Centenas de catalães favoráveis à independência foram às ruas de Barcelona nesta quinta-feira (26), após o presidente regional da Catalunha, Carles Puigdemont, convocar pronunciamento na sede do governo local e a imprensa divulgar que ele anteciparia as eleições regionais.
O grupo, formado principalmente por estudantes, protestava contra uma possível intervenção do governo espanhol na região e chamavam Puigdemont de “traidor”, pela possível convocação de novas eleições e por não avançar com o processo de independência.
O pronunciamento foi marcado inicialmente para as 13h30 (horário local, 9h30 em Brasília). Ele foi adiado por uma hora, quando já estava atrasado, e depois cancelado sem maiores explicações.
Uma possível antecipação das eleições regionais, que estão previstas para o fim de 2019, visaria impedir a intervenção – que deve ser aprovada nesta sexta-feira (27) pelo Senado. O pleito elegeria um novo Parlamento, que poderia nomear um novo presidente ou fortalecer Puigdemont.
Ontem, o primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, afirmou que a intervenção na Catalunha era “a única resposta possível” para conter o processo de independência da região, iniciado após um referendo regional que o governo e a Suprema Corte espanhóis consideram ilegal.
A tentativa de independência catalã já é a crise mais prolongada da democracia espanhola. As medidas adotadas em caso de intervenção nunca foram aplicadas em seus mais de 40 anos de existência, desde o fim da ditadura franquista (1939-1975).
O presidente regional catalão declarou a independência da região – e em seguida suspendeu seus efeitos – no dia 10. Em resposta, Rajoy propôs no dia 21 intervir no governo regional, o que afastaria Puigdemont e todo o seu governo, limitaria as funções do Parlamento catalão e resultaria em novas eleições regionais em até seis meses.
Com as funções limitadas, o Parlamento regional não poderia nomear seu próprio presidente e o governo espanhol poderia vetar suas decisões.
As medidas ainda precisam ser validadas pelo Senado, que é controlado do mesmo partido do primeiro-ministro. A votação está marcada para esta sexta-feira (27), mas o cenário político ficaria ainda mais indefinido na Espanha com a antecipação da eleição na Catalunha.
Puigdemont recusou o convite para nesta quarta-feira (26) se pronunciar na casa, mas enviou sua defesa por escrito aos senadores e disse que suspender a autonomia da Catalunha “contradiz frontalmente” vários artigos da Constituição espanhola e viola “o princípio de autonomia política” das regiões.
Em vez disso, o líder catalão pode se pronunciar no Parlamento catalão, que tem sessão marcada para a tarde de hoje e deve discutir a crise política causada pelo referendo e subsequente processo de independência da região espanhola.
Os manifestantes que marcham pelas ruas do centro de Barcelona carregam cravos vermelhos e bandeiras da independência amarradas ao pescoço. “Eles não podem prender um povo inteiro. Não à repressão franquista”, lia-se em uma grande faixa, enquanto os alunos gritavam “Fora forças de ocupação!”.