CARRINHO DE BEBIDAS –

Em uma manhã chego em casa e digo:

– Estou de férias! Pedi desligamento do cargo e estou de férias. Quem quer viajar?

Eu arrumo as malas, enquanto Flavinho faz a busca no site por um hotel. Deixamos comidas congeladas para os filhos e saímos de casa. Música tocando, estrada tranquila, coração em paz.

Chegamos à frente da pousada conseguida por ele e me deparo com um sapo do tamanho de nossa Pretinha. Algumas pererecas escalando a porta de metal e um coaxar de me enlouquecer. Damos meia volta no carro e saímos procurando outro lugar para passar a noite. Conseguimos uma pousada na beira do mar, com as ondas batendo na varanda e uma sensação de leveza que fazia tempo eu não sentia. O barulho do mar é acalentador!

Após uma noite de sono e a sensação estranha de não ter hora para acordar e de não ver os filhos ao nosso lado, levantamos preguiçosamente para tomar café.

Aquela vista linda na janela, da areia branquinha, do mar azul, do céu limpo. Sirvo-me de uma xícara de café e paro olhando para um objeto: um carrinho de bebidas.

Na minha infância todas as casas tinham carrinhos de bebidas. As mais chiques tinham os bares de alvenaria ou madeira num canto da sala, repletos de garrafas coloridas e copos de diferentes tamanhos dependendo de sua indicação de uso, mas geralmente eram os carrinhos de bebidas que estavam presentes. Eles serviam como prédios para as fofoletes, ou de apoio para os bonecos do He Man e do Thunder Cats de meu irmão do meio.

Os carrinhos de bebidas com suas taças de licor, suas garrafas de uísque e baldes de gelo ficaram para trás. Suas rodas não servem mais de roda gigante para os nossos bonecos nem podem andar pelos corredores imitando macas de hospitais com as Barbies deitadas.

Penso em quais outros objetos ou móveis foram presentes e marcantes em minha infância e ficaram esquecidos pelo tempo.

Penso isso enquanto a xícara de café em minhas mãos esfria na mesma velocidade que o coração aquece pelos presentes que Deus nos dá e nos damos a oportunidade de sentir…

Lá vem outra onda…  De gratidão…

 

 

 

 

Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista, Professora universitária e Escritora

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