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A CAPELA DOURADA –

 No final da semana passada, eu e minha mulher Edilza demos uma esticada até Recife. Tínhamos por objetivo conhecer a Capela Dourada, localizada na Igreja da Ordem Terceira de São Francisco do Recife, integrante do complexo de edificações do Convento de Santo Antonio, no bairro do mesmo nome.

Sabedor da preciosidade sacra eu encontrei motivação para visitar a capela folheando as páginas do livro “Relíquias – Patrimônio Arquitetônico do Nordeste do Brasil”, autoria de Fernando Chiriboga, fotógrafo equatoriano radicado em Natal.

Deslumbrante! Não atino com outro adjetivo para qualificar o santuário. Realmente, uma relíquia do estilo barroco-rococó, construída entre 1696 e 1724. Na Capela o que não é pintura ou painel de azulejos está entalhado em cedro recoberto de gesso, arrematado por lâminas de ouro. Daí o nome “dourada” da capela.

Embora com o teto abobadado em dimensões menores e sem contar com a fama nem os afrescos de artistas famosos da Renascença, a Capela Dourada lembra a Capela Sistina situada no Palácio Apostólico, na Cidade-Estado do Vaticano.

Na importante estatuária onde se destacam o grande Crucifixo, o Cristo Atado à coluna e o Senhor dos Passos, eu me ative às imagens da Rainha Santa Isabel e de Santa Beatriz da Silva, trazidas de Portugal. Assim exalto o exemplo, pouco divulgado, de fé e de retidão contido na história de vida de cada uma daquelas santas.

A Rainha Santa Isabel de Portugal (1271-1336), na verdade nasceu em Aragão, Espanha, filha do rei Pedro III. Casou-se com D. Dinis I, rei de Portugal, ela com 12 e ele com 17 anos de idade. Dedicou os 65 anos de vida a pacificar ânimos, evitar guerras e ajudar a pobres e enfermos. Foi canonizada em 1742.

É venerada tanto em Portugal quanto na Espanha, pelos milagres operados. Dentre eles, transformar moedas para distribuir com os pobres, em rosas, quando interpelada pelo esposo que a questionou acerca do que portava no regaço.

Beatriz da Silva e Menezes nasceu no Alentejo, em 1437. Sua família pertencia à nobreza de Portugal e tinha parentesco com a realeza. Quando a princesa Isabel de Portugal, sua prima, se casou com D. João II de Castela, ela a levou como dama de honra para a corte de Tordesilhas, na Espanha.

A formosura e a simplicidade de Beatriz atiçaram o ciúme de Isabel, acentuado pelas atenções do rei para com a jovem. Isso a fez prender a prima num cofre para que morresse asfixiada. Ficou encerrada por três dias, até que seu tio D. João de Menezes, notando sua ausência, exigiu explicações à rainha que abriu o cofre.

Ao sair viva e saudável do cativeiro, estarreceu a todos que a consideravam morta. Beatriz deixou a vida palaciana indo para Toledo viver no Convento Dominicano de São Domingos por 30 anos, na sombra e silêncio do claustro.

Enfrentando toda sorte de percalços, ela fundou a Ordem da Imaculada Conceição, mas faleceu na data que a instituição abriria as portas. Era o dia 9 de agosto de 1492. Beatriz legou ao mundo uma das maiores Ordens Religiosas femininas de vida contemplativa da Igreja. Foi canonizada em 1976.

Estes são apenas dois dos relatos extraídos do acervo da Capela Dourada, onde muitas outras histórias de religiosidade se encontram embutidas nas paredes e teto daquele tesouro de obras sacras, bem ao alcance de nossos olhos.

Visitar a Capela Dourada é se regalar com o primor e a beleza da arte produto do fervor, talento e determinação do punhado de cristãos que a construiu.

José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro civil e escritor – [email protected]

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

 

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