CHUVAS DE PRIMAVERA –
A janela entreaberta deixara passar a fria brisa, enervada pelas águas chovediças que regam a primavera. O vento gritou pela espinha nua, acordando os sonhos encharcados de desejos. Era madrugada.
O gotejar lá de fora cantava o tic-tac do relógio que há tempos deixara de estar na parede da sala aqui de dentro; cada pingo respingava nas lembranças sonhadas de olhos cerrados, lábios molhados, corpos curvados. O tempo corria.
Pouco mais e já não haveria tempo para espreguiçar os sonhos e esticar as lembranças. O dia insistia em despontar no horizonte, chamando à vida. A companhia da madrugada dava lugar à loucura dos dias de solidão. A chuva caía.
Restara pular do descanso da noite para a ducha fria do dia, acordando o sagrado, vestindo-se de sombras, buscando as notas que regem a alma e protegem da insanidade humana. O dia amanhecia.
Lá fora, podia-se ver, lá de dentro, o pinheiro, as roseiras e a grama do pequeno jardim orvalhado pelas lágrimas que escorreram das lembranças sonhadas nas madrugadas. As flores brotaram das gotas de felicidades trazidas pelos ventos da primavera. O sol aquecia.
O VERDE ORVALHADO
Que as nossas almas
dancem o ritmo e a leveza
dos nossos sonhos
Que as manhãs sejam
jardins regados pelas lágrimas
das nossas saudades
Que o verde das folhas orvalhadas
pelas nossas lembranças,
seja o elo que nos une
Renovada pela força das águas
que brotam dos nossos olhos,
Enraizados pelas emoções que nos fazem bem.
Flávia Arruda – Pedagoga e escritora