“O que deve ser globalizado é a civilização, não o capital”. (Perry Anderson, historiador)
Estamos assistindo aos primeiros clarões da alvorada de uma nova era política.
Com a “marolinha” disparada lá na economia estadunidense atingindo em cheio a economia mundial; já há alguns anos, temos uma nova realidade político-econômica no Brasil, em toda América Latina e Caribe, como de resto em todo o planeta. Certamente, com nova lógica e novas relações entre os mesmos atores.
Diante desse quadro, o “remédio” adotado, até esta data, pelo PT governo, é ineficaz e em desacordo com a gravidade e abrangência da crise. E vai continuar, com o monetarista liberal conservador, Joaquim Levy (“o chefe da CIA na direção da KGB”). O maior equívoco tem sido a redução do IPI dos veículos. Implica na redução do FPM, um empurrão para a falência dos municípios. Um tiro no pé.
Sabemos que a crise não é meramente conjuntural, abala a estrutura do sistema. Neste sentido, (re) atualiza-se o pensamento marxiano “o limite do capital é o próprio capital”. Ou seja, está provado que a voracidade da ganância não pode ser deixada sem controles públicos, sob pena de transformar-se numa tormenta, na qual o risco de sucumbir ameaça a todos.
Em verdade, penso que nossos governantes, gestores, parlamentares e intelectuais, assim como, todos os homens de boa vontade, estão obrigados a repensar o nosso tempo.
Faz tempo que estamos pensando a partir do que já foi, e já não é mais.
Entendo que, neste início de Milênio, não estamos atravessando apenas mais um momento de turbulência. Estamos dentro do olho do furacão. Vejamos.
A história contemporânea nos levou ao término da onda industrial, à universalização da sociedade da informação (dominada pelo grande capital financeiro internacional), ao crescimento extraordinário dos fundos de previdência e aos lucros astronômicos das grandes instituições financeiras, fenômeno que fez explodir o estoque de recursos financeiros disponíveis, dos quais uma boa parte tem se destinado a perigosas especulações de curtíssimo prazo.
Falo do “capital volátil”. Um dinheiro sem pátria, ganancioso, sem coração nem coloração política, que quer ganhar muito e, se possível, muito rapidamente. Algumas fontes chegaram a estimá-lo em mais de 30 (trinta) trilhões de dólares. Com um poder diabólico.
Nada deste dinheiro é investido para aumentar a qualidade de vida, não há interesse em acabar com a fome, nem preservar o meio ambiente, nem desenvolver qualquer economia, além de ser incontrolável.
É a especulação pura e simples, a busca insensata do lucro máximo.
O atual sistema político e financeiro do mundo é, sob qualquer ângulo que se analise, insustentável. Um sistema que reproduz um padrão de desigualdade brutal, vitimizando milhões de seres humanos, condenando a população da vasta maioria dos países a uma existência física abaixo da linha da pobreza.
O que criticamos é o tipo de globalização produzida (hoje, sob hegemonia do capital financeiro, fundado na especulação), geradora de exclusão social, miséria, ignorância, violência, criminalidade, e crises.
E, pior, geradora do desemprego estrutural, com o desaparecimento de postos de trabalho.
Falo do monetarismo, uma política econômica assumida e praticada, de forma consciente, em detrimento do processo de desenvolvimento sustentável e includente.
A atual crise financeira, que pode transformar-se em uma grande depressão econômica mundial, escancara o fracasso da teologia do livre mercado global descontrolado e obriga, inclusive, o governo norte-americano, a escolher ações públicas esquecidas desde os anos trinta: presença do Estado – como indutor do desenvolvimento – na economia e na sociedade.
Ou seja, tudo indica que é preciso caminhar na direção da estrutura de um novo Modo de Produção, no qual o lucro não será mais o único parâmetro mas, isso sim, o mercado combinado com os valores de cada segmento social, fundado no conhecimento e na tecnologia, dialogando soberanamente com o Estado.
Resumo da ópera: estamos inaugurando um cenário inusitado para todos os aspectos da vida, afetando todas as dimensões da condição humana. É o fim de um ciclo.
À exceção apenas aqui do patropi, é claro. No Pindorama tropical, essa encrenca toda não passa de uma “marolinha”. Nada que o Bolsa-família e o Pronatec não resolvam.
Pois, sim!
Rinaldo Barros é professor – rinaldo.barros@gmail.com
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