CARTA A MEU PAI –
Parece que foi ontem e já fazem sete anos que o senhor viajou. Sua voz ainda ecoa em meus ouvidos, quando de forma segura, olhando em meus olhos repetiu por três vezes consecutivas: “eu não quero ir, meu filho”, mas tinha chegado o seu momento. Eu bem que tentei, mas não tive as forças que o senhor possuía quando em minha infância me salvou de afogamento na Praia do Pontal de Coruripe, e hoje estamos separados um do outro, fisicamente, porém com os corações mais do que nunca transformados em um só.
Por aqui, poucas coisas mudaram desde o seu adeus em março de 2012. Naquele dia, talvez devido ao corre-corre de última hora, o senhor não teve tempo para, diante do espelho verificar se a roupa que vestia, era propícia para a ocasião. Quero que saiba que nunca esqueci como estava impecavelmente lindo. As rosas vermelhas que enfeitaram a plataforma do seu embarque, a gravata prateada e o terno escuro que usou, lhe emprestaram um visual garboso e semblante de tranquilidade.
O sol tem brilhado muito em Maceió como de costume, mas por incrível que pareça a “Sua Mema”, nunca se adaptou à nova realidade, também pudera, depois de sessenta e um anos de um convívio diário com sua pessoa, seria difícil. Sempre que posso, estou ao lado dela, fazendo questão de me sentar em sua cadeira, deitar em sua cama, para relembrar nossas conversas dos finais de semana.
Ia esquecendo de perguntar. Como está por aí? Continua tranquilo, sem engarrafamento, jornal, cigarros ou clubes de futebol, por falar neste assunto, o CSA agora está na Série A, elite do futebol brasileiro. Aqui estivesse sei que estaria feliz apesar de ser regateano. Continua encontrando seus conhecidos que aos poucos vão chegando? Vovó Bebe e Vovô Procópio, Vovô Chiquinho e Vovó Bazinha? E Tio Eudes e Tia Helionia? E Tia Preta e Tio Dedé que partiram por último? Dê um beijão em cada um deles, por mim…
Ana continua a meu lado a me fortalecer, enquanto suas netinhas Bruna, Larissa e Flávia, continuam lindas e juntamente com Tuca, Rodrigo e Cesinha que se incorporou à nossa família tempos depois, sorriem quando mencionamos as suas histórias e aventuras. Agora você tem cinco bisnetos alagoanos, depois de Arthur “meu rei” o único que chegou a conhecer, nasceram Beatriz “minha flor”, Leo “meu céu”, Leticia “minha alegria” e Gabriel “meu anjo”, todos bacanas, alegres e inteligentes. Quase me esqueço de dizer “Papi”, Marcinha sua querida, continua em Natal, juntamente com Camila que casou com Leandro e Rostanzinho que agora é pai do príncipe Lucca e da princesa Luísa, seus bisnetinhos potiguares lindos e adoráveis. A sua família cresceu, meu amigo!!!
Vou acabar por aqui meu pai, hoje à noite, vou postar esta cartinha na Igreja de São Pedro da Ponta Verde, pois me e falaram que lá existe ligação direta com o céu e, portanto, deverá estar em suas mãos no dia do país. Isso me consola e me faz seguir adiante, em busca da felicidade que o senhor e “sua Mema” sempre asseguraram que existe. Quero que saiba que sinto sua falta ao meu lado, como sempre. Por esta razão lhe digo que nenhum outro homem marcará tanto a minha vida como o senhor marcou, ninguém nunca invadirá o seu espaço dentro de mim onde sempre morou e que eternamente será seu.
Escreva quando puder. Um beijo, lhe amo. Seu filho Alberto Rostand.
Alberto Rostand Lanverly – Presidente da Academia Alagoana de Letras