Em sua primeira aparição desde que fugiu do Japão, o ex-presidente da aliança Renault-Nissan, Carlos Ghosn, reforçou nesta quarta-feira (8) sua inocência durante uma entrevista coletiva em Beirute, no Líbano. Empresário disse que esperava mais ajuda do governo brasileiro.
“Essa (fuga) foi a decisão mais difícil da minha vida, mas eu estava enfrentando um sistema em que a taxa de condenação é de 99,4%, e acredito que esse número é muito maior para estrangeiros”, disse Ghosn, sobre a escolha de escapar do Japão.
Ghosn disse que os “princípios dos direitos humanos foram violados” com sua prisão e a justiça japonesa o privou de seus documentos de defesa.
Para ele, a redução do desempenho da Nissan, no início de 2017, causou uma perseguição contra ele e os japoneses da Nissan desejavam mais autonomia. “Alguns de meus amigos japoneses pensaram que a única maneira de se livrar da influência da Renault na Nissan era se livrar de mim”, disse.
Entre as provas apresentadas durante a entrevista em projeção, Ghosn falou sobre as casas no Líbano e no Rio de Janeiro. O empresário disse que “não há segredo” sobre as residências e que elas são de propriedade da Nissan.
Esperava mais ajuda do Brasil
O presidente da república, Jair Bolsonaro, disse que não se pronunciaria sobre o caso de Ghosn e não falaria com as autoridades japonesas para “não atrapalhar as investigações”. A mulher de Ghosn chegou a pedir ajuda a Bolsonaro.
Questionado sobre a relação com o país e o posicionamento do presidente, o empresário disse que não gosta desse tipo de declaração, mas que respeita. Porém, ressaltou que “esperava mais ajuda do governo brasileiro”.
Ele, no entanto, destacou a ajuda do cônsul brasileiro no Japão. “Foi muito amigo, muito querido. Ele cuidou de mim, o João de Mendonça, ele me tratou com muito carinho”.
Fusão entre Nissan-Renault e Fiat Chrysler
Ghosn também fez comentários sobre a possível fusão entre Nissan-Renault e Fiat Chrylser (FCA). “A aliança (Nissan-Renault) perdeu o imperdível, que é a Fiat Chrysler, uma grande oportunidade perdida”, afirmou o brasileiro.
“Aliança foi o grupo automotivo número 1 em 2017, estávamos nos preparando para adicionar a Fiat Chrysler ao grupo”, disse Ghosn. A FCA acabou finalizando um acordo de fusão com a Peugeot Citroën, no final de 2019, após negociações fracassadas com a Renault.
Fuga
De acordo com a imprensa japonesa, o empresário teria saído de Tóquio em direção a Osaka de trem, onde teria pegado um taxi até o aeroporto.
De lá, ele teria embarcado em um jatinho particular em direção ao Líbano dentro de uma caixa de um equipamento musical. Antes de chegar ao Líbano, fez uma escala em Istambul, na Turquia.
Já em Beirute, Ghosn divulgou um comunicado em que afirmou que não vai “mais ser refém de um sistema judicial japonês fraudulento em que se presume culpa, onde direitos humanos básicos são negados. Não fugi da justiça. Escapei da injustiça e da perseguição política.”
A Turquia lançou uma investigação sobre a fuga de Ghosn e sete pessoas foram presas, incluindo quatro pilotos, de acordo com a agência de notícias DHA. Em nota, Carlos Ghosn disse que planejou a fuga sozinho. Segundo ele, a família não participou do plano de escape.
Monitoramento interrompido
De acordo com a Reuters, Ghosn deixou sua residência após uma empresa de segurança contratada pela Nissan para vigiá-lo interromper o monitoramento a pedido dos advogados do empresário, em 29 de dezembro.
A defesa do brasileiro alegou que o monitoramento feria seus direitos humanos.
Escândalo completou 1 ano
Ghosn foi preso pela primeira vez em novembro de 2018, acusado de má conduta financeira, ao emitir parte de seus rendimentos, bem como utilizar indevidamente verbas das empresas. Quase quatro meses depois foi solto após pagar fiança.
Em abril, um mês depois de ser solto, o brasileiro foi preso novamente, sob novas acusações. Após pagar uma nova fiança, Ghosn novamente deixou a prisão, ainda em abril.