CIRCUS MAXIMUS ET CIRCUS MINIMUS –
O Circus Maximus, na Roma Antiga, por volta do século IV a.C., representou um momento civilizatório da humanidade, quando os dirigentes do Império Romano conseguiram galvanizar as atenções de dominados e dominadores, ao publicizar que o Poder imanente dos vencedores deveria agregar os vencidos no contexto societário, e delinear os limites da cidadania romana e a escravaria.
Imagine-se que os gregos foram transformados em escravos de Roma, e passaram de magni a minores, na escala de cidadania.
O Circo Máximo foi o polo aglutinador das forças em convulsão social e amainou as rupturas dos meandros vivenciais desses povos, a esfacelar princípios filosóficos, de religiosidade e costumes, galvanizados pelo lema panem et circenses (pão e circo) que, pela gramática padrão latina, seria uma cacografia.
Este adágio provém do poeta Juvenal em sua obra Sátiras, por volta do século II d.C, que satirizava o povo romano por abdicar a escolha de seus representantes políticos, satisfazendo-se de comida e jogos de entretenimento apenas, vez que as corridas de bigas e atividades circenses aplacavam a plebe ignara. Décimo Júnio Juvenal (Decimus Iunius Iuvenalis), Lucílio, Horácio e Pérsio representaram o gênero satírico da época, quando o primeiro criou adágios que permaneceram no tempo, assim: Mente sã em corpo são (mens sana in corpore sano). Ousa alguma coisa, se queres ser alguma coisa. A “sabedoria é o segredo da felicidade. A vingança é a pobre satisfação das mentes pequenas. Eis o castigo mais terrível de um culpado: nunca ser absolvido do tribunal de sua consciência. A punição seguirá o crime.”
Horácio afirmava, por sua vez, que “em todas as coisas há uma medida” (est modus in rebus), pois da mesma forma que existe um circus maximus, também vamos encontrar um circus minimus, um verdadeiro circus mambembe, inferior, ordinário, reles, insignificante, de má qualidade, onde palhaços e hermafroditas insanos, artistas e trapezistas, animais bípedes e quadrúpedes, ao comando de ilusionistas, desfilam pelo picadeiro da vida com as suas idiossincrasias.
A norma é cogente e clara na nossa Pindorama, basta cumpri-la! Quais são os animais do Reino Animália? Aliás, desde 1758, que Carolus Linnaeus classificou para o mundo o Reino Animália, composto por seres multicelulares, eucariontes e heterotróficos, animais que não produzem seus próprios alimentos, a nutrirem-se dos dejetos do meio onde habitam. Legislação protetiva assim explicita: “Artigo 1º – Fica proibida, em todo o território nacional, a apresentação de espetáculo circense ou similar que utilize, ou tenha como atrativo, a exibição de animais de quaisquer espécies, domésticos ou silvestres.” (Lei 6.113/18)
A similaridade circense aos saltimbancos, atualmente, alcançou as raias da insanidade no Brasil com o advento do circus horroris senatorum, que faria corar os circos de horrores de Calígula, do incendiário Nero e do saltitante Imperador Claudius.
Aproxima-se a hora de baixar a lona deste circo!
José Carlos Gentilli – Escritor, membro da Academia de Ciências de Lisboa e Presidente Perpétuo da Academia de Letras de Brasília
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