COISAS QUE EU VI, OUVI OU VIVI: COISAS “DA PÁ VIRADA” E OUTRAS COISAS DOS NOSSOS DOIDOS – Antonio José Ferreira de Melo

COISAS QUE EU VI, OUVI OU VIVI: COISAS “DA PÁ VIRADA” E OUTRAS COISAS DOS NOSSOS DOIDOS –

 

DA PÁ VIRADA

Nem sei, se essa expressão é nordestina, porém, durante a minha infância, escutei muitas vezes.

Sempre que se queria fazer referência a alguém, não muito dedicado às coisas ordeiras, dizia-se ser ele, “da pá virada”.

Na verdade, segundo pesquisei, o título pretendia, como significado, um instrumento inútil, sem serventia e era utilizado para designar indivíduos vadios, sem ocupação, que não trabalhavam e, da mesma maneira que uma pá virada, não serviam para nada.

Segundo “Seu Guga”, que é assim que, na brincadeira, chamo o Google, de acordo com o historiador Luís da Câmara Cascudo, a expressão é brasileira, e, provavelmente, surgiu no século 19.

 

DOIDO VARRIDO E O DOIDINHO

“Doido varrido” é um termo que classifica alguns tipos de pessoas que não “giram” bem, destoando da média dos também doidos, que vivem aqui entre nós.

O nosso matuto nordestino, no seu palavreado próprio, chama de “doido barrido”.

Explicam, os mais entendidos, que um “doido varrido” é uma pessoa que não tem vergonha, ou que perdeu o juízo, e é considerado um tresloucado.

Um “doido varrido”, já atingiu o nível de completamente doido, chegando a ser um desavergonhado.

Já o Doidinho, não é porque seja pequeno. Ele, é apenas um pouco doido.

Eu até acho, que é uma forma carinhosa de adjetivar aquele que perdeu a razão e possui distúrbios mentais, muitas vezes, motivado por coisas simples, e até, desilusões amorosas.

Na verdade, o doidinho é apenas um insensato, que demonstra, claramente, as suas extravagâncias, até de contentamento ou de descontentamento e raiva.

O LOUCO

É normal, pensar na loucura, apenas como um comportamento de perda da consciência, para a convivência social.

No entanto, o comportamento de alguém, descontrolado pela paixão, também pode se equiparar à loucura, que o leva ao arrebatamento, por estar fora de si.

O louco, no entanto, é aquele que perdeu a razão e apresenta fortes distúrbios mentais.

É um maluco, com comportamentos absurdos, e que se contrasta, ao que se mostra razoável e de bom senso.

DOIDO DE JOGAR PEDRA

“Doido de jogar pedra”, seria outra classe ou até a mesma classe, porem de comportamento diferente, uma vez que, incomodado assumiria atitudes beligerantes, utilizando o que melhor lhe viesse, à mão, para atacar, preferencialmente, pedras.

Na minha infância/juventude, conheci alguns que “pegavam” quando lhe chamavam por apelidos, que não eram do seu agrado.

Quem da minha época não se lembra de Nestor, que não sei porque, detestava quando alguém lhe pedia fosforo?

Certa vez, numa bodega que ficava na Rua Açu, um desconhecido do problema, compra um cigarro, pois na época se vendia cigarro “a granel”, e pergunta a um dos meninos presentes se “tinha fogo”, para acender.

Por molecada o menino aponta para Nestor e diz, quem tem fósforo é aquele senhor.

Ao se dirigir a Nestor fazendo a natural pergunta, se ele tinha fósforo, recebe uma forte pancada na cabeça, pois Nestor de posse do porrete que fazia peso no papel de embrulho, para ele não voar, provocou um grande “galo”, na cabeça do fumante desavisado.

No entanto, procurando uma explicação mais abalizada para a origem do termo, eis que surge uma justificativa para tal, decorrente dos tratamentos que os menos afortunados recebiam nos manicômios, caracterizados pelo excesso de comprimidos, que remetiam a pedras.

Daí “doidos de pedras”.

Pedras seriam os comprimidos.

MINHAS LOUCURAS

Dentro das loucuras dessa vida, me considero uma pessoa normal, pois ainda não senti necessidade de um psiquiatra, ou mesmo de um psicoterapeuta.

No entanto, prefiro não saber a opinião de alguns, a meu respeito, pois, segundo o ditado popular, “de médico e de louco, todo mundo tem um pouco”, e podem se aproveitar, para me classificar.

Como não conheço o comportamento de outros povos, que não o brasileiro, acho que esse ditado a nós, se refere.

Veja bem. Se você aparece com alguma doença, ou mesmo um sintoma diferente, sempre alguém tem algum remédio para lhe recomendar, seja ela “caseiro”, ou mesmo “de farmácia”, que alguma pessoa, com sintoma semelhante, já tomou e ficou bom.

Por outro lado, quanto a loucura, tenho exemplos de pessoas, que, no normal, são conhecidas, como tendo postura séria, atenciosa e prestativa, porem se algo lhes tira de sua zona de conforto, podem sair, totalmente, desse tipo de comportamento, e assumir condição até de agressão.

 

O TRANSTORNO BIPOLAR

Muitas vezes, determinadas pessoas que conheço, assumem uma espécie de loucura, que pode levá-las a serem classificadas como possuidoras de transtorno bipolar.

Digo isso, porque é comum, encontra-las em estado depressivo ou eufórico.

Uma delas, sem muita explicação, muda de ânimo e se refugia em casa, quando, nem a barba tira, lhe dando um aspecto dos mais depressivos.

Não adiantava tentar convencê-lo ao contrário, alegando coisas lógicas. No entanto, uma boa notícia, que lhe leve a imaginar sucesso, numa atividade de seus conhecimentos e que tenha prazer em realizar, lhe faz ressurgir das cinzas, abruptamente.

 

TOC – TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO

Essa semana estive conversando sobre depressão e sua alta taxa de incidência, nos dias atuais, devido as alterações de comportamento que limitam a interação no meio social de sua origem ou vivência.

Hoje a ansiedade é um mal que permeia todas as atividades, fazendo com que o indivíduo se sinta em desarmonia com o sucesso dos seus colegas e assim se considere diminuído e sem esperança de sucesso.

A vida moderna, e sua rotina, tem companhias de efeitos deletérios, como sejam, o popular estresse e a fadiga.

Isso, reflete nas atividades diárias e traz problemas, que, dependendo do peso que lhe seja atribuído, atingem a categoria de insanáveis, por confundir emoção, distúrbio e sentimento, com depressão.

Procurando voltar no tempo, até a minha infância e juventude, não consigo me lembrar de alguém que com pouca idade, pudesse ser classificado como depressivo.

Quando podíamos assim classificar alguém, seria por um motivo extremo, até superior à perda de um ente querido, sempre considerada, como coisa natural.

Mesmo assim, eram coisas que se denominavam, como “coisas da vida”.

Lembro de um doidinho que ficava a repetir a expressão “nem terra nem dinheiro”.

A história que era trazida, dizia que o mesmo tendo problemas relativos a uma propriedade que recebera de herança, foi enganado por um advogado, que lhe fez assinar uma procuração, para que resolvesse as pendências.

O fato é que de posse da procuração, o advogado se apossou do imóvel.

Como resultado, lhe provocou um grande problema econômico e financeiro, resultando num distúrbio mental, que lhe obrigava a recordar e concluir pela sua atual situação, fazendo com que repetisse como uma cantilena: “nem terra, nem dinheiro”.

O MUNDO DOIDO DO BAIRRO DA RIBEIRA

Quando ainda menino, meu pai me levava para o escritório, com a finalidade de me “tirar da rua”, e me fazia trabalhar para ocupar meu tempo e me ensinar a ter responsabilidade.

Lhe agradeço, e muito.

Então, convivi com um mundo diferente daquele que me permitia jogar bola durante o meu tempo disponível, ou mesmo, praticar traquinagens, tipo “roubar” manga nos quintais, “mironar” as vizinhas tomando banho nuas no quintal, ou até, mantendo algum tipo de “romance” com as empregadas, que eram as nossas iniciadoras nos assuntos do sexo.

Aí, conheci figuras, cujas imagens se perpetuam na minha lembrança.

ZÉ AREIA

Zé Areia, que faz parte do folclore da nossa cidade, com ele, tive a oportunidade de conversar e rir de suas “tiradas” inteligentes.

Meu pai, não era muito de participar de suas presepadas, mas eu convivia com o seu humor nas ruas da Ribeira, em especial, na Dr. Barata, Frei Miguelinho e Tavares de Lira, quando ele, puxando um carneiro, oferecia a sua rifa.

Era muito correto com quem era o sorteado, entregando o premio. Porém, sempre havia a reclamação, de que o carneiro rifado era maior que o resultado da rifa.

Ele justificava que era por conta da chuva, que tinha molhado o “pelo” do animal, e, por conta disso, ele parecia menor.

De doido, Zé Areia, não tinha nada.

O CONDE

O Conde, realmente, tinha “um parafuso a menos”.

De gestos elétricos, o Conde se dizia dono de tudo o que tinha importância na Ribeira, começando pelo Banco do Brasil e terminando na Cooperativa de Dr. Aldo, sem falar nas maiores casas comerciais, onde os donos eram seus empregados.

SEVERINA A EMBAIXATRIZ DO BRASIL

Já na fase adulta, conheci outras figuras que se fazem presentes na minha lembrança.

Uma delas é Severina, que andava com uma faixa, lhe intitulando como a “Embaixatriz do Brasil”.

Ela, possuía um comportamento que me deixava em dúvida, sobre a sua “falta de juízo”, pois, apesar de, na sua sandice, se dizer irmã da Rainha da Inglaterra, sabia muito bem o que fazia.

Um fato merece ser contado, para caracterizar seu “discernimento”: na recepção do gabinete da Secretaria do Planejamento, trabalhava Cristina, uma jovem muito bonita, e da qual, ela gostava muito, sendo a sua preferida, para casar com o Príncipe Charles, seu sobrinho, filho da Rainha Elizabeth II.

Carlito Meireles, com a sua maneira “irrequieta”, quando Severina estava presente, fazia de conta que se interessava pela jovem, e falava até na data que queria se casar.

Ela escutava tudo em silêncio, e quando Carlito se afastava, dizia: minha filha, tenha cuidado com esse rapaz. Não se encoste em arvore que não dá sombra.

Sem dúvida, uma orientação muito própria, de alguém em perfeitas condições mentais.

Antonio José Ferreira de Melo – Economista -antoniojfm@gmail.com

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
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