COISAS QUE EU VI, OUVI OU VIVI: COISAS DA VIDA, SURPRESAS E OPORTUNIDADES –
Fala-se que a vida é uma caixinha de surpresas e se diz que as oportunidades são como um cavalo que passa selado. Você monta ou perde a vez.
Outro ensinamento é ter a paciência da espera e a visão da surpresa.
Muito cedo da vida comecei a aprender o que é trabalhar.
Admitamos que não foi por querer. Foi coisa meio que forçada, mas, quem sabe, foi uma grande oportunidade que a vida me deu.
Chegava do Colégio Marista, almoçava, às pressas, para ir jogar bola no quintal da casa de Dr. Dante de Melo Lima, pai de Sérgio Sapo, Monica, Gina e André.
A zoada dos peladeiros perturbava o sono “pós almoço”, do vizinho ao terreno da “pelada”, e ele foi enredar ao meu pai, que, para evitar a minha participação na perturbação, passou a me levar para trabalhar no escritório.
Como não havia o Estatuto da Criança e do Adolescente, que só foi aprovado em 1990, aprendi, aos 10 anos de idade, o que significava a palavra trabalho.
Antes, quando eu fazia alguma traquinagem, mamãe dizia: quando seu pai chegar do trabalho, você vai ver.
E o que eu via era palmada ou castigo.
Aos 18 anos, comecei a minha vida de trabalho, com carteira assinada, como funcionário da FUNDHAP – Fundação de Habitação Popular, depois fui para a COSERN e terminei no Planejamento.
Foi na Assessoria de Planejamento, Coordenação e Controle, que eu e mais uma turma, de pouca idade, formamos um eficiente grupo de trabalho.
Muito jovens, tínhamos uma relação afetuosa com o trabalho e também com as brincadeiras. No entanto, aprendemos, em serviço, a ter responsabilidade e fomos muito respeitados por esse comportamento.
Convivíamos com a decisão e participávamos dela.
Daí termos muitas histórias para contar.
Sem qualquer ordem, vamos lembrando:
Na COSERN, certa vez, fui despachar uns assuntos do setor de Contabilidade com um dos Diretores, Dr. Livino, um cara muito exigente e perfeccionista.
Enquanto ele telefonava, fiquei olhando um pequeno aquário que ele tinha acabado de montar.
Ao terminar a ligação ele notou meu interesse e perguntou o que eu estava achando da “sua obra”.
Com a minha sinceridade habitual, falei que estava bonita, mas que os peixes iam morrer.
A vaidade não lhe deixou ver a realidade e não levou em consideração a oportunidade da minha observação.
O aquário era redondo, os peixes iam nadar girando, iam ficar bêbados e morrer. Não deu outra.
No dia seguinte ele mandou me chamar e me esperou na porta. Antes que eu entrasse na sala, e visse o “cemitério”, perguntou o porquê do meu vaticínio.
Eu entendia bem do assunto, pois era um dos maiores criadores de peixes de aquário do Estado. Fizemos uma grande amizade.
Quase que diariamente saíamos para ver alguma novidade. A COSERN, era muito exigente, mas eu nunca mais tive dificuldades quanto aos horários.
Carlos Limarujo, meu amigo, que também trabalhava lá, dizia que eu estava me espelhando no livro “Como Vencer na Vida, Sem Fazer Força”.
Pura inveja.
O Governo de Geraldo Melo foi uma exceção na minha vida de trabalhador.
Como fiz campanha contra ele, os puxa saco pertencentes às “forças de ocupação”, não me davam o que fazer. Não me deixaram trabalhar.
No entanto, fui beneficiado pelas coincidências que nenhum governo me proporcionou.
Eu e Geraldo José da Câmara Ferreira de Melo, – a quem hoje tenho muito estima – à época somente tínhamos em comum, o tamanho e o sobrenome.
Não tenho eu o “da Câmara”. Porém, quando ele foi Governador o meu cartão do Banco do Brasil tinha impresso: Antônio José C. Ferreira de Melo.
Por que? Porque achavam que eu era irmão dele.
Não guardei o cartão, mas meu amigo Carlinhos Dantas, que era Gerente do BB, não me deixa mentir.
Estando “liso”, imaginei fazer um custeio agrícola no BB, agência de João Câmara, região onde ficava a minha fazenda.
Ao chegar na agência, tive logo uma desilusão.
Agricultores, escorados no balcão, reclamavam da demora na liberação do dinheiro, pois tinham feito propostas há 2 ou 3 meses e até agora, NADA.
O Chefe da Carteira, me manda entrar e indaga o que eu estava pretendendo. Expliquei meus desejos e ele chama um funcionário para “bater” a minha proposta.
Na época, preenchiam-se os formulários impressos, na “máquina de escrever” e as cópias eram produzidas com “papel carbono”.
Notei a excessiva atenção, do Chefe da Carteira, mas fiquei “na minha”.
Sem se controlar, ele pergunta: e o mano Geraldo?
Me fazendo de “doido”, laconicamente, respondi: vai bem.
SILÊNCIO.
Passa um tempo e ele volta ao assunto Geraldo, perguntando como está a negociação do Governo do Estado com os professores.
Tentando me livrar do “imprensado” e sem ver a hora de terminar a história da proposta, falei: mestre diga aí um negócio complicado, esses assuntos de governo.
Para o meu alívio, o funcionário concluiu a tal proposta e eu, já me levantando, perguntei se o dinheiro seria liberado “depois de amanhã”. Para minha satisfação ele falou: dois dias não dá, pois tem o processamento. Porém, sexta feira pode “passar cheque”.
Era uma segunda feira. Ao passar pelo balcão olhei para os coitados dos agricultores, que, por não terem parentes influentes, permaneciam lá, de plantão.
Ainda no tempo do Governo de Geraldo, fui detido numa blitz da Polícia Rodoviária Federal.
Tinha colocado o carro na oficina e peguei uma camionete da Construtora Meira & Meira, onde estava trabalhando, para me deslocar até minha casa.
A camionete, que estava “encostada”, era amassada, tinha um farol queimado, e as lanternas traseiras não existiam.
Enfim, tinha uma situação “pecuária”, como diziam os matutos.
Pelo retrovisor, vi o chefe da patrulha vindo em minha direção com um documento na mão, que era a minha carteira, que tinha sido entregue ao patrulheiro.
Chegando junto do carro, antes de qualquer observação, ele perguntou: como vai Geraldo? E eu respondi: vai lá com os problemas dele.
Continuando o “papo”, ele diz: também sou lá da região de Campo Grande – onde moraram os pais de Geraldo, na Fazenda Horizonte.
Dando sequência ao quase que monólogo, ele pergunta: o SENHOR também é de lá? E eu já sentindo mais segurança pelo tratamento de SENHOR, respondi: não, já nasci aqui por Natal.
Para finalizar, ele recomenda que eu faça os “pequenos” reparos na camionete e se despede mandando um grande abraço para Geraldo.
Situando: hoje, quem é proprietário no Município, continuando a história da família, é o meu amigo, engenheiro Geraldo Melo, Gereba, que prometeu me levar lá, para conhecer os açudes e as serras da Fazenda Belo Monte, mas, até hoje, não me levou.
Sem a pretensão de precisar dos favores de Geraldo, espero que ele se eleja Senador. O Rio Grande do Norte está precisando.
Antônio José Ferreira de Melo – Economista – [email protected]