COISAS QUE EU VI, OUVI OU VIVI: COISAS DE EXPEDITO – OS PRÍNCIPES –
O RETORNO DE EXPEDITO
Cheguei em casa, depois do aniversário de Sophia, filha do meu genro Luciano, e resolvi me deitar, ler um pouco, sem ligar a tv, pois tinha passado um bom tempo do dia, na cozinha, fazendo uma feijoada, de feijão enxofre, que Alvaro Nunes comprou para mim, lá no Alecrim.
Desde muito, não comia feijão enxofre, porque, há tempos, depois que o turismo trouxe a “feijoada carioca”, o Natalense passou a comer feijão preto, mudando nosso costume, com relação a esse “prato”, herdado dos negros africanos.
Não era tarde. Lá pelas 22horas.
Toca o telefone, e atendo, já escutando uma grande risada.
Sabe quem era? Expedito, e de bom humor.
Ele fala: já dormindo Dotô?
Respondi já. É porque agora, eu atendo o telefone, dormindo. KKKK
Como Expedito, às vezes, não entende as minhas brincadeiras, as minhas gozações, fui logo remendando.
Não Expedito. Estou relendo partes de um livro, que eu gosto.
E o Dotô ainda lê livro de colégio?
Não Expedito. Não é leitura da nossa escola, mas até deveria ser.
É um escrito sobre as maldades da política e como escapar delas, inclusive, fazendo maldades, se for necessário.
O qui é Dotô? É sobre o cão, o demônho?
Não Expedito. É sobre as formas de ganhar o poder e se manter nele.
O nome é “O Príncipe”, escrito por um sujeito muito inteligente e conhecedor das entranhas do poder, chamado Maquiavel.
Dotô já ouvi falá nesse principe. Num é aquele livro qui tem um príncipe piquinininho e tem umas arvore grande, igual aquela qui tem em Nisia Floresta? Qui tem até uma em Natal, qui é o baobá do poeta Diogenes?
Não Expedito. Esse livro que você está falando é “O Pequeno Príncipe”.
“O Príncipe” de Maquiavel, é outro.
Dotô, o sinhô sabe qui eu sou muito curioso. Dá pra me isplicar a diferença desses príncipe?
Olha Expedito. Não é uma tarefa fácil, mas eu vou tentar.
Vamos fazer o seguinte, já que eu não vou mais dormir agora, vou ali preparar uma dose de uísque, e volto já.
EXPEDITO E “O PEQUENO PRINCIPE”
Expedito, o livro, “O Pequeno Príncipe”, foi escrito, recentemente, nos meados do século passado, e embora classificado como uma literatura infantil, possui muita filosofia, que precisa ser muito bem explicada, para poder ser compreendida.
Tudo bem Dotô. Num pricisa ixplicá muito. Apenas num quero ficá inguinorante, pra quando as mininas da faculdade falá, eu pudê saber o qui é.
Tá certo. Vamos lá.
Tudo se inicia, quando o avião do autor cai no deserto, e ele encontra o principezinho, que estava lá, porque deixou a sua casa e abandonou a sua rosa, para viajar pelo Universo.
Na conversa entre os dois, o aviador conclui, o quanto as pequenas coisas são desprezadas, pelos adultos, pela perda da inocência e da fantasia, conforme as pessoas vão crescendo e se afastando da infância.
Por outro lado, o pequeno príncipe – que representa a infância inconsciente dentro de cada adulto, e simboliza sentimentos de amor, esperança e inocência – fica espantado com o comportamento adulto e com as suas incoerências.
Mais Dotô, num é qui é mermo? As veis, eu fico me alembrando dos meus tempo de minino, qui foi muito feliz.
Tinha passarinho, tinha preá, a gente caçava de baladêra e num era crime ambiental, tinha medo da “burrinha do padre” e outras assombração, tumava banho nú no açude, e outras coisa, qui hoje num pode mais fazer, ou purque é improibido, ou purque nois isquecemo.
Veja Expedito que coisa interessante que o livro diz: “só́ se vê̂ bem com o coração”. “O essencial é invisível aos olhos”.
Veja outra: “As pessoas são solitárias porque constroem muros ao invés de pontes”, se afastando das outras pessoas.
Já pensou, como isso é importante?
Ói Dotô. O qui mais se vê hoje é o povo reclamando da solidão. E adespois do viru chinês aí é qui se danou tudo.
O sinhô sabia qui, Du Carmo, a minha vizinha, quis se assuicidar?
Apois foi. Inventou qui tava abadonada e eu precisei fazer uns acarinhamento cum ela, pra ela se esquecer disso.
O problema, agora, é qui ela isqueceu o abadono, mais num isquece os acarinhamento.
Veja o que também diz o livro: “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”.
Isso, significa que o amor e a amizade, requerem responsabilidade, e, tudo isso, é o fenômeno de “cativar” alguma coisa, ou alguém.
Dotô, será qui é o caso de Du Carmo?
KKKKK. Aí eu não sei Expedito. Mas, pelo jeito, o “acarinhamento”, valeu.
Pra você, pode ter tido apenas uma consequência física. Para ela, pode ter tido mais sentimentos.
Olhe. O Pequeno Príncipe cativou uma rosa e por esse motivo tornou-se responsável por ela, cuidando dela, satisfazendo os seus desejos e caprichos.
Quando resolveu partir, foi porque estava irritado, e frustrado, com a vaidade e o orgulho da sua flor, e também, graças ao comportamento contraditório dela.
Isso, fez ele deixar de lhe amar, pois é preciso ter a certeza de sentir amor pela pessoa e de ser correspondido com o mesmo sentimento.
Nos seus ouvidos, ficou a despedida: “Eu fui uma tola. Enfim, peço-te perdão. É claro que eu te amo – disse-lhe a flor. Foi minha culpa não perceberes isso. Mas não tem importância. Foste tão tolo quanto eu. Tente ser feliz”.
Taí Dotô Antonio. Agora me alembrei de Zefa.
Veja bem. Zefa é um vivente qui gosta di tê pósse das pessoa, e é malagradicida. Mais eu, prá viver “numa boa”, fazia tôdas as coisa pra ela, inté qui eu cansei.
Apesar disso tudo, quando se separamo, ela inda disse qui eu também tinha cupa.
É isso Expedito. Esse comportamento, faz parte do ser humano, por não querer guardar consigo, a responsabilidade dos próprios erros.
O Pequeno Príncipe, pensava que sua rosa era única. Mas, quando ele viu, fora do seu asteroide, jardins cheios de rosas, concluiu, que ela não tinha tanto valor assim.
Porém, só encontrou a explicação, com a sabedoria da raposa, que lhe disse: “Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. Eu não tenho necessidade de ti, e tu não tens necessidade de mim”.
“Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás pra mim o único no mundo. E eu serei para ti a única no mundo…”
Pronto Dotô. Vortando ao caso de Du Carmo, prá terminar esse assunto: num hove um cativamento dos dois.
Expedito. Já vi que você compreendeu a filosofia do Pequeno Príncipe, com mais facilidade do que eu imaginava.
EXPEDITO E “O PRÍNCIPE”
Agora, Expedito, diferentemente do livro “O Pequeno Príncipe”, Maquiavel escreveu “O Príncipe” no ano de 1513, no século XVI, mas é atual, até hoje, e aqui, a história é outra. Não tem esse negócio de filosofia não.
“O Príncipe”, de Maquiavel, apesar de ter sido escrito há tanto tempo, suas ideias, que eram para a realidade da época, se adequam a qualquer situação da história da humanidade.
É uma visão realista, de como o ser humano, se tiver o conhecimento das ciências políticas, pode manipular o poder.
Expedito, me diga uma coisa. Você acha que é melhor que as pessoas que trabalham para você, lá no roçado, lhe amem ou tenham medo de você?
Dotô, olhe eu acho qui é as duas coisa.
Si gosta de mim, fais o trabaio com boa vontade. Sí tiver medo de mim, fais direito prá eu num mandar imbora.
Rapaz, você andou lendo “O Príncipe”, ou as meninas da faculdade lhe ensinaram.
Porém, Maquiavel diz, que, quando tiver que optar por uma das alternativas, é melhor um líder ser temido que amado.
Ele explica: “o amor é um sentimento volúvel e inconstante, e as pessoas podem, frequentemente, mudar sua lealdade. Porém, o medo de ser punido, é um sentimento que não pode ser modificado ou ignorado, tão facilmente”.
Vou dizer mais uma outra coisa que ele escreveu: “deve-se cometer todas as crueldades de uma só vez, para não ter que voltar a elas todos os dias… Os benefícios, no entanto, devem ser oferecidos gradualmente, para que possam ser melhor apreciados”.
No popular: “O mal se faz de uma só vez. O bem se faz aos poucos”.
Expedito, você já não me falou de coisa parecida?
É mermo Dotô. Falei sim. É assim qui amanso burro.
Quando ele num atende os insino, leva uma “burduada” ou uma isporada grande. Aí, ele num esquece, e quando vê a chibata ou a ispora, já fica quetinho, oiando de lado. Mais, todo dia, quando me vê com o “embornal” cheio de milho, vem cumê, na minha mão.
Ô Dotô, já vi qui esse homi, aí do livro, sabe das coisa.
Si ele sabe de tanta coisa, purque ele num era o Presidente?
Expedito, uma coisa é ter capacidade e oportunidade de conquistar o poder, outra coisa é governar. Uma coisa é ensinar, outra é aprender e executar.
É mermo. Eu qui sô ingnorante e érro muito, ainda dô conseio.
Eui tinha dito prá Manoel de Joquinha. Homi, tu tenha cuidado cum essa muié. Isso é muita areia pru teu camião. Ela, aprumada toda, cum 30 ano e ele cum 60. Sabe o qui deu? Ela fugiu cum um subrinho dele, levou o dinheiro, e dexou ele “cum uma mão na frente outra atrás”.
Sabe o qui ele fês? Matou ela.
É, meu amigo, já vi que você não precisa ler todo o livro, para entender a máxima maquiavélica: “os fins justificam os meios”.
Dotô. Será qui o Presidente Bolsonaro leu esse livro?
Acho que sim, Expedito, embora seu exército esteja sendo insuficiente para dominar o inimigo e se instalar no poder. O exército de dominação.
Para Maquiavel, “A dominação completa do novo território é necessária, com a eliminação do inimigo… mesmo que seja necessária a prática da violência e de crueldades, de modo a obter resultados satisfatórios”.
Apesar de tudo, acho que o Presidente sabe o que faz, e, talvez consiga vencer.
Maquiavel destaca a “importância da guerra para o desenvolvimento do espírito patriótico e nacionalista que vem a unir os cidadãos de seu Estado, de forma a torná-lo forte”.
Dotô, min diga mermo a cuma é qui Bolsonaro vai cunsiguí isso?
Os sinistro do stf é quem manda no país. Cuma eu vi na televisão, o Nhonho e o Batoré já consiguiro qui o stf, “tire a bunda de fora”, para a reeleição deles, na Camera e nu Senado. E aí?
É verdade, Expedito. No Estado Liberal, segundo um “Iluminista”, chamado Montesquieu, deveria funcionar o sistema de freios e contrapesos, para o equilíbrio dos poderes, o que não está acontecendo no Brasil.
Dotô, esse freio tá igual quando a gente vai na bicicreta e freia butando a sandalha japonesa no pineu, e esse contrapeso tá pió du qui a balança de Chico da budega, qui só dá prum lado. O dele.
Expedito. Sou obrigado a concordar com você. Estamos mesmo vivendo “de fato”, num verdadeiro “Absolutismo Judiciário”.
Talvez a persistência do Presidente consiga modificar isso, nesse nosso País, que é dominado pelo Poder Judiciário corrupto, e que, em conluio com o Poder Legislativo, também corrupto, encurralam o Poder Executivo, que pretende ser honesto.
Dotô, a solução é o povo.
Eu concordo. Talvez seja essa, a ciência política do Presidente, que demonstra a ausência da corrupção, a execução de obras necessárias e com orçamentos honestos, e uma política social equilibrada.
Talvez, tudo isso resulte numa política de convencimento, para que o povo acredite, sem que seja necessário se fazer acreditar pela força, como Maquiavel recomendaria.
É Dotô. Pode ser. Pode ser. Vamo aguardá.
Obrigado pelas ixplicação, e eu vi qui a diferença dos príncipe é grande, mais eu gostei dos dois livro.
O principezinho é mais aparecido cum as coisa da gente. Parece cum as coisa du serumano, mermo vivendo notro mundo.
Agora, o tá du Maquiavel, sabia das coisa do inferno da pulitica.
Acho qui intendi tudo, e agora vou drumir, imaginando cumo é qui Bolsonaro vai saí dessa.
Tá certo Expedito. Eu também estou com sono.
Até a próxima.
Antonio José Ferreira de Melo – Economista – antoniojfm@gmail.com
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