COISAS QUE EU VI, OUVI OU VIVI: A INAUGURAÇÃO DO CLUBE DA CAIXA ECONÔMICA E A SERENATA PARA GENIBALDO BARROS, EM PIRANGI –

Natal passou um período em que os acontecimentos sociais eram capitaneados pelos seus cronistas sociais, que conseguiam dar importância aos eventos promovidos.

Um desses cronistas, era o célebre J. Epifânio, conhecido pelas suas promoções e também por ser “assumido”, coisa não muito comum na época.

A sua coluna no jornal e o programa no rádio causavam medo aos socialites, pois, se algo lhe desgostasse, tornava o responsável, “persona non grata”.

Era, portanto, paparicado e bem pago pelos colunáveis.

A INAUGURAÇÃO DO CLUBE DA CAIXA ECONÔMICA, NO PIUM

Estando agora na época de veraneio e eu em Pirangi, me lembrei da inauguração do Clube da Caixa Econômica, no Pium.

A festa teve a assinatura de J. Epifânio e, pela sua importância e também pelo relacionamento social da Diretoria, se revestia num grande acontecimento.

A atração musical era Ivanildo e Seus Metais, da preferência do colunista.

A VINDA PARA NATAL – COMITIVA

Nessa época, eu tinha uma propriedade no Riacho Seco em Pureza/João Câmara e outra no Saco de Santa Luzia próxima à Rio do Fogo, para onde, normalmente, ia nas sextas feiras e sábados.

Fui convidado para a festa de inauguração do Clube da Caixa, que aconteceria no fim de semana e, apesar da importância do evento, o fato é que me esqueci do compromisso assumido e somente me lembrei no final da tarde.

Comunicação telefônica não existia, e, como não podia faltar, imaginei fazer uma presepada para “compensar” o atraso, inclusive “abrandar” a contrariedade da minha mulher, que eu sabia ter se arrumado para a festa.

E o que fiz? Me mandei de Rio do Fogo para Pirangi, trazendo comigo: dois cantadores de viola, Raminho, o meu “faz tudo” e mais Paulo Joca, o marchante, para que garantissem a segurança.

Neco Vito e Cristino eram os violeiros da comunidade de Rio do Fogo, de limitadas condições artísticas. Seus versos deixavam à desejar, mas, para o consumo local eram mais do que suficientes, porém não permitiam voos mais altos.

Passando pelo Pium, deixei os meus “acompanhantes” no bar do Clube da Caixa, autorizei o fornecimento de bebidas e comidas, e fui buscar a mulher, tomar banho e trocar a roupa.

A FESTA DE INAUGURAÇÃO

Passado pouco tempo, porém, já com o “baile” em andamento, cheguei de volta, e foi aquela gozação do pessoal, pelo fato de que, ainda hoje, “dizem” que tenho a fama de chegar atrasado.

Quando a Orquestra Ivanildo e Seus Metais fez a pausa costumeira, como estávamos na mesa do Presidente, falei pra ele: tenho dois cantadores de viola, que estão lá no bar, e poderiam preencher o vazio da parada da orquestra.

Ele, sem saber onde estava se metendo, achou a ideia “sensacional” e me autorizou chamar os “artistas”.

Levei-os ao palco e falei que faria sinal quando fosse para encerrar a “apresentação”.

Quando eles começaram a “cantoria”, provocaram um mal estar generalizado. J. Epifânio ensaiou um “chilique” e quase teve um acesso de loucura.

Eu não conseguia parar de rir.

Praxedes, que era da Diretoria, me pede, pelo amor de Deus, que fizesse com que eles parassem. Como eu tinha dito que daria o sinal para que encerrassem a apresentação, só faltei cansar os braços e eles nem se importavam.

Não tendo jeito, através do controle remoto, fui no palco e retirei os dois tocadores, evitando que Epifânio morresse de raiva.

Até onde pude acompanhar – pois acho que os dois já estão noutra – em Rio do Fogo, eles se vangloriavam de terem cantado para a alta sociedade de Natal, graças ao prestigio do Dr. Antonio Ferreira.

Quanto a “J. Pifa”, como eu não dava importância a esse negócio de crônica social, não tinha medo de que ele me apontasse a sua metralhadora giratória.

Sempre mantive com ele um relacionamento amigável e desinteressado. Quando ele se referia a nossa turma de jovens, dizia achar engaçadas as nossas brincadeiras.

Na época da semana santa me telefonava para que eu contribuísse com peixes e no inverno com milho e feijão verdes, para as suas doações às instituições de caridade.

Dizia-se grato a mim, pelo simples fato de que, quando Secretário de Planejamento da Prefeitura, ter lhe dedicado atenção para, através da equipe técnica, lhe oferecer – como aos demais moradores – orientação para a reforma de sua casa na Rua 2 de Novembro.

A SERESTA PARA GENIBALDO BARROS

Não posso deixar de falar na serenata que foi feita para Genibaldo Barros, que era Reitor da UFRN.

Não me dando por satisfeito com o “sucesso” na inauguração do Clube, para aproveitar a presença dos violeiros na praia de Pirangi, depois da festa, já de madrugada, inventei de acordar Genibaldo, com uma serenata pouco usual.

Ele, muito solícito, pois é um diplomata, além de mantermos um excelente relacionamento pessoal com ele e D. Lalinha, nos recebeu, no amanhecer do dia, com bebidas e até “tira gosto”.

Perguntando ao “violeiro” Neco Vito o que queria beber, escuta a “preferencia” do artista: uma “malsebia”, que era uma cerveja preta, que nem sei se ainda existe.

Genibaldo falou: aí amigo esse seu pedido é impossível de ser atendido.

Morrendo de rir, mandei tocar mais duas “cantorias”, como “saideira” e fomos embora.

Até hoje, Genibaldo, quando me encontra, ainda pergunta pelos violeiros de Rio do Fogo.

O RETORNO

Agora, a parte mais dolorosa.

Já de manhã, caí na real. Tinha que levar esse povo de volta para Rio do Fogo, depois dessa cachaça toda.

A estrada era comprida e esburacada e eu só imaginava como enfrentá-la, mas não tinha pra onde correr. Tomei a decisão e comecei a viagem.

Porém, quando cheguei em Natal, o sono bateu e vi que não teria condições de seguir adiante.

Mandei parar um taxi e negociei o transporte dos artistas e da equipe de segurança.

Como o motorista não conhecia, encurtei o tamanho e melhorei as condições da estrada, para conseguir que ele aceitasse a empreitada.

Entreguei o dinheiro do contrato para Raminho e me despedi da “troupe”.

Depois, tomei conhecimento do resultado.

O motorista, revoltado pelo comprimento e as condições do trajeto, resolve abortar a viagem, dizendo que não levaria o pessoal até o final do trecho contratado.

Raminho, que você não conhece, “puxa” a peixeira e ele, o motorista, de “bom grado” resolve cumprir o contrato.

Mas, terminou tudo “numa boa”.

Chegando na praia, providenciaram peixe e camarão para o motorista, lhe deram café, ovos, cuscuz e tapioca, e ele voltou para Natal satisfeito.

Graças a Deus, nunca mais vi essa figura.

 

Antônio José Ferreira de MeloEconomista – [email protected]

 

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores

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