CANJICA –
Tem coisa mais cara de São João que comida de milho? Pamonha, canjica, mungunzá, milho cozido… Para mim, tem cara de infância, sabor de acolhida, cor de ouro – daquele ouro sem preço, sabe? Daquele que você tenta estipular um número, mas compreende a infinitude…
Assim, semana passada foi o aniversário de papai, o caçula de cinco irmãos criados na roça, respeitando o pedido de “bença” com beijo na mão e varanda cheia de gente ralando coco ou milho, fazendo as caixinhas para as pamonhas, enquanto outros arrumavam a fogueira ou colocavam pratos espalhados pela mesa para receber canjica ou ainda escolhiam as músicas que tocariam na vitrola. Flávio José, Dominguinhos, Alcimar Monteiro, Sivuca e Gonzagão!
Tempos passados…
Assim, neste aniversário viajamos para Campina Grande. Fomos festejar seus 74 anos junto aos seus. Íamos eu, meus pais e meu irmão do meio na direção. Passamos por Areia e Cajá, paradas obrigatórias para comer tapioca e almoçar, enquanto falávamos do passado e nossas recordações, do presente e nossas apreensões e do futuro e nossos sonhos. Risadas, música tocando e meu celular começa a receber mensagens: “Estão onde? Tia vai fazer canjica!”
Será que li corretamente? Canjica, canjica? Aquela cor de ouro, horas na panela, fumaçando no prato? Aquela da infância?
Não é que era verdade? Chegamos na casa da irmã mais velha de papai e a pegamos com uma colher de pau mexendo o creme dourado e falando: Faz duas horas que estou aqui!
O cheiro me levou quatro décadas atrás, com os primos correndo pela casa, os tios conversando alto, os avós de um lado para o outro para satisfazer os diversos desejos… e a casa enchendo.
E também encheu desta vez!
E a canjica chegou pintada de canela em pó, saborosa e perfumada, aquecendo o fim de tarde chuvoso da Rainha da Borborema. Todos ao redor da mesa, três gerações falando ao mesmo tempo, brincando, desfilando (sim, fizemos desfile!), comendo e gravando na memória novas recordações. Entre bandeiras, músicas (agora não mais em LPs, mas em pen drives) e algumas roupas quadriculadas, os abraços e as risadas mostraram que existem bens preciosos, mas o querer bem é o maior deles.
Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista, Escritora e Apaixonada por festas juninas
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