CHOREI, CHOREI – Heraldo Palmeira
CHOREI, CHOREI – Chorei, chorei Até ficar com dó de mim E me tranquei no camarim As perdas são certas, as notícias delas são péssimas. E ouvi a notícia no rádio, dada com suavidade por dois amigos do rádio. Aliás, foi no rádio que tudo começou. A voz nunca teve igual por nossas paragens, […]
DESAMOR – Heraldo Palmeira
O vento lá fora geme Colhendo estrelas mortas O homem foi descendo sem pressa a rua solitária como ele. Era tarde da noite. O som dos próprios passos quebrava o silêncio das calçadas e esquinas. Seu vulto oscilava pelos pontos de luz e escuridão entre os postes da iluminação pública. As placas e vitrines das […]
AGUACEIRO EM SAMPA – Heraldo Palmeira
AGUACEIRO EM SAMPA – Estamos todos impressionados com a quantidade de água que está caindo em São Paulo e cidades da região metropolitana desde o meio da tarde de ontem. Sim, é realmente um dilúvio. Ainda mais impressionantes são as imagens de alagamentos que a TV está mostrando desde cedo. Sim, a cidade tem dificuldade […]
AGUACEIRO – Heraldo Palmeida
AGUACEIRO – Estávamos naquela conversa sem futuro do pós-almoço no sujinho da esquina de casa. Temos a turma diária, prazerosa. Vamos esticando o tempo, tomando uma última – nunca é a última – cervejinha, o “cafezinho do almoço” – nunca é “o”, sempre é “um dos” – incluído no preço da deliciosa comida caseira. Tudo […]
QUEIMA DE ESTOQUE – Heraldo Palmeira
QUEIMA DE ESTOQUE – Noite modorrenta, friorenta, primeiros dias do ano-novo. Cheguei numa loja de uma grande rede de supermercados paulista, conheço diversos funcionários, nos cumprimentamos. E fui logo apresentando uma questão a respeito da promoção que vi na entrada: quem comprasse um panetonne Bauducco levava dois – valendo para qualquer tipo ou peso dos […]
IMPRESSÃO DE VIDA – Heraldo Palmeira
IMPRESSÃO DE VIDA – Vejo com enorme tristeza os verdadeiros escombros em que se transformaram os prédios que sediaram os jornais – e rádios – que transformaram minha vida, que me iniciaram na paixão pela comunicação. Estão ali nos mesmos lugares, ou abandonados ou moribundos recebendo os penitentes que restaram. Num deles, a pompa era […]
ARRAIAL DE ALGODÃO – Heraldo Palmeira
ARRAIAL DE ALGODÃO – É noite de São João Quase amanhecendo o dia É madrugada e não vem Quem tanto eu queria A velha canção junina me veio à cabeça. Em pouco tempo estava me deliciando com a versão original do Trio Nordestino, gravada em 1971. Sim, quando eu não era nada mais do […]
LAÇOS DE TERNURA – Heraldo Palmeira
LAÇOS DE TERNURA – A mulher miúda era jovem quando chegou a Brasília. Naquele tempo, o lugar ainda era, muito mais, um grande acampamento, um esboço de qualquer coisa parecida com uma cidade devidamente instalada. Reinava certa desorganização, mas as pessoas que chegavam ao planalto Central do Brasil tinham certeza de haver encontrado o eldorado. […]
ESCURIDÃO PARTICULAR – Heraldo Palmeira
ESCURIDÃO PARTICULAR – O correio trouxe com antecedência a notícia de que a energia elétrica – força, como dizem os paulistanos em sua prosódia característica – seria cortada em determinada noite de janeiro, para manutenção no sistema. Anotei com a Bic azul na agenda, que continua no modelo antigo de papel e imponente sobre a […]
NATUREZA – Heraldo Palmeira
NATUREZA – A tarde começando a cair e a algazarra dos pássaros anunciando a noite chegando. Da minha janela, uma criatura docemente barulhenta (periquito, maritaca, periquitinho, periquitinho-de-vassoura, periquitinho-santo, periquito-de-asa-azul, periquito-miúdo, periquito-real, periquito-rei, periquito-de-santo-antônio, periquito-de-são-joão, periquito-do-espírito-santo, periquito-santo, caturra, tuim, tuimaitaca, maitaca-de-cabeça-vermelha, bate-bunda, bate-cu, caturra, coió, coió-coió, cu-cosido, cuiuba, iú-iú, miúdo, quilim, tabacu, tapa-cu, tapacum, tiú, tuí, […]
O FANTASMA – Heraldo Palmeira
O FANTASMA – A imagem de abandono não lembra em nada o glamour que dominou seus ambientes suntuosos. Eu mesmo perdi a conta das vezes em que me hospedei ali, em viagens profissionais. Sempre gostei de andares mais altos e ali eles não faltavam, eram vinte e nove pavimentos. A vista era sempre deslumbrante, só […]
AUTORRETRATO – Heraldo Palmeira
AUTORRETRATO – O domingo amanheceu comum, aquela coisa preguiçosa de ficar na cama querendo parar o tempo um pouquinho para ele durar mais. “Deito mais tarde que devo E acordo antes do que gosto” Abri os olhos e a primeira sensação de que estava acordado foi lembrar do que me escrevera um amigo generoso, que, […]
ARCO DA ALIANÇA – Heraldo Palmeira
ARCO DA ALIANÇA – A cidade da minha infância e juventude tinha seus ícones particulares, como qualquer cidade. Aquelas figuras populares que todos conhecemos do cotidiano das ruas, com uma enorme falsa intimidade. Quando morrem, reviramos o baú do esquecimento até percebermos que perambularam na periferia das nossas vidas em certa intensidade e nada sabíamos […]
FELIZ PÁSCOA! – Heraldo Palmeira
FELIZ PÁSCOA! – Chega de coelhos que põem ovos, de chocolates deliciosos e super calóricos, de tanta coisa que deixa a verdadeira mensagem soterrada em segundo plano. Hoje, eu apenas lhe convido a ouvir a música, às vezes é muito melhor do que buscar palavras e sentimentos. Esta música vem espalhando alegria desde 1972 e […]
FRANQUIA DE ENTRETENIMENTO – Heraldo Palmeira
FRANQUIA DE ENTRETENIMENTO – Tenho andado nas empresas e me assustado com o que encontro para interlocução. Pessoas esforçadas, estressadas. Boa parte com formação sofrível, sem traquejo e projeto profissional de longo prazo – parece pouco provável que tenham algum para a vida pessoal. Quase sempre desanimadas, sem referências, levando a perguntas diretas: para que […]
AS DORES DO MUNDO – Heraldo Palmeira
AS DORES DO MUNDO – Eu estava no meio da Amazônia, acomodado na cama da pousada depois de um dia de trabalho exaustivo pela selva, quando uma amiga querida me ligou chateada com problemas pessoais, relação amorosa morna e outras coisas comuns do cotidiano. Não aguentava mais a censura de todo mundo – ela pagava […]