CATUCA POR BAIXO QUE ELE “VAI” –
Depois da restituição democrática de 1946 (queda da ditadura de Getúlio Vargas), a história política nacional registra períodos distintos de convivência entre o Presidente da República e o vice da ocasião. Nereu Ramos, o vice do Presidente Eurico Gastar Dutra, teve uma atuação tanto quanto limitada aos protocolos dos respectivos cargos. No segundo governo de Getúlio (1951-1954), seu vice era o nosso Café Filho, que também manteve relações protocolares com a presidência, embora equidistante (naquela época a função do vice era substituir o chefe da nação e, também, presidir o Senado Federal).
Quando Juscelino Kubitschek foi eleito para comandar o pais (1956-1961), teve como companheiro de chapa João Goulart. Inicialmente causando receio, Jango logo se mostrou cordato com JK. Todavia não pôs freios no seu cunhado, Leonel Brizola e outras lideranças de seu partido, o PTB, em seus arrotos contra o Juscelino, ao qual continuaram a fazer críticas.
Quando Jânio Quadros se elegeu presidente, ele levou para Brasília uma crise anunciada. Jânio era o representante da quinta-essência da direita populista; Jango (eleito novamente vice) era o agente da esquerda, também populista. Jânio Quadros (1961) renunciou e o país viveu uma das muitas crises políticas de sua história.
No governo militar, os vice-presidentes eram escolhidos a dedo, pelos generais, almirantes e brigadeiros que compunham a junta governativa. Era de se esperar ausência de qualquer contratempo. Mesmo naquele ambiente de rigidez, houve momentos de acentuados atritos. Pedro Aleixo, o vice de Costa e Silva – o primeiro mandatário do país e o segundo governante militar –, que sempre se posicionou contra o prolongamento da anormalidade vivida na ocasião, tentou evitar a edição do AI-5 e, não só por isso, foi impedido de assumir a presidência, quando o titular foi afastado, em decorrência de um problema de saúde (sofreu um AVC-Acidente Vascular Cerebral, em 31 de agosto de 1969).
No último período do governo militar (1979-1985), governava o país o general João Baptista Figueiredo, e a vice-presidência era ocupada pelo político mineiro Aureliano Chaves. O maior enfrentamento deste com os militares deu-se quando, no exercício da presidência, recusou-se a expulsar do país dois padres dominicanos franceses (Aristides Camio e François Gouriou), integrantes da Comissão Pastoral da Terra, acusados de incitar invasões no sul do Pará.
Atualmente temos um presidente de formação militar e um vice general reformado, fato que poderia ensejar um clima de eterna lua-de-mel; para usar o linguajar do presidente. Mas não é bem assim. Nos últimos dias, o presidente anda bicando o vice, e esse nem sempre se alinha automaticamente com as ideias e atos de S. Excia.
Dois exemplos: Mourão, o vice, estava em convescote com Luís Roberto Barroso, ministro do STF e, por tabela, presidente do TSE, no dia em que Bolsonaro promoveu um triste desfile de tanque para intimidar o Congresso Nacional e, por tabela, o próprio TSF. Falando sobre as manifestações do 7 de setembro, o general vice (ou o vice general) disse que “isso aí tudo é fogo de palha. Zero preocupação”.
Corre em Brasília, a capital do país e, também, a capital nacional das fofocas políticas, um zunzum que está se tornando uma espécie de lenda urbana. Diz-se que, recentemente (não se sabe quando), uma faxineira do Palácio do Planalto foi presa e levada às dependências de algum órgão de segurança. Seu crime: enquanto lavava o chão, cantava algo subversivo. Qual era a música? Era a machinha “General da Banda”, sucesso no carnaval de 1950 – gravada originalmente por Blecaute, depois, por outros artistas, como Linda Batista, Elis Regina, Astrud Gilberto e Ney Matogrosso – cuja letra tem um refrão que diz: “Mourão, mourão; Vara madura que não cai; Mourão, mourão, mourão; Catuca por baixo que ele vai”. Até explicar que o “mourão” da música não era o vice-presidente, deu um trabalho danado.
Mas acho que isso é apenas mais um dos inúmeros mexericos brasilienses.
Tomislav R. Femenick – Jornalista e Historiador
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