A CIÊNCIA DA FELICIDADE –
A felicidade será arte, ciência ou obedece a uma tecnologia especial? Os livros de autoajuda, de elevada proliferação e nem sempre de boa qualidade, não têm conseguido convencer. O tema é antigo e sempre novo. Ninguém pode duvidar de que este é o principal objetivo do ser humano.
Os gregos da antiga idade já questionavam. O maior dos seus sábios, Aristóteles, não só conceituou a felicidade, mas também fez a sua aproximação com a ética e a política, ou seja, a felicidade deve conviver harmonicamente com a virtude e com o fazer o bem a outras pessoas. Daí, retiro a seguinte conclusão: nosso destino é ser socialmente útil e procurar ser feliz. Ninguém é feliz sem ser útil e nem é útil sem ser feliz.
Já em nossos dias, em palestra, o professor de psicologia da universidade de Harvard, Daniel Gilbert, dá razões da nossa estrutura cerebral no caminho trilhado para a felicidade. Lembra que há dois milhões de anos o cérebro humano quase triplicou a sua massa. Do Homo Habilis, nosso ancestral que tinha massa cerebral de 650g, para quase 1,5kg de hoje. A natureza nos deu não só um novo tamanho, mas também novas estruturas, inclusive uma nova parte chamada lobo frontal e desta o córtex pré-frontal. Este é também o responsável pelo simulador de experiência, semelhantemente o que acontece com os pilotos que aprendem a simular experiências para evitar erros na prática de aviões ou de automóveis. E isso é uma verdadeira revolução na atividade humana.
Daniel Gilbert registra exemplos curiosos da condição humana. Um deles: um homem que ganhou na loteria 314 milhões de dólares e outro que se tornou paralítico, sentiam-se igualmente felizes. Outro caso fornecido é o de Pete Best, o baterista original dos Beatles, que foi demitido. Muitos anos depois, sentia-se mais feliz como baterista de estúdios, como se estivesse com os antigos parceiros geniais.
Quando conseguimos as coisas que desejamos, sentimo-nos felizes. É uma felicidade natural. Todavia, é possível ao homem construir a sua própria felicidade. Às vezes, com pequeninas coisas, quase imperceptíveis aos outros.
Conheci João Basílio em Nova Cruz. Era um homem alto, forte, de musculatura desenhada, sempre vestido de mescla azul, (Dona Isabel), impecável. Para ser tão bem cuidado devia ser muito amado. Deficiente visual, os seus olhos eram apenas duas bolas esbranquiçadas e o seu sorriso era uma extensão do rosto. Um dia, perguntei a ele se era um homem feliz. A resposta foi surpreendente. “A minha casa fica em cima de lajeiro. Gosto de ficar sentado nele e alisar a pedra. Eu sinto prazer nelas e muitas outras coisas”. E concluiu: “elas não me sentem, mas sou um homem feliz”.
Parece-nos que os maiores obstáculos à felicidade são as nossas ansiedades e os nossos medos. A ânsia e o medo são repelentes da tranquilidade da alma. Creio também que é possível estabelecer um limite aos nossos medos. Winston Churchill afirmou, com toda razão, que o medo é uma reação e a coragem uma decisão.
Ricardo Noblat cita pesquisa pela qual 70% dos brasileiros consideram-se felizes e 9,3% sofrem transtorno de ansiedade. Dá para se pensar que apesar do povo brasileiro não estar bem, o homem brasileiro está. Lucas Vale nasceu com uma síndrome que não compromete o intelecto e nem o seu bom humor, dá-nos lição diária repetindo: “Eu não consigo ter preocupação. Agora é a hora de ser feliz!”
Se esta é a hora, vamos ter a coragem de exercitar a arte e a ciência da nossa própria felicidade.
Diógenes da Cunha Lima – Advogado, Poeta e Presidente da Academia de Letras do RN