COCÓ: O ALEGRE MENINÃO –
João Batista da Silva, de codinome Cocó; seu nome é envolvido, se completa e se confunde com o bom futebol potiguar praticado na década de 1960. Um menino humilde, roqueiro, admirado e “buliçoso” com a bola nos pés. Cria do bom time do Palmeiras das Rocas.
Conheci-o atuando no juvenil do ABC FC, já se destacando, não como uma promessa, mas, sim, como uma realidade; já vislumbrava um futuro goleador; brincava de fazer gols.
Logo cedo, foi alçado à equipe titular alvinegra na posição de atacante avançado, ora alternando como a ponta direita. Teve a felicidade de se juntar, na época, com o centroavante, oriundo do futebol paraibano: Delgado, um craque, de boa estatura, narigudo, exímio cabeceador e mestre nos lançamentos de longa distância; na minha opinião, o melhor centroavante da história contemporânea do time mais querido. Cocó esbanjava e sobrava ao seu lado. Conquistou em 1962 o penta campeonato pelo time alvinegro, sempre se destacando como um nato goleador. Fez parte, como legítimo titular de duas seleções do Rio Grande do Norte — 1959 e 1962. Defendeu as cores da forte e temida equipe do Nordeste, o Campinense Clube; atuou em vários times do interior paulista. Em solo potiguar, jogou ainda pelo América e Alecrim FC.
No início da década de 1960, atuando pelo Alecrim FC, fui convocado e emprestado ao ABC, para compor o elenco em excursão para São Luiz do Maranhão, Teresina e Parnaíba (PI). Foi quando pude sentir de perto, e ao seu lado, o quanto era trabalhoso para a defesa adversária marcá-lo. Era na verdade um matador, um velocista. Era só rolar a bola e tchau e bênção!
Na cidade de São Luís, fiquei com ele no mesmo quarto: dois promissores jovens atletas.
Certo dia, início da tarde, véspera de jogo, o companheiro de quarto se arrumou todo, vestiu um jaquetão surrado e disse que ia dar um giro. Estranho, esquisito, não? Cidade desconhecida! Sozinho, vê o quê? Mas tudo bem! Lá foi o nosso bom ponteiro e goleador conhecer melhor a terra, hoje domínio dos Sarney.
Toda a delegação ficou no hotel naquele bom bate-papo de costume. Veio o crepúsculo, a noite escureceu o dia e nada do nosso artilheiro chegar. A comissão técnica e o chefe da delegação se mostravam bastante preocupados e inquietos.
Por volta das sete horas da noite, o ambiente tenso, intranquilo, chega o nosso companheiro, muito calmo, lúcido e sorridente; a paz voltou a reinar no ambiente da delegação. Alívio total.
Subindo para o quarto em sua companhia, e lá chegando, pergunto: amigo, onde danado você estava até essa hora? Calmamente, se despiu do velho jaquetão e abriu os seus grandes bolsos, retirando lentamente pacotes e mais pacotes de algo bem protegido e de forte cheiro e falou: com isso aqui vou fazer muito dinheiro nas Rocas e deu aquele sorriso Colgate… Era muita maconha!
Berilo de Castro – Médico e Escritor, berilodecastro@hotmail.com.br
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