão até ‘esqueletando’ as lavouras, fazendo podas drásticas. Ele conclui que não vale a pena colher 10 sacas; não compensa. Então, ele anula essa produção do ano que vem e não tem o gasto com colheita”, diz.
A técnica de ‘esqueletar’ permite que a planta se recupere para que tenha uma melhor safra no ano seguinte.
A falta de água é considerada o pior dano para a lavoura, segundo Celírio Inácio da Silva, diretor executivo da Abic.
“Quando acontece uma geada, ela não deixa tantos estragos para as próximas safras. Já a seca, sim”, afirma.
A safra de 2024 deve atingir 54,8 milhões de sacas, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O dado representa 0,5% a menos na comparação com o ano anterior.
O plantio do café funciona em um sistema de bienalidade, ou seja, em um ano há uma produção maior e, no outro, menor. Mas, nos últimos 4 anos, essa regra foi quebrada e as safras são sempre menores, devido aos problemas climáticos, explica Silva.
No período, além das secas e do calor, o café também sofreu com as geadas.
Com produções menores e uma demanda que tem aumentado cada vez mais, os produtores têm dúvidas sobre o que vai acontecer no ano seguinte, segundo ele. “A gente tem que lembrar que o café é uma cultura que é colhida uma vez por ano”, diz o diretor da Abic.
“Essa insegurança fez com que os preços disparassem”, completa.
O preço do fruto cru, para a industrialização, também tem batido recordes, alcançando valores que não eram atingidos desde 1977.
“Isso está assustando, porque é um aumento bastante significativo. A gente falava em janeiro em termos de R$ 700, R$ 750 a saca. Hoje, está entre R$ 2.100 e R$ 2.200”, exemplifica Silva, da Abic.
Em 11 de dezembro, a saca de 60 kg de café fechou a R$ 2.561,78 na bolsa de Nova York.
Mesmo com o encarecimento, o consumo do café tem aumentado cada vez mais, com novas receitas usando o grão. Entre janeiro e outubro de 2024, o consumo cresceu 0,78%, apontam dados da Abic.
Silva, diretor da associação, explica que o consumidor de café é resiliente e, tradicionalmente, tem um pequeno estoque de pacotes de 1 kg em casa. Assim, quando o preço é alterado, ele consegue segurar a compra para um momento de maior estabilidade.
“Então, existe uma menor compra do café, mas não significa que está havendo um menor consumo”, afirma.
Já no exterior, o Brasil tem cada vez mais explorado novos clientes. A China, por exemplo, tem elevado as compras em uma taxa anual de cerca de 17%, segundo a instituição.
“Uma parte grande do consumo no mundo são em países ricos desenvolvidos, que são muito menos sensíveis a altas de preços”, afirma Alves, consultor do Itaú BBA.
“Uma outra parte do crescimento do consumo tem ocorrido na Ásia, que são países que estão conhecendo agora o café. Então, não daria para dizer que o consumo vai cair e isso vai fazer o preço se ajustar”, completa.
O Vietnã, que é o maior produtor mundial do café robusta, também tem enfrentado prejuízos por causa do clima, afirma o consultor do Itaú BBA.
Deste modo, não apenas o grão do tipo arábica disparou, mas o robusta também tem batido recordes. Em setembro, pela primeira vez em 7 anos, o robusta teve o preço mais elevado do que o arábica.
O arábica é a variedade mais produzida no Brasil, bem como a mais consumida. Ela é mais valorizada pelo seu sabor, mas também é mais sensível ao clima.
Geralmente, o café moído tradicional encontrado nos supermercados é feito a partir de misturas dos dois tipos de grão: o robusta e o arábica, explica Renato Garcia Ribeiro, do Cepea.
Como a produção robusta brasileira é de cerca de apenas 20% de toda a área plantada, a safra costuma suprir apenas o mercado interno. No entanto, os problemas no Vietnã abriram novos mercados para o grão, e o Brasil passou a exportá-lo em maior volume.
As guerras no Oriente Médio dificultaram a exportação de diversos alimentos pelo globo.
A comercialização do café da Ásia para a Europa, por exemplo, passa pelo canal de Suez, que chegou a sofrer ataques de rebeldes, incluindo até mesmo sequestro de navios. Isso obrigou os exportadores a usarem novas rotas, que aumentam em até 20 dias o trajeto, diz Alves, do Itaú BBA.
Este maior período de trajeto congestionou o aluguel de contêineres, que também tiveram seus preços elevados. Os contêineres são o principal meio para transportar café.
No Brasil, há ainda uma deficiência nos portos, que não comportam navios maiores, e isso torna mais lenta a exportação, afirma Silva.
Para os especialistas entrevistados, os valores devem se manter altos até 2026.
“Não tem condição de nascer uma nova safra de café. O ano que vem ele não existe mais. A gente imagina que a safra vai ser menor, apesar de o conilon não ter problemas para crescer. Mas o arábica vai cair muito”, afirma Alves.
O café conilon, produzido no Brasil e semelhante ao robusta, é mais resistente que o arábica em altas temperaturas.
Mas, para 2026, como as plantas estarão cheias de folhas, elas terão mais possibilidades de ter uma boa florada e render frutos. Contudo, isso depende das condições climáticas de 2025.
Silva, da Abic, acredita que é cedo para saber como será a safra de 2025. “Se houver chuva em janeiro, fevereiro, e um pouco de março, então a expectativa vai ser boa. Se não houver, a expectativa é mais estressante”, afirma.
“O mercado está em alta, não tem nenhum indício de queda e não há nenhum fundamento para a queda de preço. Então, vamos iniciar 2025 com continuidade do aumento do café”, completa.
Fonte: G1
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