Após anos em situação de abandono e de falta de investimentos, a casa onde a escritora Clarice Lispector passou a infância e parte da adolescência, no Centro do Recife, vai abrigar um museu. O projeto será executado pela Associação Casa Clarice Lispector (ACCL), que recebeu da Santa Casa de Misericórdia, na terça-feira (9), a posse do imóvel, num comodato — tipo de contrato de empréstimo — com duração de 25 anos.
Segundo o presidente da entidade, Moisés Wolfenson, o local será o primeiro museu dedicado à escritora nascida na Ucrânia, que chegou ao Brasil aos dois meses de vida. A casa fica na Praça Maciel Pinheiro, onde, atualmente, o que se vê é abandono, sujeira, rachaduras e pichações.
Ao g1, ele disse que o espaço terá um “escritório de Clarice” com objetos pessoais e cartas, livraria, biblioteca e um auditório com 40 lugares. O acervo conta com cerca de 250 peças.
Moisés contou que a ideia de construir o museu surgiu em 2020, quando participou de uma live em celebração ao centenário da escritora, que morou no Recife dos 5 aos 15 anos de idade. Ela se mudou para Pernambuco depois que a família saiu de Maceió, primeira cidade brasileira onde os Lispector se estabeleceram após fugirem das perseguições contra os judeus na Ucrânia, na década de 1920.
“A mãe de Clarice, Mania Lispector, era amiga de minha avó materna, Clara Wolfenson. Meu pai, Félix, e Clarice eram amigos de infância e adolescência. O sobrado onde Clarice morou foi alugado pela minha avó, Clara, para [eles] saírem de Maceió para o Recife , onde já existia colégio israelita, sinagoga, cemitério israelita e um comércio importante”, disse o presidente da ACCL.
Na época em que Clarice chegou à capital pernambucana, segundo Moisés, a residência pertencia a portugueses, que morreram sem deixar herdeiros. “E, nesses casos, a Santa Casa [de Misericórdia] era quem assumia a propriedade”, explicou.
De acordo com Wolfenson, a obra está prevista para começar em junho deste ano e deve ser concluída em 2025. A estimativa é que toda a reforma custe em torno de R$ 7 milhões. Os recursos estão sendo captados por meio de doações, com apoio do programa Recentro, da prefeitura.
Entre as peças que compõem o acervo, segundo o presidente da entidade, estão, além de livros de Clarice, obras literárias de outras línguas que foram traduzidos por ela, cartas para familiares e outros escritores, vídeos, entrevistas e móveis usados pela escritora.
“No térreo, vai ter espaços para lançamento e venda de livros. A gente vai ter toda uma estrutura montada para o ensino médio. A gente vai trazer palestras, com várias conferencistas e professores de literatura, que vão expor Clarice para o ensino médio em Pernambuco”, contou Wolfenson.
Procurada pelo g1, a prefeitura do Recife informou que o poder público não pode, por lei, realizar reformas e benfeitorias em imóveis particulares. No entanto, a gestão municipal disse que vai, por meio do Recentro, mobilizar “potenciais empresas e financiadores” para a iniciativa.
A prefeitura afirmou também que está realizando as obras de requalificação da Praça Maciel Pinheiro, onde fica a casa em que Clarice Lispector morou.
Fonte: G1
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