COISAS QUE EU VI, OUVI OU VIVI: COISAS AVULSAS, NOTÍCIAS DO SERIDÓ –
MINHAS OCUPAÇÕES
Reconheço que, como diz Expedito, “ando um meio”, desatencioso com ele.
Porém, é plenamente justificável, uma vez que tenho me dedicado a concluir os trabalhos, para pôr em funcionamento o CHALÉ ALTO DO CRUZEIRO, sonho quase que desfeito, por esses tropeços da vida, mas que, agora, se tornou realidade.
Me orgulho do empreendimento, uma vez que, após me desfazer das minhas fazendas, resolvi investir na Serra da Borborema, na parte localizada no Município de Monte das Gameleiras.
O fato é que, agora, depois de me ver livre dos “olhos maus”, e da ganância, pude concluir as obras físicas, equipar os chalés com o que tem do bom e do melhor, e poder dizer, com alegria: venha conhecer a mais bela vista de Monte das Gameleiras, se hospedar em espaçosos apartamentos, e viver um clima rural, mesmo estando dentro do espaço urbano.
Já pensou o que é “tomar leite cru”, com conhaque, ao amanhecer o dia?
O REENCONTRO COM EXPEDITO
Quando estou nesse pensamento, o celular “toca”, e eu imaginando que são essas ligações para vender coisas, desligo.
Porém, pela insistência resolvo atender, e, graças a Deus, foi uma boa decisão.
Era Expedito, que tinha trocado o número do celular, pois, sua “ex”, estava lhe perturbando.
Ele fala: Dotô, tá cum raiva de eu? Lhi ligo e o sinhô num atende, e tombem, num me liga mais.
E eu respondo: Expedito ando muito ocupado, mas, reconheço que deveria ter tido tempo de ligar para você.
Afinal, para os amigos, sempre deve haver espaço nas nossas agendas.
Expedito, fala que isso é uma coisa que os tempos atuais estão provocando, uma vez que os filhos dele, nem sequer tem a preocupação de lhe mandar uma mensagem de “bom dia”.
Saber se ele está bem? Nem pensar.
Diz ele que chegou à conclusão, de que a morte, chega antes mesmo do dia final.
Vamos morrendo para as coisas da vida, e, já que vai acontecendo, o jeito, é ir se acostumando.
Afinal, é mais fácil, para os que ficam, não ter que sentir a falta dos que foram.
Para os que vão, não há do que se preocupar, pois a sua existência, já terminou, e lá na sua nova morada, a história é outra.
Eu falo: Expedito, vamos acabar com esses sentimentos nefastos e passar a conversar sobre coisas agradáveis, pois estamos há tempos sem trocar ideias e deve ter muita coisa acumulada para conversar.
É verdade, Dotô Antonio.
A VISITA
Expedito toma a palavra e diz: vô cumeçá pur um açunto qui o Sinhô, num magina.
Sabi quem têve aqui no Siridó, e vieru sumente prá comprá quejo de mantêga e carne de sol?
Foi Xuxa e Gilso Barro.
Cunversamo tanto e se rimos tanto, qui inda tô cum dô na bariga.
Gilso falô muito da Fazenda Alvorada, du sinhô, e sôbri o sêu vaquêro Bino Rosa, aquele do bigode grande.
Ele dixe, qui Bino tinha mais pôse, du qui condição de puxá boi, e contô sobri uns fátus acuntecidos.
Cada históra qui contava era um risadêro só.
Nas conversa, preguntei a Gilso, se era verdade que ele e o irmão atirava cum ispingarda de xumbinho, prá furá a batina de Padre Eimá.
Ele só si riu, e num dixe qui sim ô qui não, mais eu sôbe que a lavadêra istendia a rôpa do Padre, nos arame, perto do muro do quintal da casa de Gilso, e elis fazia essa brincadêra.
A pessoa qui mim falô, dixe qui a impregada butava a curpa nas traça e nus pôco banho, qui o Padre tumava.
Diso, dixe: Dotô. Se alembra daquela musga “vai de roda”, qui o sinhô mim falô?
“Tropeiro só fala em burro
Carreiro só fala em boi
Moça só fala em namoro
Velho só conta o que foi”
Só me alembrei du sinhô, cum as históras qui Xuxa contô, dos passado dele.
Si eu não subeçe das traquinage dele e tombêm de sua vida di vaquejada, tinha achado qui era tudo pabulage.
Ô homi prá contá históra!
Inda dixe qui atirava de revolver pelas boca das garrafa, prá tirar os fundo, e nem batia nas bêra.
E tem mais. Cada históra, era muita risada e uma dóse de uísque.
Ói Dotô. Eu num pudia perdê a veis di preguntar pêla queda de Xuxa dentro da fóça, e ele num negô.
Dixe que a casa da namorada tinha um quintal tão grande, qui paricia um sítio. Entonce, di noite, prá fazer um “sarro”, as iscundida, pulô o muro.
Comu num cunhicia o terreno, saiu cascaviando pêlo iscuro, e cem sabê, pisou na tampa da fóça, qui si quebrô, e ele terminô caindo dentro.
Cum o barulho, us cachorro si acordaro e ele coreu feito um doido de vorta, prá pulá o muro, e iscapô fedendo, de levá umas murdida.
Ele dixe, qui foi fedendo mermo, pois foi prá casa, todo melado de bosta e pasô bem uma sumana sintindo a catinga nas venta.
Foi um papo, muito bom. Pena, qui demorô pôco.
Si êlis num tivesse qui viajá, inda tava contando históra.
Pois é, Expedito. É assim, que a gente vive, se lembrando do passado.
Infeliz daquele que não tem do que se lembrar, e, muito menos o que contar.
OS AMIGOS CAÇADORES
Dotô, eu tombém num fiquei prá tráiz.
Aproveitei prá contá históra aqui du Siridó, e logo, de caçadô.
Lá vai a premêra.
Uns amigo, gostava de caçá, mais, bebia mais cachaça du qui caçava.
Comu paçaro pur uns pirigo, divido terem ficado bebos, pois bibida não cobina cum o uso di arma, resoveru pará de bebê nas inspedição de caça, e acertaro, somente levá cachaça pru caso de uma cobra picar alguém.
Na premêra caçada, cem bibida, quando istão di partida, viro qui um deles levava um sacu diferente, e perguntaro: Zé, di Maria di Emília, o qui você leva nesse saco?
Zé, pego di surpreza diz: tô levando uma jararaca, pois pode num aparicê ninhuma cobra.
COISAS DO REMÉDIO SEM COMPROVAÇÃO – O CHÁ DE BOSTA.
Dotô inda me alembro da ivermectina, qui os inimigo de Bolsonaro falava qui não arresolvia nada.
Tem coisa qui até a mente das pessoa aresolve, mermo cem tê a garantia da medicina.
Daí me alembrei da históra, de um caçadô dêçe grupo, qui tinha muito medo de cobra.
Como não iam mais levá cachaça, que fazia cum qui ele perdeçe o medo, quando bibia, ele pregunta o qui fazê, si uma cobra picace ele.
Um dos colega, na brincadêra, falô qui a solução era tomá chá de bosta. Aí, ele dixe, qui prifiria môrê.
Entonce, os amigo prepararo uma presepada, cum uma grande vara e dois alfinete na ponta.
Já escuro da noite, quando ele saiu da baraca pra fazê as nicissidade, déro uma ispetada nele, cum os alfinete, correro e fizero di conta qui mataro a cobra, qui já tava morta.
Então, falaro: cumo num tem cachaça, o geito é fazê um chá de bosta.
Nu inicio, ele num quis, e arrepunhôu, mais adespois, cum a sugestão do pirigo de morrê, aceitou tomá o remédiu.
Então os amigo ficaro cum pena e cumeçaro a adiar a providença, e ele, insugestionado, cumeçô a tê até febre.
Cumo istava demorando, ele pregunta: e o chá?
Recebendo como resposta qui ainda ia demorá, improra: “intão, me dê um pedacinho pra eu ir mascando”.
Veja, como são as coisa.
É mais ou meno o qui nois estamo isperando no Brasil.
É verdade, Expedito. Não é possível ver qual solução será encontrada para nos livrar da desgraça, e o eleitor, que votou errado, vai ter que aceitar qualquer coisa, na tentativa de se ver livre do problema que ele mesmo criou.
Os otimistas, dizem que não vai demorar muitos para que os pobres venham a ter que comer bosta.
Dotô. Aqui prá nois. Pois eu sobe, qui a bosta vai fartá.
É mermo uma mizera.
Expedito, por hoje, vamos encerrando o papo, pois vou ter que ir ao Alecrim, comprar umas coisas que devo levar para Gameleiras.
Já que estou sabendo qual é o novo número do seu celular, quando eu estiver por lá, depois de resolver as minhas obrigações, vou lhe ligar, para conversarmos, mais devagar.
Tá certo Dotô. Inda tinha umas coisa do papo com Gilso Barro e Xuxa, pra contá, mais fica prá adespois, pois Cristina tá chegando, prá nois cunversá uns açunto, muito importante.
Como Expedito não desliga o telefone, ainda escuto seu assobio, e o grito “amozinho, amozinho, tô aqui! Já tava pensando qui você num vinha.
Antonio José Ferreira de Melo – Economista, [email protected]