COISAS QUE EU VI, OUVI OU VIVI: COISAS DA COR DA PELE –
COISAS DOS PRETOS AFRICANOS
Diante desse movimento que ocorreu após o sufocamento de um segurança negro, lá nos Estados Unidos, fiquei matutando sobre esse negócio de diferença racial no Brasil.
Quando menino, convivi com muitos pretos, e achava até interessante, identificar, nas enciclopédias, a procedência deles, que possuíam características diferentes, em função de suas origens tribais ou regionais.
Na formação da nossa raça e costumes, os africanos trouxeram contribuições valiosas, entre elas, à nossa cozinha, e ao nosso palavreado, devendo muito, também, à sua influência, na constituição do nosso ritmo musical e da nossa dança.
Nesse quesito, merece ser destacada, a “capoeira”, que é um misto de dança, música e artes marciais, e, embora tendo a sua prática proibida durante muito tempo, desde 2014, foi declarada Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade.
Na culinária, os africanos introduziram as panelas de barro e o leite de coco, embora os alimentos mais lembrados – quando se trata das comidas de origem africana – sejam aqueles da culinária baiana, preparados com azeite de dendê, e, que possuem sabor apimentado.
A feijoada brasileira – o prato mais brasileiro da nossa cozinha – foi criada pelos escravos, a partir da feijoada portuguesa, à qual foram acrescentados, os restos de carne, que não eram consumidos pelos senhores de engenho.
Com relação a religião e seus orixás, para fugir das perseguições, misturaram com a crença cristã, dando origem aos terreiros de Candomblé e, posteriormente, a Umbanda, surgindo, assim, a religião afro-brasileira.
NOSSA DIVERSIDADE RACIAL
Não há homogeneidade racial, em todo o nosso território.
Tá tudo junto e misturado, e, graças a Deus, vivemos muito bem, com a nossa diversidade.
Durante a nossa formação, pra começar, tivemos os celebres cruzamentos de preto com o índio, branco com preto, e branco com índio, que fizeram a base de nossa raça.
Eram os cafuzos, os mulatos e os mamelucos.
No século XIX, após a vinda da corte portuguesa, os portos brasileiros foram abertos para o comércio com outras nações, quando pessoas de qualquer origem, puderam se estabelecer no Brasil.
Dessa maneira, italianos, alemães, espanhóis, suíços, poloneses, e árabes de diversas procedências, vieram para o Brasil, trouxeram suas culturas e seus costumes, e aqui, se casaram, aumentando a mistura do caldeirão racial.
Já, mais recentemente, no século XX a imigração japonesa fez do Brasil a maior população de descendentes de japoneses no mundo.
E, AÍ?
DA FORMAÇÃO ATÉ OS NOSSOS DIAS
Dos degredados portugueses, das coisas dos negros africanos e do jeito manhoso e preguiçoso dos nossos índios, resultou o brasileiro.
Hoje, pelo processo de imigração, atraído pelas nossas belezas naturais e pelo nosso jeito de ser, veio tudo o que foi raça, para se misturar e resultou nesse sangue, que dança samba em qualquer ritmo.
Como querer falar em discriminação racial no Brasil?
Isso, são coisas criadas pelas universidades petistas, com os seus alunos profissionais e professores recalcados, apoiados por uma imprensa, que formou imagem baseada num sistema corrupto e corruptor, que comprava a formação de opinião.
COISAS DAS COTAS RACIAIS
Não sou estudioso do assunto, mas não conheço bons resultados, onde as cotas raciais foram adotadas.
É indiscutível, que elas dividem a sociedade, e isso gera ressentimentos e até ódio racial, naqueles que, em igualdade de condições, são preteridos.
Por outro lado, cria-se a dúvida sobre a competência do aluno cotista, que será sempre visto como uma interrogação, até que prove ser capaz.
Minha formação universitária data de 1969, e, portanto, já tem bastante tempo.
Naquela época o ambiente social e o ensino superior já tinham um grande percentual de componentes negros, o que demostrava que sua inserção era um fato concreto.
No Brasil, existem grandes dificuldades, para saber quem pertence ou não pertence a um grupo racial, face a miscigenação.
Pelo sangue?
Pela cor da pele?
Para essa avaliação, terminar-se-ia criando tribunais, para decidir se alguém pertence ou não a uma “raça”, com óbvias e injustas consequências, como ocorre na justiça do nosso País.
Vide STF, com os seus viés políticos e discutíveis comportamentos, que ferem as mais comezinhas relações com os princípios da honestidade.
Resumindo: as cotas raciais desestimulam a busca pela eficiência acadêmica e estimulam a separação do povo em grupos raciais, embora as pessoas gostassem de ser julgadas pelo seu mérito e não pela cor da sua pele.
COISAS DA MINHA INFÂNCIA, COM OS PRETOS
Como o meu pai me obrigava a chegar em casa, no máximo, às 10 horas da noite e também, como nunca dormi cedo, lanchava e ia ler a enciclopédia que ficava na estante do meu quarto.
Li e reli, sobre tudo, inclusive sobre os negros africanos.
Achava esquisito imaginar os parentes dos meus pretos conhecidos, sendo caçados nas matas, para serem vendidos, como um animal qualquer, e destinados ao trabalho escravo.
No meu mundo infanto-juvenil, convivíamos numa boa, e, havia sim, diferenças, uma vez que eram diferentes as classes sociais.
Os empregados e empregadas domésticas, se situavam em patamares diferentes dos patrões, como, ainda hoje existem, as naturais diferenciações entre patrões e empregados.
Nada diferente disso.
Nunca VIVI o racismo e o preconceito, e era comum que todas as famílias tivessem pretos no seu ambiente de convivência.
Lá em casa, tínhamos duas Marias. Uma era a minha mãe, que papai chamava, carinhosamente de “nega”. A outra Maria, que criou todos nós, obviamente, pela cor da sua pele, era chamada, também com carinho, de “Maria Preta”.
Isso, estava longe de ser considerada uma atitude marginalizadora ou racista.
Comíamos a mesma comida e bebíamos a mesma bebida, respirando o mesmo ar, que agora não respiramos mais, devido a pandemia.
Às vezes, era até natural que a gente preferisse comer a comida feita à maneira dos pretos da família, uma vez que os costumes deles eram diferentes, e o desconhecido sempre foi, e é, mais apetitoso.
Até hoje, sinto o gosto do pão molhado no leite de coco, colocado nas grelhas de ferro e assado na brasa.
Lembro demais, como era bom comer o “macaco”, que “Maria Preta” fazia, quando do seu almoço, amassando o feijão com a farinha, “apertando na mão”, como que fazendo um “boneco” de barro.
Outro dia, aqui em Gameleiras, onde passei a viver, fazendo o que “me dá na telha”, rindo comigo mesmo, “danei” farinha no prato e comi a carne de charque, o feijão e a farinha, fazendo “macaco”.
Depois, bebendo uma lapada de Cachaça Extrema, com limão, para fazer a digestão, como se fosse um “Contreau”, ria comigo mesmo.
Gameleiras me remete à minha infância.
Daí, cada dia mais, amar essa liberdade, na infância dos meus 75 anos.
Aqui não é a Pasárgada do poeta Manoel Bandeira, que dizia ter a “mulher que eu quero, na cama que escolherei”.
Aqui, eu tenho muito mais do que isso.
Aqui eu faço tudo o que eu quero, coisa inadmissível para os bobos citadinos, que imaginam possuir direitos, e esses lhes são negados, pelas restrições da sociedade.
Sem se tocar, vive-se na “cidade grande”, a escravatura social, independente, da cor da pele.
“Freud explica”.
SOCIEDADE PLURAL
Somos uma população harmônica e ordeira.
Não me venham com essa história de divisionismo entre brancos e negros.
Existe só um Brasil.
A nossa Constituição, atentando para as exigências necessárias à um regime democrático, contempla, o pluralismo político, no intuito de garantir a possibilidade de convivência das diversas concepções sociais.
Eu não me considero uma pessoa de pouca inteligência. Porém, convivi com muitos pretos, assim como brancos, que me deixavam perplexo pelas suas “tiradas”, pelos seus cálculos de resolução imediata e até pelas suas piadas, como qualquer ser humano dotado de inteligência privilegiada.
Porque os pretos serem beneficiados em cotas de vestibular, se eles são muito mais capazes que muitos brancos?
Isso sim, se chama discriminação.
As favelas tem predominância de negros?
Tem. Assim como o Estado da Bahia.
Tudo decorre da sua formação.
Na pirâmide invertida da riqueza, uma minoria de brancos tem a maioria dos recursos?
Sim, e tudo isso, decorre da sua formação, uma vez que no processo de criação da riqueza do País, eles se situavam no alto da cadeia, onde permanecem até hoje.
Numa possível pesquisa, tendo como base a riqueza, hoje, os negros teriam a mesma participação de há quarenta anos?
Não. Apesar de ainda se constituírem em minoria, sua participação, com certeza, aumentou muito, no período, diante do acesso natural a novos patamares econômicos.
Isso, são coisas do processo social.
Os brancos da favela se constituem numa classe superior aos negros da favela?
Não. Há uma equivalência, decorrente da constituição de uma classe social, estratificada pelas condições socioeconômicas, que possuem em comum.
Em suma, as diferenças de classe, sempre existirão e não serão apenas, “coisas da cor da pele”.
O TANGO DOS NEGROS
Estou concluindo esses escritos, e já querendo entrar num parafuso, diante das dificuldades do tema, quando recebo uma ligação telefônica.
Diga quem foi que ligou?
Ora, ora, foi Expedito, que há dias, não me ligava.
Perguntando o que eu estava fazendo, repeti para ele os termos do meu artigo, sobre as coisas da cor da pele, a
importância do negro africano na formação da nossa raça, “etcétera e tal”.
Quando acabei de relatar as minhas observações, Expedito cai na risada, e eu não entendi o porquê.
Quando parou o acesso de riso, ele disse: “Dotô”, tem muito mais do que isso, e não é somente aqui no Brasil.
O “Sinhô num” sabia, que foram os negros africanos que inventaram o TANGO?
Eu falo: como é Expedito?
Não me venha com essa. O tango é a mais argentina das danças argentinas.
Então, segue ele com a sua teoria.
“Dotô” Antonio, é por isso, que, as vezes, é bom morar no sítio.
Embora não sendo “iletrado” aprendo as coisas que os que sabem, me ensinam.
Outro dia, recebi uma aula sobre coisas dos escravos africanos, e ouvi o seguinte: Os “negos” africanos, que também foram escravos na região da Argentina, tocavam no tambor, durante suas cerimônias, um ritmo trazido da África.
Segundo dizem, chamavam isso de “tangó” ou “tambó”.
Depois de abolida a escravatura, os “negos” se reuniam para executar suas danças e cultos, e os locais eram chamados de “casa de tambó” ou “casas de tangó”, que depois virou tango.
O sinhô sabia que quem dançava eram dois “machos”?
“Apois era”, e, por conta disso, é aquela expressão da cara virada, “pra os dois que dançam”.
Olhe, aqui “prá nóis”, faz muito tempo, que eu desconfiava daquelas “rabanada”. Um jeitinho, assim, meio “instranho”.
“Mais”, deixa isso pra lá.
Sabe porque na Argentina tem pouco “nego”?
Foi porque fizeram um trabalho de “embranquecimento”, para o “apagamento da raça dos pretos”, mandando eles para as guerras, para que morressem por lá.
Pode ter certeza.
Depois, acharam pouco, e, os poucos que restaram, receberam ofertas de facilidades, para irem embora.
Pra não me “istirar muito”, só quero dizer que, lá pelos meados de 1800, inventaram que o tango argentino tinha sido trazido das “Europas”, e, de lá pra cá, venderam isso para o mundo.
Segundo uma jovem amiga minha, isso aí, sim, é que é, uma verdadeira “apropriação indébrita”, e uma mostra de preconceito e racismo.
Conclui ele, no seu entusiasmo.
Tá certo, Expedito, digo eu.
Suas observações me ajudaram a concluir esse artigo.
Vou ter que encerrar o papo, e fico muito agradecido pela sua contribuição.
Até a próxima.
Antônio José Ferreira de Melo – Economista, [email protected]