“COCO VELHO É QUE DÁ AZEITE…” –

A sabedoria popular é rica em adágios, que mexem com pessoas que já dobraram o “cabo da boa esperança” e estão na “pior” idade. Em contrapartida, os velhos revidam os gracejos, afirmando com convicção:
“Coco velho é que dá azeite”;

“A cavalo velho, capim novo”;

“À égua velha, cerca nova:”

“Maracujá só presta quando está murcho” (da música “Rela Bucho”, de Elino Julião);

“Panela velha é que faz comida boa” (da música “Panela Velha”, de Sérgio Reis);

Essas músicas engraçadas não deixam de conter uma homenagem ao pessoal “das antigas”.

Pois bem. Todo boato tem um fundo de verdade.

Eu era menina em Nova-Cruz, e presenciava uma antiga empregada da nossa casa raspar coco seco, já estragado, e levar ao fogo numa pequena panela, para fazer azeite e “hidratar” os cabelos encarapinhados. Era o “hidratante” caseiro que ela usava e por isso estava sempre com os cabelos alisados e lustrosos.

A jovem, afrodescendente, dizia que quanto mais velho o coco, mais azeite ela “apurava” no fogo”, para cuidar das suas madeixas. E o cabelo preto da empregava lustrava, de fazer inveja, com o uso contínuo de azeite de coco velho, de fabricação própria. Se o coco fosse novo, dizia ela que não servia, pois quase não dava azeite.

Sempre que ouço alguém se lastimando por ter entrado na “pior” idade, me lembro de Zefa, e repito o antigo adágio popular (de origem portuguesa), pra mim o melhor de todos: “Coco velho é que dá azeite.”

Quantas pessoas queridas partiram antes do tempo, deixando seus sonhos e amores, sem terem alcançado o progresso tecnológico, e tudo de bom que a vida continua nos oferecendo…É pensando nisso, que não ouso reclamar da passagem do tempo. O ideal seria que passasse mais devagar.

Dizer que o velho lembra rabugem, é uma ignomínia. Depende do “velho”, pois cada caso é um caso. Não foi em vão que Maurício de Sousa criou a figura do Cascão, que ensina a higiene pessoal às crianças. O idoso pode manter a mesma performance e elegância que teve na juventude, e alguns homens se tornam ainda mais charmosos na maturidade. Só não pode deixar de sonhar.

Nada é mais triste do que a morte de uma ilusão. Quando as ilusões se acabam, se pode continuar existindo, mas não se pode continuar vivendo.

A velhice, em si, é um estado de espírito. Nada de decadência, “enferrujamento”, ou frangalhos. A vida é uma dádiva divina, e o homem tem o direito de escolher entre viver com dignidade, sem querer competir com os jovens, ou tentar mascarar os anos, imitando os jovens e se tornando ridículo nos hábitos e escolhas.

O envelhecimento não é notado, quando se tem uma boa qualidade de vida, com saúde bem cuidada, alimentação saudável e cuidados médicos, a título de prevenção.

Devemos viver, como se cada dia fosse “O primeiro dia do resto da nossa Vida”(Título do romance de Kate Eberlem, encantador, revigorante e extremamente verdadeiro).

Devemos valorizar todos os momentos que a vida nos oferece, e aceitar com resignação, mesmo “aos trancos e barrancos”, as provações e percalços que encontramos pelos caminhos. A Vida não é o “ontem” nem o “amanhã”, mas apenas o “hoje”. Quanto mais nos chegarmos às pessoas queridas, incluindo-as na nossa vida, mais momentos de felicidade teremos.

Depois, de nada adiantará chorar sobre o leite derramado.

 

 

 

 

 

Violante Pimentel – Escritora

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